AS IMPUREZAS DO BRANCO

Sérgio São Bernardo
11/01/2009 às 19:21
Foto/Divulgação
Imagem preto e branco, o sentido da existência das cores
 
Para Ives Gandra da Silva Martins [2]


Não tenha medo Ives.
O mundo está mudando e, com ele, suas certezas.
Ainda não dissemos que perderá suas redomas e brasões.

A alegria de seu mundo esvai-se
Na continência de uma verdade que nos separa por vírgulas
 
Não tenha medo de ser branco, Ives!
Tenha antes a presunção de que ainda encontraremos,
na encruzilhada,
O sentido da existência das cores...
Entre linhas curvas e impuras,
Entre um longo e sórdido conto repetido
Verá anunciada a negrura do branco
 
Ives, você conhece o parágrafo segundo do artigo quinto da Constituição Federal? 

Diz o inverso do que diz o inciso quarto do artigo terceiro da mesma constituição...
 
E aí, Ives? Que faremos?
Faremos uma guerra civil?
Uma Intifada?
Um congresso nacional de brancos desterrados?

Proibiremos pretos, índios, prostitutas e homossexuais de lutarem por direitos -  ou, em plena crise, você guardará mais dinheiro para garantir aquela gorda previdência para seu filho e fugir para o pais de Obama?


Ensinaram-lhe errado, Ives! E você, ensina errado a seus filhos!

Pretos e indígenas não ocupam espaços de branco
Preto é presença de luz e branco é ausência de luz 

apenas refletindo quem nela se projeta...
Não lhe disseram que as montanhas do oeste anunciam o povo que passará dos mundos subterrâneos para a luz branca e escarnecida da negrura do sol?
 
Inventaram o preto
Inventaram a raça
Inventaram o branco
E inventaram a pureza, Ives! - Ives, a pureza não existe,
Existe a lama da alma escancarando vida e luz
 
Inventaram as cotas e com elas disseram que os brancos não teriam mais poder para guardar para seus filhos nos próximos mil anos e você, Ives, desesperado, derrubou o café na mesa e disse: chega!! O que os meus construíram nos séculos não será destruído por portarias de univers0idades, nem por batuque de tambor.
 
Então, Ives - tenha cuidado, não tenha medo!
Por ser brasileiro
Por ser professor
Por ser racista
Por ser rico

Por entender que chegou aonde chegou sem nenhum pretinho igualzinho a você

Que o incomodasse
Por não sentir remorso por escrever coisas que não interessa a milhões de brasileiros.
 
Você não se envergonha de ter constituído uma riqueza à custa de uma sociedade injusta e miserável na qual, provavelmente, uma letra de seu enfadonho repertório de uma dogmática jurídica hipócrita custa milhões de casas para milhões de brasileiros brancos e pobres iguais a voce?


O que imposta saber, Ives?

Você sabe o que é fundo de pasto, codó, carangondé?
Então, nem me venha com essa tolice que o tributo que pagamos não pode ser vinculado aos gastos com política públicas.
 
Daqui a alguns instantes - teremos mais pretos doutores e os brancos que inventaram o mundo chamarão os pretos, os índios, as putas e as bichas de donas do mundo, do dinheiro, das terras, das vagas nas universidades, da alegria, da vida e da morte!
 
É simples! Como você tem mudado de posição ao longo de sua vida - sempre em volta de quem está com o poder instituído - declare-se preto Ives, e terá acesso a cotas - caso o seu amigo branco e a revista veja não o denuncie no cartório de títulos e registro públicos.

Como você parece não ter lido Heller e seus duplos padrões de justiça,
Olhe os Oxés e veja se você vê os olhos que vêem.
Como é um  "intérprete autorizado",
Autorize as pessoas que lhe seguem os passos
a entender mais de codó, de carangodé e de fundo de pasto... .


Por isso, branco não é pureza, nem essência, nem permanência

Branco é a celebração da morte que sempre vem...
 
Obrigado, Ives!
Por existir e existindo me fazer lembrar Drummond