Um dia, meus conterrâneos de axé, o arquiteto Oscar Niemeyer estava lá em Brasília guiando mais uma turma de madames daquelas que não têm o que fazer, pelas suas principais obras. No Palácio da Alvorada – vocês não imaginam o tipo de gente que já morou lá -, uma dessas senhoras do mais fino trato perguntou ao imortal por que as colunas dele tinham aquela forma. De saco cheio, ele reproduziu com as mãos o formato da coluna e disse que era porque era igual a... isca de rim, lá do bar Amigos, na JJ Seabra, na Barroquinha, que a gente comia com Serra Grande Imaculada, limão e mel, entre uma matéria e outra do Jornal da Bahia, antes da Chama se Apagar.
“Posintão” – como falam correndinho os manezin da Ilha de Floripa, meu atual paradeiro -, foi quando descobri que o arquiteto de 104 anos era baiano. Porque comunista baiano é que gosta de isca de rim com Serra Grande - e na cama também, né mesmo, senhor editor?
Lembrei muito dele e de seu companheiro de ousadia Lúcio Costa, durante as eleições municipais deste ano. Da Bahia ao meu Goiás, passando por Floripa – e menos em Brasília, que não é nem tem município -, o que mais se falou nessas eleições foi sobre a tal mobilidade.
Até então, mobilidade para mim era o espetáculo das ancas das baianas subindo o Maciel de Baixo com seus penduricalhos acomodados na cabeça. Descobri que mobilidade é a capacidade do cidadão das grandes cidades de passar por entre os carros, em movimento ou não – e chegar vivo aonde quer que esteja tentando ir. A Brasília do arquiteto baiano não tem disso.
Ao contrário dos que, para parecer inteligentes, gostam de criticar as obras revolucionárias de homens revolucionários, Brasília foi feita para a gente andar a pé. E não adianta me xingar, porque ainda não escrevi o que vai me tornar um gênio revolucionário – por enquanto minha revolução é o meu bigode.
Esse povin costuma confundir a grande obra de JK, que foi inventar no Brasil a indústria automobilística, com Brasília. É um pessoal que usa o carro para ir à padaria ao lado de casa, e depois senta no buteco e pede um chopp para falar da saúde que está adquirindo nas academias – e reclamando que tem que levantar para fumar, fora do bar, com certeza encostado no carro de outro freguês.
Eu sei que Niemeyer vai sair daqui a pouco do hospital, falando que, com seus 104 anos, tem mais o que fazer, e por isso ele vai ter tempo para ler essas minhas bigodadas – até porque o editor vai aproveitar para fazer propaganda do portal e mandar a crônica para o nosso arquiteto mor.
Mas, para não cansar as vistas visionárias do mestre, encurto o papo com um dado: hoje, neste ano de 2012 quase acabando, se os moradores do Plano Piloto de Brasília – Asa Norte e Asa Sul – resolverem ir à padaria, no açougue, no buteco, no salão de beleza, na farmácia, a pé, andando, a gente tira das ruas da Capital de Todos os Brasileiros 20% dos carros em circulação.
Não acredita? Tira, então, seu cotovelo do balcão de Clarindo Silva, e dá um pulo em Brasília. Vá, veja e vê se para de falar bobagem. Homenageia o grande Oscar Niemeyer e, já que está lá perto, dá uma passadinha em Goiânia e se deleite com uma bela galinhada com Pequi, manjar dos deuses e orixás goianos.