Como nos velhos tempos! Aos cinco minutos de jogo, o esperto Ramon desferiu, sorrateiramente, numa disputa de bola boba no meio campo, uma certeira cotovelada que abriu o supercílio de Fausto, seu implacável marcador, deixando-o azoado o resto da partida. Com cartão amarelo, Fausto queria o revide, mas não poderia fazê-lo sob pena de expulsão, e Ramon partia pra cima, falava com ele, chamava pro pau, irritava.
O jovem zagueiro Alison, de 21 anos apenas, bom futebol, mas ainda verde, entrou na dele e se deu mal. Andou tropeçando na bola, proporcionou a expulsão de Marcone (que foi fundamental para a derrota do Bahia), não deu a devida cobertura no gol do próprio Ramon e, por fim, falhou feio no gol de Marquinhos.
O experiente Ramon mostrou que um clássico não se ganha somente jogando bola e obedecendo a táticas. Um clássico se ganha com alma, com manha, com inteligência, buscando o desequilíbrio emocional do adversário, chegando junto, provocando, xingando, tudo na hora e na medida certa, sabendo-se muito bem o que fazer em cada situação, pondo a bola debaixo do braço e dizendo na cara do adversário, "é minha, porra!".
Ao Bahia faltou vivência, rodagem, calma, inteligência para não "comer a pilha" do maestro, para não entrar na dele. O craque Ramon deu uma aula no Jóia da Princesa. De sabedoria, sangue frio e muita malandragem. Ditou o ritmo do jogo, segurou, soltou, matou a pau. Os companheiros foram atrás, sob a sua batuta, reagiram a cada incentivo seu. O adversário ficou com os nervos expostos e caiu na armadilha. E o árbitro... atrapalhou-se todo, apitou no grito de Ramon, o camisa 10, o dono da bola, o senhor do jogo.
Ramon 3 x 0 Bahia. Embolou tudo. As duas rodadas finais do campeonato baiano prometem muita emoção. O Bahia vai quebrado emocionalmente e com desfalques sérios enfrentar o Itabuna (ainda com esperanças), na quinta. Um Vitória renascido, no mesmo dia, joga em Conquista contra o Primeiro Passo, a grande surpresa do campeonato e no páreo, vivíssimo.
No domingo, jogos finalíssimos, em Camaçari e no Barradão, de tirar o fôlego da galera, como há muito não víamos no campeonato baiano.