"O TAL ZÉDE JESUS"

Rosane Santana
30/05/2008 às 14:27

No início dos anos 1980, recém-saída da Escola de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a convite do jornalista Emiliano José, então editor de Política, fui trabalhar na redação do Jornal da Bahia. Relembro como se fosse hoje, os primeiros passos como foca, orientada pelo exigente editor, indiscutivelmente um profissional de sólida formação cultural e competência, a quem devo muito as qualidades de precisão, conscisão e objetividade no texto, que eu era orientada a reescrever três, quatro, cinco, seis vêzes até um resultado próximo do "ideal", digamos assim, antes de repassá-lo a dupla imbatível de revisores, Pedro e Panzani. O primeiro morreu há poucos anos e, do segundo, há quase 20 anos não tenho notícia.

O Jornal da Bahia foi uma usina de talentos. Poderia citar dezenas deles, com os quais convivi: João Santana Filho, Hamilton Celestino, Oldack Miranda, Átila de Albuquerque, Antônio dos Santos, Rogério Menezes, José Valverde, Linalva Maria, Jaciara Santos (imbatível na cobertura de Cidade), Aurora Vasconcelos e outros que não me recordo no momento, além do "tal ZédeJesus", sem sombra de dúvida, um dos mais talentosos profissionais do jornalismo baiano, sempre com seu radinho de pilha e ouvidos antenadissimos  na redação,  a captar o que acontecia na cidade antes de elaborar e distribuir as pautas diarias. Verdadeiro escafandrista, sem esquecer outro gigante da espécie, o tal Waldemir Santana.


            Para quem não conhece o trabalho do pauteiro, figura praticamente desaparecida nas "modernas" redações, a este cabe, digamos assim, garimpar fatos do cotidiano da cidade, da política, da economia etc. , que vão compor um roteiro a ser distribuido com repórteres para elaboração de textos, possibilitando um planejamento editorial e a orientação do veículo sempre de acordo com o interesse coletivo. Uma boa pauta é passo fundamental no caminho de uma boa reportagem e responde em parte pelo sucesso do jornal junto ao público leitor, daí a importância estratégica do pauteiro, especialmente na época que não havia a democratização de informações, através de blogs e sites, e um profissional competente na funcão, a exemplo de ZédeJesus, desequilibrava.

            Esse "tal ZédeJeus", criado nas ruas e nos becos da Liberdade, da Djalma Dultra, das Sete Portas, nas igrejas e ladeiras da Bahia, sempre conheceu como ninguém o que esta por detrás da notícia e como buscá-la, perfeitamente integrado que é ao cotidiano e a cultura de sua gente. Com passagem por jornais, rádios, assessorias etc e tal é profissional cujas ponderações são sempre uma referência para quem faz jornalismo.

            Ah,"ZédeJesus" e falar que você está no ostracismo! Quanta desinformação! Dizer que você estaria a serviço de terceiros! Quanta injustiça! Não Zé, de você posso até discordar algumas vêzes, e você sabe disso, mas nunca poderia confundi-lo com um mercador de notícias, "um malandro de gravata e capital", parafraseando Chico Buarque de Holanda.


            Daqui de Boston, onde passo uma temporada para atualização profissional, presto a você minha solidariedade, relembrando Rui Barbosa: "De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto".

            Axé ZédeJesus