Tasso Franco
12/01/2013 às 11:06
1. O prefeito ACM Neto diz que para o Carnaval 2013 não será possível fazer mudanças e que, já na quarta-feira de cinzas, sua equipe inicia estudos do que poderá fazer em 2014. Estudos, análises, relatórios, pesquisas e tudo mais não faltam sobre o Carnaval e até seriam dispensáveis novos seminários e o que seja, pois, o que falta ao evento é vontade politica para mudar.
3. O Carnaval da capital adotou nos últimos anos um modelo mercantilista-midiático movido por muitos investimentos que se torna difícil para um gestor promover alterações substanciais. Pode, se quiser e acordar com os demais atores, processar algumas mudanças nos circuitos, valorizar o folião pipoca, incentivar manifestações culturais, mas, dificilmente alterará esse modelo em curso.
4. E, neste modelo, não escapa ninguém. As entidades de trio, os blocos afro, os afoxés (salvo rarissimas exceções), grupos de samba, blocos de índio, travestidos e outros embarcaram nessa canoa todo mundo querendo ganhar dinheiro num sistema de mando sem democracia. Todas essas entidades têm donos ou familias de donos e isso vem se perpetuando ao longo de anos, salvo um ou outro que ainda promove eleições diretas.
5. Vá fazer uma mudança no Ilê Aiyê ou no Olodum. Isso não existe. Vá mexer no controle do Eva ou do Camaleão. Daí, vê-se, a dificuldade que tem um gestor em ordenar, dar uma nova configuração ao Carnaval. A novidade que se esboçou no 2012 foi o projeto de Carlinhos Brown, do Arfódromo, e que se for efetiva, em 2014, mudará o eixo do Carnaval criando um novo circuito.
6. A ideia de se dar mais visibilidade aos blocos afros e afoxés nos circuitos atuais já vem sendo praticado há algum tempo, mas, essas entidades têm um rito próprio, mecanismos de aprontamento para os desfiles diferenciados e isso é bastante complicado. O Ilê, por exemplo, sai do Curuzu à meia noite percorre um trecho da Liberdade, desarma, e volta a armar na avenida na madrugada. Faz parte de sua cultura.
7. Levar um afoxé pequeno para desfilar no circuito Dodô (Barra/Ondina) será engolido pelos sons dos trios. A Barra camarotizou de vez na trilha de Daniela Mercury e é uma fila indiana, um trio atrás do outro. Bem, se Neto se dispuser, pode, em 2014, reservar o domingo para os blocos afros retirando os trios da Barra. Compraria uma briga dessa natureza num Carnaval com vultosos investimentos das empresas, interfaces com veículos de comunicação? Dificilmente.
8. A Barra também foi invadida pelos "Dendês no Sangue" personalidades famosas (baianas e outras) que só amam Salvador na época do Carnaval, tudo movido a dinheiro. Depois que o Carnaval passa vão embora com os bolsos cheios e retornam no ano seguinte. Mas esses camaradas são poderosos e têm força midiática e política.
9. Portanto, o desafio de ACM Neto é grande se, de fato, pretende modificar essas estruturas. Caso contrário, será o mais viável, fazer alguns ajustes e pronto. Deixar como se encontra, pois, independente de qualquer coisa, exclusões sociais, mercantilismo, etc, está dando certo e ainda é o único evento que tem algum destaque internacional da Bahia.
10. Lembrando, ainda, que o Rio e Recife estão na cola de Salvador e se houver bobeiras por acá, dançamos.