INFÂMIA, DE ANA MARIA MACHADO, LIVRO A JORNALISTAS

Eduardo Balduino
19/09/2011 às 10:01

Foto: DIV
Infâmia foi editado pela Alfaguara/2011
Devo adverti que não faço resenhas de livros, não tenho essa competência. Mas, gosto de ler e, quando um livro me impressiona, gosto de falar sobre ele, de sugerir sua leitura a outros. Aliás, acho que esse é o meu segredo de você presentear com livros: dou o que eu gostei, não o que o presenteado possa gostar. Porque presentear com livro é o mesmo que eu estou fazendo agora, neste Bilhete, é sugerir uma leitura.

       
E "Infâmia", de Ana Maria Machado, me impressionou por vários motivos. Evidente ser muito bem escrito não deve surpreender a quem conhece a autora. Não é por acaso a mais premiada escritora infanto-juvenil do país: sabe, como ninguém, contar uma história, prender o leitor em sua narrativa: abri o livro na noite de sábado e terminei de lê-lo no começo da tarde do domingo.

       
Ana Maria Machado é jornalista. E escreve, em "Infâmia" (Ed. Alfaguara/2011), sobre jornalismo. Por isso, é um livro cheio de perguntas - o que me fascina desde que aprendi com Cristovam Buarque que as perguntas é que demonstram a inteligência, o conhecimento, a sabedoria, e não as respostas.

       
A crítica que ela faz ao jornalismo é exatamente a falta de perguntas... Mas, deixa claro que todos nós deixamos perguntas por fazer, seja por conveniência... ou por medo de sairmos de nossa zona de conforto.

       
A partir dos dramas pessoais dos dois grupos de personagens do livro, Ana Maria Machado nos leva a uma angustiante reflexão sobre nossa própria participação em um jogo nada edificante, onde todos querem manipular e são manipulados.

       
Manipulamos o jogo para não termos nossas fraquezas expostas. Temos nossas fraquezas expostas para sermos manipulados. Manipulamos para acobertar nossos crimes.

       
Sim, porque todos participamos desse jogo infame, no mínimo por omissão.

       
Em meio à angústia no mais perfeito estilo do existencialismo, Ana Maria Machado nos brinda com um personagem leve, a jovem acadêmica Camila e sua descoberta da vida real ao namorar um jovem músico de choro do subúrbio. Bem o Espírito do Homem, que somente se manifesta fora da literatura.

       
Mas, Ana Maria Machado surpreende como crítica da leviandade com que o "fast food" da informação trata e esquece e é levado a esquecer de fatos graves.

       
E fica a minha pergunta: qual recado que a irmã de Franklin Martins quer dar - se quer dar algum - quando cita como exemplo da manipulação dos fatos feita pelo Poder constituído e aceito pela imprensa os dossiês contra a ex-primeira-dama Ruth Cardoso e contra o então candidato José Serra?

       
Leiam e façam suas próprias perguntas. Vale a pena.