A CULTURA RELIGIOSA EM DAR NOME DE SANTOS A ESTADOS

Tasso Franco
18/05/2011 às 08:03
Foto: DIV
São Francisco de Assis tinha dom de dialogar com animais, em especial, os pássaros
  O Brasil só tem dois estados com nomes de santos: São Paulo (o apóstolo) e Santa Catarina (de Alexandria). Dois outros, a Bahia (corruptela do acidente geográfico baía, em tese reúne todos os santos - Baía de Todos os Santos); e o Espírito Santo, que significa uma das trindades religiosas (Pai, filho, espírito santo) representa a presença de Deus na forma experimentada por um ser humano.


  Agora, com a sonhada criação do Estado de São Francisco, em área contendo 35 municípios do Oeste da Bahia, se essa proposta for concretizada, este seria o terceiro estado com nome de santo.

  Nada a admirar no plano da cultura religiosa se isso acontecer porque faz parte da tradição colonial brasileira, santeira, católica e portuguesa, e também dos perídos do Império e da República, se denominar localidades com nomes de santos.

  Nos 415 municípios baianos todos têm patronos e/ou padroeiros santos, sendo que
11 constam diretamente com nomes de santas (Santa Bárbara, Santa Brígida, Santa Rita de Cássia, etc) e 14 com desiginações de santos (São Desidério, São Domingos, São Félix, Santo Amaro, etc). E, um deles, próximo da capital, homenageia São Francisco de Assis, com epíteto de São Francisco do Conde.

  Por posto, o padroeiro de Salvador é São Francisco Xavier, co-fundador da Companhia de Jesus (século XVI), em Portugal, e que não tem nada a ver com São Francisco de Assis, o patrono do Rio São Francisco.


  São Francisco de Assis se chamava Giovanni di Pietro di Bernadone e nasceu na Itália, em Assis, no medievo (1182) numa época conflituosa na Europa (cruzadas) sendo fundador da Ordem Franciscana (frades menores), um camarada obececado por combater os infiéis, o qual com 12 seguidores de estabeleceu no Vale do Spoleto, à margem do Rivo-Torto e em redor da Porciúncula, onde fundou seu centro e obra com permissão do papa.


   Dez anos mais tarde, em 1219, celebrou o famoso "Capítulo das Esteiras", o segundo da história da Ordem, e em que se contaram 5 mil religiosos. Espalhou emissários pela França, Espanha, Itália e Alemanha e enviou mártires para o Norte da África.

  Os 5 primeiros mártires chegaram a Marrocos como obreiros apostólicos (Berardo, Pedro, Othon, Adjunto e Accursio) e desafiaram o rei Miramolim. Foram presos e postos a ferro.


  O rei então exigiu que renunciassem "aquela loucura" da fé em nome do bendito Cristo e, de quebra, colocou umas escravas belíssimas para que os frades pudessem se deliciar. Mas, os frades, glorificados pela fé, não aceitaram a proposta e oferenda do rei.

  Daí que Miramolim brandiu a cimitarra (uma espada) e decepou ele mesmo as cabeças dos frades, que rolaram aos seus pés. Os troncos e os corpos foram arrastados pelas ruas e nasci, assim, os mártires da ordem franciscana.


  Por pouco, Fernando de Bulhões, depois frei Antonio (Santo Antonio, discípulo de São Francisco) não teve o mesmo destino, salvo que foi por uma tormenta que levou sua embarcação à Sicília e não a África.


  São Francisco de Assis é um dos santos mais importantes da igreja católica. Morreu no ano de 1226 e foi canonizado pelo papa Gregório IX, dois anos depois, em 1228.

   Naquela época, a igreja não tinha todo esse protocolo de hoje, comissões técnicas para avaliar milagres e outros trunfos, e valia a obra religiosa que se impunha em grandeza da fé, crescimento territorial, penitência e outros, embora se diga e se afirme que São Francisco foi milagreiro, não tanto quanto seu discípulo Santo Antonio, este sim, o grande taumaturgo.


    E São Francisco chegou a Bahia na expedição exploratória de Gonçalo Coelho, em 1501, após as peripécias desastrosas de Pedro Álvares Cabral de retorno da Índia, onde seguiu depois de achar o Brasil e contar seu feito á Corte. Essa nova expedição, com o cartógrafo Américo Vespúcio, descobriu o rio-mar que passou a se chamar de São Francisco, em 4 de outubro de 1501, data da morte do santo (4/10/1226), uma vez que essa era a tradição religiosa dos portugueses navagadores.


  A Baía de Todos os Santos nasceu assim, nessa mesma expedição, em 1º/11/1501. Agora, estão querendo desgarrar São Francisco da parte de todos os santos, a Bahia, para ter seu próprio estado. 

  Diga-se, São Francisco não foi moleza. O camarada era durão, expedia frades para África e  Europa para enfrentar "infiéis" pregando a palavra de Deus, Cristo, o Senhor, e venceu a parada.


   É só analisar, a luz atual, 1.000 anos depois de criada a Ordem Franciscana o poder que exerce no mundo ocidental e na igreja católica.