A ÁFRICA ESTÁ NA MODA

Rosane Santana
10/09/2007 às 12:15
  Cambridge-Massachusetts (EUA)- Neste estranho verão que se finda no hemisfério Norte, onde os dias são curtos e não raras vezes frios, a Universidade de Harvard, eleita mais uma vez a melhor do mundo, em recente pesquisa, escolheu a África como tema para debates e discussões entre a comunidade acadêmica.        

        
    A lendaria instituição aposta o seu prestígio, juntamente com outras vozes do Planeta, para forçar uma mudança no estratégico continente. A África detém um terço das reservas minerais mundiais, mas o desastre humanitário (fome, endemias e guerras) ocorre em larga escala.

        
  A temporada de estudos para as centenas de estudantes americanos e  estrangeiros foi encerrada com um teste que incluiu, entre outros assuntos, uma composição sobre o tema "A África e sua relação com o mundo", depois de um "bombardeio" de informações em sala de aula, onde foram estudados autores como o queniano Ngugi Wa Thiong'o, novelista de destaque e militante em defesa da cultura e da linguagem africana.

        
  Perguntei ao professor Jef Diluglio, decano do Instituto de Línguas, vinculado a Faculdade de Artes e Ciências de Harvard, o porquê da África como tema, ao que ele, de imediato, respondeu-me: "a África esta em evidencia, de Madonna a Bush, todos estão com suas atenções voltadas para la".

          
   Na Harvard é assim. Os assuntos são up to date, as aulas são dadas com apoio da internet e os alunos são instados, todos os dias, a dar opiniões (com total liberdade) sobre assuntos atuais, como as idéias de Hugo Chaves, a invasão do Iraque e a condição da mulher no islamismo, o que, sem sombra de dúvida, motiva e facilita o aprendizado.

          
   A causa dos africanos ganhou, portanto, um forte aliado. Além da influente comunidade acadêmica de Harvard, há que se considerar o grande número de estudantes estrangeiros, de todas as partes do mundo, que circulam por aqui - cerca de 20 mil a cada ano -, com destaque para os orientais (chineses, especialmente), que são vistos com muita frequência pelas ruas de Cambridge, numa demonstração inequívoca da liderança da cultura americana no Planeta.

        
   As discussões sobre a África englobaram palestras com especialistas e debates a respeito do continente e sua dominação por nações estrangeiras ao longo dos anos, especialmente a partir do seculo XIX, quando o seu territorio foi partilhado entre países europeus, até a onda de descolonização dos anos 60/70, cujos gritos ecoaram entre os filhos da diáspora africana em todo o mundo, do black power americano a negritude baiana da Liberdade, onde nasceu o Ilê Aiyê, que liderou a africanização do carnaval de Salvador - um movimento de afirmação dos valores e da cultura negra com resultados que todos conhecemos.

        
    Preocupa aos estudiosos, de uma maneira geral, o fato de o Produto Interno Bruto (PIB) de muitos paises africanos registrarem atualmente índices inferiores a época em que se tornaram independentes. A África ficou de fora da globalização, sua economia estagnou, proliferam doenças como a AIDS, os índices de mortalidadee infantil são desoladores, há fome, muita corrupção e guerras civis e as necessidades humanas (sobretudo na parte Sul) superam os recursos disponíveis no continente, que continua despertando a cobiça de nacões estrangeiras, por ser importante fonte de matérias-primas, como o petróleo, numa época de escassez.