Foto: Couve Flor |
Feijoada caseira com tudo que o folião tem direito |
Nunca entendi desde a minha época de folião porque a baianada adora feijoada durante o Carnaval. Hoje não sei se é mais assim. Mas, quando eu era mais jovem, bom refrão, a gente só ia à folia depois de comer uma feijoada na casa de algum amigo, conhecido e assim por diante.
Eram feijoadas feitas em apartamentos, em residências, nada dessas feijoadas "caça níquéis" de hoje com vendas de camisetas e "Dendês no Sangue" por perto. Essas dão dores-de-barriga, com compensação de sair a foto do baianês na Contigo.
Tinha a feijoada na casa de Maurício, cunhado de Oldegar Passos; a feijoada de Lene, no Campo Grande; a feijoada de Carminha, na Federação; e eu próprio promovi feijoadas no meu "apertamento" do Chame-Chame, um dois quartos que mal dava para acomodar duas dezenas de foliões.
E, o feijão era tão pouco, às vezes de lata, que mais valia a farra e a bebedeira inicial para encarar a folia do que o feijão amigo.
Mas tinha ótimas feijoadas, feitas a capricho pelos donos das casas, gratuitas, e que davam enorme alegria a todos nós. E o mais curioso é que a galera só ia para o Carnaval depois que, popularmente, era assim que se dizia "se forrava a barriga".
E, como todo mundo sabe, feijoada é prato pesado e que combina com o Carnaval, até determinado momento, porque pode dar dor de facão e flatulências mis.
Creio que essa onda de feijoadas nasceu e evoluiu porque até os anos 1970, comer durante o Carnaval de Salvador e fora do seu circuito, era um problema. Ou o camarada encarava um "churrasquinho de gato", espeto de carne de boi que o povo dizia que era de gato, lambuzado com farofa e uma rodela de tomate na ponta do espeto; ou então comia um "cachorro quente" produzido naquelas trempes enormes.
Fora daí, não havia shoppings, os restaurantes não funcionavam, e os foliões tinham que forrar suas barrigas em casa.
Hoje, a coisa mudou muito e tem camarotes na Barra que servem uísque aos convidados a noite inteira e ainda expõe em balcões de toda ordem produtos que vão de frios deliciosos, a acarajés e pratos quentes. O folião é tratado a "pão de ló". Já tem outros camarotes que o camarada paga, mas, lá pras tantas, a comida míngua, é um horror.
Lembro de um Carnaval que mataram um chinês que vendia pastéis no início da Av Carlos Gomes e que foi um escândalo. O bloco era do bairro de Roma e foi um barabadá dos pecados.
Tinha uma senhora que vendia uma feijoada na Faisca, perto do quartel da PM que era uma delícia. E o Restaurante Bela Napoli, quem conseguisse uma vaga durante o Carnaval era um felizardo.
Hoje, tudo mudou e tem até longue e outros bichos mais. A velha feijoada cazeira, no entanto, continua insubstituível.