Cláudia Leite é a marca do novo Carnaval de Salvador
O Carnaval de Salvador passa por transformações a cada ano. Acho legal e posso garantir, de cátedra, de que está melhor do que em minha época de jovem. Não sou daqueles que vêem o Carnaval como decadente e perdendo sua originalidade, dos bailes de salão e das marchinhas que foram impulsionadas na era Vargas. Negativo.
Claro que algumas coisas pioraram, é só analisar a qualidade das músicas pagodeiras atuais em comparação com as composições de Zé Keti; mas, muitas coisas melhoraram.
Hoje, vejo algumas pessoas e até entidades defendendo a volta do Encontro dos Trios na Praça Castro Alves, importante em determinado momento da folia carnavalesca, mas, completamente fora de foco, da realidade atual.
A Praça Castro Alves marcou uma época no final dos anos 1960/ década de 1970, porém, era um espaço sujo, fedorento e que todo mundo curtia porque não havia alternativas. A gente até programava um tênis velho para ir a Castro Alves porque depois do Carnaval tinha que ser jogado fora. Fazer xixi na Castro Alves era um horror especialmente para as mulheres.
Frequentei a terceira barraca contando a partir do topo da Ladeira da Montanha durante muitos anos, e, no final dos anos 1960/início dos 1970 ainda se vendia cerveja em garrafa. Eu e meu compadre Lapa parávamos nossos carros na cidade baixa, ao lado da Igreja da Conceição da Praia, e subiamos a ladeira na canela para chegar ao topo.
Imagine, pois, o folião tomando cerveja com aquela garrafa na mão, de vez em quando voava uma delas em direção ao público, e a vida seguia adiante. Quando chovia, a Praça Castro Alves virava uma "pocilga". E esse caldo de cultura de mixo, suor, cerveja e chuva era um odor admirável.
No início dos anos 1970 eu tinha uma namorada carioca, economista do BNDE, chamada Ana Afonso. E ela chegou toda alinhada para irmos a Castro Alves colocando um chapeuzinho inglês que havia comprado em Londres, preso nos cabelos com grampos. E lá fomos nós, a dita, Fernando Lapa, Armando Português e respectivas namoradas, em fila indiana na folia.
Aí passou um grupo de foliões desses bem educados e tão comuns ainda hoje nos circuitos da folia que levou o chapeuzinho inglês e parte da cabeleira de Ana, a qual entrou em pânico, em choro, e quase ia embora nosso Carnaval.
E o dente que Armando Português perdeu na Castro Alves e foi um sufoco tentar encontrá-lo no meio daquela bagunça geral.
Nos anos 1990, quando era secretário de Comunicação da Prefeitura recebia covintes para ir ao camarote de Daniela Mercury. E, comparando com a Castro Alves, santo pai! é a mudança da água pro vinho. Uisque a perder de vista, acarajé, abará, frios de todo tipo, sanitário limpo e cheiroso, maquiadores, cerveja gelada e tudo gratuito.
Então meu caro, goste-se ou não dos camarotes e das mudanças do Carnaval só quem não frequentou a "pocilga" da Castro Alves é que defende a volta dos velhos carnavais. Vade retro.
E quem via uma Cláudia Leite dessas (vide foto arriba) na Castro Alves? No máximo, discursos de Osmar e as coxas de Baby Consuelo.