O SUBÚRBIO E O OUTRO PDDU

André Araújo
24/08/2007 às 08:35

Novas rodadas sobre o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano -PDDU estão acontecendo na Câmara Municipal de Salvadador e mais uma vez, o subúrbio ferroviário não entra na pauta do projeto enviado pela Prefeitura de Participação Popular.

Volta e meia o Ministério Público entra com uma ação contra a falta de transparência na tramitação do projeto que continua sem a participação da sociedade. O detalhe maior é o prefeito pedir pressa na votação. Afinal, que participação a sociedade quer ter neste processo?
a quem interessa este PDDU João? pra quê tanta pressa João?

Voltando ao tempo, nas últimas eleições para a Prefeitura de Salvador foram muitas as propostas para a cidade baixa e o subúrbio da cidade. Com a vitória de João Henrique, o subúrbio aguarda apreensivo por uma obra de relevância. A esta altura do campeontato, estas intervenções nunca chegaram.

O prefeito deveria cumprir pelo menos o básico, pois será difícil acreditar que o subúrbio entrará no roteiro turístico de Salvador até o final do seu mandato, se até os pontos turísticos tradicionais da terceira capital do país não vêm apresentando boas condições para visitação turística.

Como sempre, os acordos virão, as eleições chegarão, o PDDU cedo ou tarde passará na CMS e o subúrbio estará esquecido, pois naquela Câmara, nenhum Vereador representa os nossos interesses. A especulação imobiliária, como sempre, ditará o projeto para a cidade.

Sabemos que existem dois PDDU: o primeiro, da verdadeira Salvador que cresce para o lado do subúrbio, com os grandes problemas sociais que nunca são resolvidos, como o exemplo recente, onde terrenos na Praia de Tubarão e na Lagoa da Paixão em Fazenda Coutos foram invadidos por centenas de famílias de várias partes da cidade que não tinham onde morar.

Para a prefeitura, o subúrbio ferroviário estará sempre em "fase de crescimento" para receber os "sem tetos" e, sem querer querendo,fora das discussões do PDDU, enquanto a outra parte da cidade que também cresce - a área da Avenida Paralela e Orla marítima, que serão discutidas num segundo PDDU, talvez mais interessante, são as privilegiadas, onde a especulação imobiliária está presente e verdadeiramente, possui grandes e bons representantes na CMS.

Para entender o projeto do planejamento urbano em Salvador, vale recorrer à história. Até a década de 50, a cidade ainda não havia sofrido um processo intenso de crescimento econômico e urbano. Ainda possuía muito de sua face antiga. Mas a chegada da indústria petrolífera ao recôncavo, com a instalação da Refinaria Landulpho Alves, em Mataripe, e a construção de estradas federais provocaram o fenômeno da migração populacional para a capital, que se intensificou bastante nos anos 70, com a construção do Centro industrial de Aratu e do Pólo Petroquímico de Camaçari.

Os problemas no subúrbio ferroviário vieram juntamente com este desenvolvimento da Região Metropolitana da cidade.

Com isso, o subúrbio deveria estar preparado para receber as centenas de famílias enviadas pela prefeitura de Salvador que sempre alegou falta de recursos para a construção de casas populares, a fim de resolver ou diminuir o imenso déficit habitacional que existe, transformando a capital baiana em morros e favelas com construções desordenadas e falta de estrutura básica de moradia.

Para o subúrbio, não interessa mais participar somente na escolha dos candidatos a Prefeito e Vereador da cidade. A sociedade quer participar das discussões do verdadeiro PDDU com um amplo projeto para a rica região suburbana da cidade.
A falta de políticas públicas efetivas para a classe baixa e a total escassez de projetos para o futuro da região, evidencia que propostas eleitoreiras são somente propostas. O que falta é interesse e vontade política para planejar e tornar o subúrbio um lugar digno para as nossas famílias.