E AGORA POPÓ?

Antonio Matos
06/05/2007 às 18:14
     Acelino Freitas, o Popó, retornou a Salvador na última sexta-feira e

deve ter traçado neste final de semana, na Cidade Nova, a tradicional e gostosíssima feijoada, preparada por Dona Zuleica.

     Nada como a família - e, sobretudo, o carinho da mãe - para amenizar as dores (corporais e espirituais) provocadas pela perda do cinturão dos leves da Organização Mundial de Boxe (OMB). Apesar de sua declaração, ainda no Aeroporto Luís Eduardo Magalhães, de que "ainda não é hora de abandonar os ringues", é certo que o seu destino profissional, a partir desta segunda-feira, passa por uma discussão - como dizem os mais pernósticos - sobre o que aconteceu na noite do dia 28 de abril, no Foxwoods Casino, em Mashantucket, Connecticut, EUA, quando da luta com o norte-americano de origem mexicana, Juan Diaz, "El Torito".


     As notícias, principalmente as procedentes do exterior, são contraditórias: enquanto umas falam que a derrota por nocaute técnico, no final do oitavo assalto, para "El Torito", deve apressar a decisão de Popó de se aposentar, outras garantem que ele permanece com o firme propósito de desafiar o vencedor do combate entre o mexicano Erik Morales e o norte-americano David Diaz, programado para agosto, em Chicago, e válido pelo cinturão dos leves do conceituado Conselho Mundial de Boxe (CMB).


     Com 31 anos, quatro vezes campeão do mundo, invicto como superpenas e um invejável cartel de 38 vitórias (32 por nocaute) e apenas duas derrotas, para Diego Corrales, em 2004, e agora, para Juan Diaz, acredito que Popó ainda não absorveu inteiramente o fato de ter perdido para "El Torito" e deixado escapar a oportunidade de unificar os títulos de campeão dos pesos leves da Organização Mundial de Boxe (OMB) e da Associação Mundial de Boxe (AMB).


     Imagino como deve estar literalmente sua cabeça, ainda reclamando dos golpes desferidos pelo pugilista norte-americano e arrependido de ter passado quase um ano sem subir aos ringues antes da luta do Foxwoods Casino, fator, no meu entendimento, fundamental para que ele, dentre outras coisas, perdesse a distância do adversário durante o combate e precisasse perder muito peso (quase 17 quilos) em pouco tempo e quase às vésperas da decisão.


    Seria muito rigoroso - e levaria um puxão de orelhas do amigo e colega jornalista César Rasec, expert em boxe - se eu classificasse Juan Diaz como um lutador medíocre. Afinal de contas, antes de enfrentar Popó, já era seu o cinturão de leves da AMB, além de trazer uma invencibilidade de 31 combates, sendo cinco deles em defesa do título.


    Baixinho, com pouca envergadura, longe de ser um pegador ou de ter uma técnica extraordinária, "El Torito", apesar da idade (apenas 23 anos), da disciplina tática, da ousadia e da disposição física, dificilmente terá a expressão alcançada por Popó no mundo do boxe. Não se pode negar, entretanto, sua coragem, não se intimidando diante da fama e do prestígio do boxeador brasileiro, tomando a iniciativa da luta desde os instantes iniciais do primeiro round, encurralando-o nas cordas, com jabs perfeitos e bem colocados.


    Vi, por outro lado, um Popó surpreendido com a agressividade do adversário, acuado, lento, cansado, sem golpear com precisão e sem usar a sua demolidora direita, que um dia lhe deu merecidamente o apelido de Mão de Pedra. Em outras circunstâncias - se não houvesse, por exemplo, passado tanto tempo sem lutar e se fizesse um treinamento mais intensivo nos Estados Unidos - teria desembarcado certamente em Salvador com um quinto cinturão.


     Quanto continuar ou não lutando, só depende dele, embora Dona Zuleica já tenha afirmado que "já está na hora de parar".



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