Nara Franco
04/08/2013 às 15:34
Nunca, nem no mais remoto pensamento, pensei que um dia estaria cara a cara com um Papa. Pois é. Coisas que só a Jornada Mundial da Juventude pode fazer por você. No último dia 28 de julho, no Sumaré (onde hoje pode se ir sem medo graças a UPP, vale lembrar), residencia dos arcebispos do Rio de Janeiro, tive o privilégio de encontrar o Papa Francisco. Não lembro o que falei e sequer se disse algo. Não sou católica fervorosa, apesar de ter estudado em colégio de freiras e faculdade de padres.
Confesso, contudo, que pouco vou a igreja e frequento com mais fervor os centros espíritas. Mas ali, diante daquele "vovozinho" fofo, deixei tudo de lado e senti uma tranqüilidade enorme. Um acolhimento e uma simplicidade que nunca presenciei em sedes de governo, assembléias e câmaras.
A passagem de Francisco pelo Brasil, durante a Jornada Mundial da Juventude, evento criado por João Paulo II na década de 80, deu um banho na alma cansada dos católicos brasileiros. Vou além: revigorou a fé de todos aqueles que acreditam na religião. Inclusive na minha.
Nos últimos anos, fé no Brasil se tornou sinonimo de negociata política, intolerancia e distanciamento. As bancadas religiosas - de todas os credos - deixam o país no atraso em questões fundamentais como aborto, liberação das drogas e criminalização da homofobia, entre outros. MIlagre do Papa, talvez, Dilma ter sancionado a lei que permite a vítimas de estupro receber a pílula do dia seguinte.
Francisco, com seu discurso sereno, incrivelmente flexivel e humilde, nos fez refletir sobre o papel da igreja, da religião e da fé no nosso dia a dia. "Nao trago ouro, nem prata. Trago o que há de mais importante: Jesus Cristo", disse o Papa diante da presidente Dilma, que, em seu discurso, preferiu olhar para o próprio umbigo e louvar seu governo. Vergonha.
De 23 a 28 de julho o Brasil descobriu a Jornada Mundial da Juventude, um evento de números estratosfericos, de imensa civilidade e amor ao próximo. Com 3 milhões de pessoas na praia, Copacabana viu menos lixo nas ruas que durante uma noite de Reveillon. Somos porcos. Essa é a primeira licao. Milhares de pessoas cantando, orando, se divertindo e dormindo juntas, no frio, sem quaisquer incidente. Pessoas de 175 países. Viva a diversidade, a segunda lição.
Apesar dos primeiros erros de percurso, a JMJ seguiu adiante com Francisco recebendo presentes nas ruas, bebendo chimarrao, saindo do papamovel para cumprimentar idosos, tomando cafezinho em plena favela e pedindo que o brasileiro "nao deixe de colocar agua no feijao" quando o cinto apertar.
Mais que um evento religioso, a Jornada deixa para todos os brasileiros aulas de cidadania, simplicidade e atenção aos problemas do mundo que nos rodeia. Enquanto nossos politicos se viram para as vozes das ruas, o Papa pede que os jovens nunca percam o medo de se rebelar. Diga não, mude. A mensagem tem de ir além. Deve alcançar desde o mais alto governante ao mais humilde pároco. Esta na hora de pensar mais no póximo, ser mais tolerante, respeitar os idosos, jogar menos lixo no chão, deixar de lado a soberba e se aproximar do povo.
O Papa foi embora falando em saudade. Durante uma semana vivemos no ritmo intenso das agendas de Francisco, da sua simpatia. Naquela tarde de sol, no Sumaré, diante do mais importante integrante da igreja catolica, senti que estava na sala de casa diante de um amigo do meu avô. Foi reconfortante, simples, sem pompa. Foi sincero. E Francisco, vamos sentir mesmo muita saudade.