O PORTEIRO DE SALVADOR E A SUCESSÃO MUNICIPAL

Sócrates Santana
03/04/2011 às 12:00

Após três eleições sem êxito, a partir de 2008, o deputado federal Nelson Pelegrino deixou de ser o primeiro da fila para entrar no Palácio Thomé de Souza. Com o apoio do deputado estadual J. Carlos, o hoje senador Walter Pinheiro venceu as prévias e retirou de Pelegrino a prerrogativa de postular pela quarta vez consecutiva a candidatura majoritária da capital baiana. Pinheiro perdeu as eleições contra o candidato a reeleição pelo PMDB, o prefeito João Henrique, mas, dois anos depois compôs a chapa do governador Jaques Wagner, sendo eleito senador ao lado da socialista Lídice da Mata.


Pinheiro é o primeiro da fila. A fila anda. Pinheiro tem mandato de oito anos. Wagner não será mais candidato ao Palácio de Ondina. Pelegrino pressupõe que retornou para o primeiro lugar dela e a próxima eleição vem aí: 2012. Mas, faltou combinar com os russos: o deputado federal Valmir Assunção levanta o dedo, alguns torcem o nariz e o esforço para estabelecer uma ordem interna vira um conflito entre três homens.


O senador petista é o mais tranqüilo em relação às eleições de 2012, apesar de não perder uma oportunidade para apimentar o debate sobre a sucessão municipal. Se não é para disputar as urnas à vera, pelo menos, assim imagino, Pinheiro aproveita o ambiente para preparar o terreno até as eleições de 2014. Afinal de contas, não é segredo para ninguém a vontade do senador petista trocar o parlamento pelo o executivo.


O carro fica na frente dos bois. A prudência do governador Jaques Wagner cede lugar para a habitual precipitação das disputas municipais. Ao invés de fortalecer as relações históricas e aproximar possíveis aliados de uma candidatura capaz de reunir todos os partidos que dão sustentação ao governo estadual, a natural candidatura petista troca as mãos pelos os cotovelos. O PT tem a chance de construir um programa de governo singular, que não precisa aguardar as eleições de 2012 baterem na porta para serem implantados na cidade, mas, o partido escolhe a via crucis.


As investidas de João Henrique em prol de uma aliança estratégica com o PT não são novas. Em 2007, fez de tudo um pouco para ingressar no partido, mas, terminou no encalço da principal agremiação aliada do governo: o PMDB, que resolveu lançar candidatura própria em 2010 e deixou de ser conveniente às pretensões do prefeito. Confirmada a reeleição de Wagner, João eleva os níveis de tensão com o PMDB e é expulso do partido, tendo em vista duas vias expressas capazes de ligar os palácios de Ondina e o Thomé de Souza: PDT e PP.


João filia-se ao PP. Talvez, sem deixar de lamentar. Afinal de contas, ingressa no partido progressista porque não pôde esperar por mais tempo a formação de um novo partido, como afloram o PDS ou o PDB. Ambos reúnem os predicados ideais para uma figura atípica como João Henrique, que não deseja brigar com ninguém e menos ainda com o PT. A preocupação do prefeito é natural, pois, o PP é hoje o terceiro maior partido de sustentação do governo Dilma e o segundo do estado. Ao assumir o comando da prefeitura, o PP arregala os olhos até mesmo do mais zen dos petistas.


O novo chefe da Casa Civil da prefeitura, o deputado federal licenciado João Leão resolve acalmar os ânimos dos petistas ao estilo Leão: assopra e morde. Convida o PT para compor o governo João Henrique e mete o nariz na sucessão municipal ao defender o nome de Walter Pinheiro. Ou seja: defende um nome petista, contanto que seja alguém que ceda um espaço para o PP, pois, o suplente do senador petista é o progressista Roberto Muniz.


Enquanto isso, Pelegrino não abre mão sequer da liderança da bancada baiana. Escora os aliados históricos, especialmente, o deputado comunista, Daniel Almeida. Os vereadores, Henrique Carbalhal, Gilmar Santiago e Marta Rodriguez, Vânia Galvão, Dr. Giovani e Moisés Rocha permanecem na oposição, sem ao menos abrir uma porta (mesmo que crítica) de diálogo com a administração municipal. Não apresenta sequer uma lista de exigências ao alcaide e deixa a opinião pública com a sensação de que o partido torce pelo naufrágio da cidade.


Entra em cena o argumento republicano do governador para participar do ato de filiação de João Henrique, dando ênfase aos desafios da Copa de 2014. Wagner estende a mão para quem foi classificado pela própria primeira-dama como "cachorro morto" e ao estilo Jaques intervém no tabuleiro sem descartar nenhuma possibilidade. Porque, toda fila tem um porteiro.


 
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