O SIGNIFICADO DO COOPERATIVISMO

Davi Zaia
05/09/2008 às 09:19

Surgido no século XIX por iniciativa dos trabalhadores para se contrapor a exploração da mão-de-obra durante a Revolução Industrial, o cooperativismo se desenvolveu de forma extraordinária em todo o mundo. O que difere o cooperativismo de outras formas de empreendimento é o trabalho associativo, no qual produtores de diferentes atividades econômicas se unem em torno de seus interesses de produção. Hoje temos mais de 800 milhões pessoas organizadas em cooperativas, que, por sua vez, geram 100 milhões de empregos em todo o mundo.


Seu dinamismo é representado por números superlativos. No Canadá, uma entre cada três pessoas faz parte de cooperativas. Nos Estados Unidos, mais de 150 milhões de pessoas (60% da população) estão organizadas dessa forma. Na Colômbia e Costa Rica são 10%. Na Alemanha, 80% dos agricultores e 75% dos comerciantes são cooperativados. Na Bélgica, as cooperativas farmacêuticas detêm uma participação de 19,2% do mercado.


Tomemos por exemplo a produção de alimentos, uma das maiores preocupações atuais da humanidade. No Brasil, as cooperativas produzem 72% do trigo, 43% da soja, 39% do leite, 38% do algodão, 21% do café. Na Coréia do Sul, elas reúnem 90% dos produtores rurais ou cerca de 2 milhões de pessoas, com um faturamento superior a U$ 11 bilhões. São dados que atestam a importância do cooperativismo no setor agropecuário.


Como bancário, interesso-me particularmente pelo trabalho das cooperativas de crédito, responsáveis pela oferta de financiamento em condições especiais a milhares de pessoas. Nos países em desenvolvimento, elas são instrumentos de democratização do crédito, incentivam e financiam as pequenas e médias empresas.

A origem das cooperativas de crédito data de 1902. Hoje, as cooperativas de crédito somam 1.148 e reúnem 2,8 milhões de associados. Na Europa, os bancos cooperativos empregam 700 mil pessoas.


A força do sistema é diretamente proporcional à capacidade que a sociedade civil tem de se organizar. Quanto maior o poder de organização, mais significativo é o peso do cooperativismo. O inspirador do cooperativismo foi o reformador social galês Robert Owen (1771/1858). De família modesta de artesãos, ele acabou se tornando co-proprietário de indústrias escocesas. Nelas, reduziu a jornada de trabalho para 10,5 horas diárias (numa época em os trabalhadores passavam até 16 horas de seu dia trabalhando), construiu moradia para os operários e escolas para os seus filhos. Também foi Owen quem criou a primeira cooperativa.


O filósofo Karl Marx se referia aos defensores dessa forma de organização do trabalho como socialistas utópicos. Ele os questionava porque duvidava que pudessem mudar a organização da sociedade dessa forma, mas elogiava o cooperativismo pela eficiência da produção e por substituir o trabalho assalariado pelo trabalho associativo. Mas o marco histórico do cooperativismo é o ano de 1844, quando um grupo de 28 tecelões ingleses, incluindo uma mulher, denominado Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale, fundou uma cooperativa na cidade de Manchester, com o propósito de comprar itens de necessidade básica, como alimentos.


Foram eles que estabeleceram os princípios e condutas consideradas como os pilares do movimento. Entre os seus objetivos estava a formação social de um capital para a emancipação dos trabalhadores, viabilizado pela poupança resultante da compra de alimentos; construção ou aquisição de casa para os cooperados; e a criação de estabelecimentos industriais e agrícolas voltados para a produção de bens indispensáveis para o sustento dos associados.


No Brasil, o cooperativismo foi implantado em 1847, quando o médico francês Jean Maurice Fraive inaugurou a colônia Teresa Cristina, junto com outros colonos europeus no Paraná. O movimento serviu de referência para iniciativas do gênero.


Em Minas Gerais, foi fundada a primeira cooperativa agropecuária. Em Campinas, a primeira cooperativa de consumo, criada pelos trabalhadores da Cia. Paulista de Estradas de Ferro. No Rio Grande do Sul, coube ao padre Theodor Amstadt criar a primeira cooperativa de crédito, que hoje se soma a mais de duas mil organizações, com cerca de 2 milhões de associados e 115 mil empregados.


O cooperativismo necessita de apoio no Brasil, em particular no Estado de São Paulo. O deputado federal Arnaldo Jardim, de meu partido, lutou pelas cooperativas quando estava na Assembléia Legislativa e continua apoiando o movimento na Câmara dos Deputados.


Nosso compromisso é o de prosseguir trabalhando pelo cooperativismo no Legislativo paulista com iniciativas que contribuam para fortalecer e incentivar as cooperativas no Estado de São Paulo, em benefício do desenvolvimento da economia e da população.