Nara Franco
17/08/2013 às 18:11
Não conheço Manaus. Mas dizem que por lá tudo é marcado antes ou depois da chuva. A agenda dos moradores e visitantes da cidade gira em torno deste fenômeno da natureza que, invariavelmente (todos os dias), dá as caras na capital do Amazonas. No Rio de Janeiro, não temos tamanha precisão metereológica. Aqui é capaz de no mesmo dia chover, fazer sol, ventar e bater 40 graus. Só que agora, para marcar reuniões de trabalho, compromissos particulares ou um simples chope com os amigos, é preciso checar a manifestação do dia para evitar engarrafamentos, confrontos com a polícia e vândalos.
Nada contra o direito de protestar. Acho justo, digno, democrático e republicano. Porém, chegamos a tamanha banalização, que não se sabe mais o porquê dos gritos de ordem ou das agressões. Você vê uma pequena aglomeração e já pensa: "outra manifestação".Logo pensa no melhor caminho para chegar em casa ou não perder um encontro importante. Só está faltando um palanque em praça pública o protesto do dia ou da hora. Com algumas exceções, o que se vê são cenas de lamentável depredação do patrimônio público. Quer saber? Perdeu a graça.
Tudo começou com o despertar do gigante que varreu o Brasil no mês de junho. Até aí, todos bateram palmas. Só que o gigante carioca parece não ter muito o que fazer. Enquanto os outros gigantes foram curtir suas vidas, o carioca foi acampar na porta do governador, jogar bombas em bancos, quebrar imagens de santos na praia. Virou bagunça.
Temos motivos para reclamar? Muito! A CEDAE é uma vergonha, o transporte público na cidade e no estado é sofrível, mas, sério, é para xingar as UPPS? A única política de segurança séria que o Rio de Janeiro viu em mais de 40 anos? Precisa, em meio a presença do Papa, jogar ao chão imagens sacras numa total demonstração de intolerância religiosa?
Fala mal da UPP quem não mora na favela. Na Rocinha, a procura por Amarildo é séria. Mas, quando no Leblon, jovens com bermudas e tênis de grife arrancam sinais de trânsito, quebram fachadas de banco e espalham lixo nas ruas, a gente se questiona para que serve esse movimento e o que ele quer.
É sempre bom lembrar que em 2014 teremos eleições para 1) deputado estadual, 2) deputado federal, 3) senador, 4) governador e 5) presidente. Os dois primeiros são de vital importância pois formulam leis. Ao invés de quebrar pontos de ônibus e lixeiras, que tal cobrar do seu deputado federal mais ações em benefício do estado? Ou ir para as galerias da Alerj ver o que o seu deputado estadual está fazendo?
Essa semana, 200 pessoas pararam a cidade. Deitaram na Avenida Rio Branco e deram um nó no trânsito. A CPI dos Ônibus é a Caixa de Pandora dessa cidade. Nada mais certo que a população faça pressão e exija um transporte de qualidade. Impedir o ir e vir dos demais cidadãos, contudo, ultrapassa o bom senso. Enquanto há gente séria nas galerias da câmara exigindo seriedade na apuração das maracutais das empresas de ônibus, um bando de imprestáveis destrói a cidade, incita a violência e não agrega nada ao bem comum.
Essa semana tive que espacar de duas manifestações e evitei ir a Laranjeiras. Olha, gigante, está na hora de você tomar seu café e ir trabalhar. Desse jeito, quem sofre não é o prefeito ou o governador, mas o cidadão comum que precisa cumprir com suas obrigações e compromissos.
Até onde vai o direito de protestar? Boa pergunta. Da mesma forma que Caetano Veloso perguntou "quem lê tanta notícia", levanto a bola: "quem protesta tantos protestos"?