Nara Franco
02/10/2013 às 14:43
Oslo, capital da Noruega, é a cidade mais cara do mundo para visitantes. Uma pesquisa do site Tripadvisor - por sinal um ótimo guia de viagem - mostrou que no país onde são pescados os melhores bacalhaus do planeta, o custo é elevado para quem gostam de viajar: um hotel quatro estrelas, para dois, com jantar e drinks, sai por $600. Até aí, "morreu Neves", como diz o ditado, nada demais. A Noruega está na lista dos países que eu costumo chamar de "0 mundo"; ou seja, tão desenvolvido que não tem classificação.
Mas o interessante dessa pesquisa não é falar sobre o óbvio. Hoje, por exemplo, a Suécia cravou como o melhor lugar para se curtir a aposentadoria. Nada de novo (de novo). Com os nórdicos, não adianta competir. O surpreendente, porém, o relevante, o que é notícia nesses dados tão sem graça, é saber que cidades como Rio de Janwiro e São Paulo figuram entre as que mais demandam um bom dinheiro do turista. Como destacou a revista inglesa The Economist, São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente, são mais caras (acredite!) que Londres e Zurique.
Isso não me surpreende. Quem mora no Rio sabe o fardo que se carrega todos os dias. Um simples suco (acredite!) pode chegar a R$ 8 ou R$ 9, dependendo do bairro, localização e quantidade de "gente bonita".
A Economist pergunta: por que o Brasil é tão caro? Eu acrescento: por que o Rio de Janeiro é um absurdo de caro? Sinceramente, não entendo. Você pode dizer que aqui teve o Papa, a final da Copa das Confederações, sem falar no título de Cidade Maravilhosa, das musas e modismos. O problema é que tudo isso encheu. Encheu mesmo, sabe? Como jornalista e profissional de comunicação, sei que percepção e realidade nunca andam juntas: "à mulher de César não baste ser honesta, tem de parecer honesta", diz mais um ditado. Mas o Rio de Janeiro não só está parecendo caro, como está de fato caríssimo. Carésimo. Exorbitante. Pagamos impostos como londrinos e andamos em ruas que por vezes lembram o Afeganistão. Pois é: deu.
Existe o Custo Brasil e o Custo Rio. E como pesa esse último. Pesa no chope depois da praia, na própria praia, na comidinha, no petisco, no sanduba de pão francês com carne assada, no almoço de todo dia.
A pergunta da Economist devia ser: por que o Rio está tão caro? Reza a lenda que Barcelona, pré-Jogos Olímpicos passou pelo mesmo dilema. Até hoje, é um dos lugares mais caros da Europa. Mas lá, houve um boom econômico pós-Jogos que justificou (quase) tudo. E aqui? Bem .. aqui ninguém consegue alugar, comprar ou vender imóveis. Roupa? Só em Nova Iorque. Enxoval para bebê? Em Miami. Vestido de noiva? Miami. Tênis? Buenos Aires.E assim vai ...
Sem entrar no detalhes econômicos, do Custo Brasil, da inflação, até porque não entendo desse riscado, o que sobra é: o Rio de Janeiro do Rock'n'Rio, do Papa, da seleção brasileira, da Copa e de 2016, está massacrando os cariocas. Adoro essa cidade. Mas chega uma hora que tanto ufanismo, tanta propaganda, nos torna mais exigentes, cri-cris com o pobre cotidiano que não vemos na TV.
Na propaganda da Boa não tem língua negra na praia. Muito menos flanelinha. No gingado do passista, cadê o esgoto a céu aberto? Tem professor apanhando em pleno Centro da cidade?
Quando o chope era R$ 1,20, a gente até sentava na caixinha de madeira e ria da descontração carioca. Hoje, com a cerveja a R$ 7, garçons folgados, serviços de quinta categoria, banheiros imundos e preços exorbitantes, a gente para para pensar onde termina Londres (se é que ela começa) e chega o Rio de Janeiro.
Ninguém fala mais bem dessa cidade que o próprio carioca. E ninguém é tão desleixado com ela como o ... carioca. Aceitamos tudo, rimos de tudo, sambamos na cara da sociedade. Enquanto isso, o bolso vai ficando vazio, vazio. Desculpem a escrita ranzinza, o mau humor e não deixem de conhecer as belezas da Cidade Maravilhosa. A vida é assim, de altos e baixos. Mas ver tanto desmando, tanto descontrole, dá uma tristeza danada.