Tasso Franco
09/02/2013 às 18:35
1. É durante o Carnaval de Salvador que a pobreza da cidade se expõe de forma mais contundente e o que se sabe pela imprensa e pelos estudos acadêmicos e governamentais, vê-se, observa-se a olho nu, num laboratório impressionante para quem estuda as relações sociais. Salvador, todo mundo sabe disso, é a uma cidade pobre e a maioria da população dos seus quase 3 milhões de habitantes se insere na faixa de renda entre 1 e 3 salários mínimos. Há, ainda, uma faixa na linha da pobreza e um percentual de miseráveis.
3. Há de reconhecer, também, um esforço do governo federal com seus programas de ajuda (Bolsa Família e outros) e agora o Brasil sem Miséria colocado em movimento pela presidente Dilma. Ainda é pouco. Salvador tem 80.000 familias no BF e a Prefeitura pretende colocar mais 60 mil. É importante, mas, mais importante são os programas de treinamento, os cursos técnicos e a qualificação da mão de obra e o governo do estado tem colaborado.
4. O mais chocante no Carnaval, por exemplo, é o contraste entre jovens da classe média alta brincando nos trios e os pobres dando proteção, segurando cordas (vide foto). Essa é uma exposição nitida desse fosso dificil de ser reparado, muito mais do que essa reparação que se prega na Bahia em nome dos afrobaianos, pelo lado mais politico e racial. A questão é que, para que haja um nivelamente, é preciso muito trabalho, educação, geração de oportunidades e assim por diante.
5. Esses jovens e alguns adultos das cordas moram na periferia da cidade, a maioria no Subúrbio Ferroviário e no miolo (Barreiro, Mata Escura, etc) têm baixa escolaridade e suas familias só sobrevivem graças ao guarda chuva governamental nas três esferas - municipal, estadual e federal - pois dependem de escola gratuita, transporte, amparo à saúde e até de alimentação. Resolver essa questão passa além da demagogia e de estudo da história da África.
6. No Carnaval, os pobres estão também atuando como ambulantes descredenciados, vendedores de latinhas de cerveja e refrigerantes, catadores de latinhas, vendedores de churrasquinhos de gato e assim por diante. Estão por toda parte, nos circuitos, nas transversais e ladeiras, onde podem se acomodar. E, algumas dessas familias acampam e só retornam às suas residências na quarta-feira de cinzas.
7. Há ainda vendedores credenciados, alguns que já atingiram a classe C emergente, de bebidas em grosso, de barracas de melhor qualidade, de produtos carnavalescos e balas e bombons. No Carnaval há essa convivência pacífica entre todos: os ricos, que na Bahia são poucos, a classe média alta, a classe média, os pobres e os miseráveis e mais os atores governamentais.
8. E essa convivência, no Carnaval, não pode passar por repressão ou qualquer tipo de controle mais ordenado como querem e propagam algumas autoridades. Vamos com calma e respeitando a todos.