NADA NA TV BAHIA. TUDO EM NOSSAS CABEÇAS

Ademário Costa
16/05/2011 às 19:09
Foto: BJÁ
MEMÓRIA: Ademário (de cabelo rastafari), em 2001, relata, hoje, o que aconteceu naquele maio

Nada na TV, nada para ver, nada aconteceu, ninguém sabia de nada e assim o telejornal BA-TV se comportou naquele 10 de maio 2001, nada havia acontecido, ninguém apanhou, ninguém bateu, ninguém agrediu, ninguém sofreu. Para a nossa surpresa o Jornal Nacional apresentou as imagens da pancadaria registradas pelo Sindicato dos Bancários. Todo o Brasil viu as cenas de brutalidade e repressão, corpos inocentes sobrepujados pelas botinas da truculência.


Dia 11 de maio, pela manhã, o Correio da Bahia estampa "Punks, mascarados e arruaceiros tumultuam centro da cidade", e não, "estudantes lutam por ética na política", para a TV e o jornal oficial do Estado, não bastava omitir, também era preciso deturpar, utilizar o poderio acumulado através do vilipendio do Estado para exercer uma ditadura tecnomidiática, mas a Bahia já estava indignada!


Reunimos a noite, quase todos os representantes dos cursos da UFBA e recebemos lá, a presença solidária da deputada estadual Lídice da Mata e decidimos por uma nova passeata dia 16 de maio. Uma comissão de segurança foi formada e um dos colegas, trabalhador da Polícia Civil, foi nomeado chefe da comissão de segurança. A comissão se reuniria sozinha na terça-feira para combinar o percurso e evitar o vazamento das informações.


Na segunda-feira uma nova plenária, dessa vez na Faculdade de Economia. Plenária mais ampla com presença de vários segmentos organizados. Estavam sindicatos, partidos, movimentos populares, associações e nós do movimento estudantil.

O ambiente ainda era de divergência, afinal, outra passeata foi convocada pelos partidos para caminhar até o Pelourinho. A opção dos estudantes era de ir para casa de ACM, mas a maioria dos dirigentes partidários considerava a tática errada, seria uma provocação. A plenária decidiu que nós não iríamos ao Pelourinho - eu fui lá apenas com a tarefa de dar o nosso recado.


Na tarde de 15 de maio reunimos a comissão de segurança e elaboramos o seguinte roteiro: sair da reitoria, seguir pela "João das Botas", quebrar pela "Juraci Tavares Lyra", descer pela "Araújo Pinho", entrar pela "Marechal Floriano" e desembocar na Faculdade de Odontologia da Ufba. De lá seguiríamos por dentro da universidade, passaríamos pelo viaduto do Canela e chegando na faculdade de Direito era só pegar a Graça e chegar ao Edifício Stella Maris, na  fatídica casa. Caso chegasse a repressão, nossa orientação era reorganizar todo mundo na reitoria.


Traçamos esse roteiro por compreender que a Polícia só teria duas opções: deixar passar a passeata e nos enfrentar no Bairro da Graça ou nos interceptar dentro da universidade. Analisando o vale do Canela, chegamos a seguinte conclusão: "se nos pegassem melhor que fosse dentro da Ufba, afinal, ali era o nosso terreno.

O local é um vale, um espaço amplo, cercado de estudantes nas salas de aula, com várias rotas de fuga e próximo ao auditório da reitoria, onde poderíamos nos abrigar em caso de dispersão. Mesmo fazendo todas essas observações, chegamos à conclusão que eles jamais invadiriam a Universidade Federal da Bahia. Ledo engano!



Ademário Costa é graduado em Ciências Sociais pela UFBA, foi do DA (Diretório Acadêmico) de Ciências Sociais, do DCE (Diretório Central dos Estudantes) da UFBA (gestão Declare Guerra/99-2001), diretor de Combate ao racismo (gestão 99-2001) e vice-presidente da (União Nacional dos estudantes) UNE de 2001 a 2003, atualmente é Secretário de Finanças do PT/BA.(Artigo 32 publicado no BJÁ.Vide artigo I na Editoria de Cultura)



* Se você tem depoimento sobre este episódio envie para o BJÁ