IVAN PEDRO: EXEMPLO DE CARÁTER

Antonio Matos
02/05/2007 às 16:01
 Ainda estudante de Direito, com apenas 20 anos, comecei na imprensa e no
jornalismo esportivo em maio de 1968, como repórter da Rádio Cruzeiro.
Dentre outros, os grandes nomes da época eram Zé Ataíde - que me deu a
primeira chance - Genésio Ramos, Paulo Souto, Ivan Pedro, França Teixeira,
Virgílio Elísio, Nílton Nogueira, Fernando José, Souza Durão e Édson
Almeida.

Embora esta minha passagem pelo rádio (de pouco mais de um ano) me fosse
bastante útil profissionalmente, senti que minha praia era mesmo a mídia
escrita. Levado por Pedro Formigli, eu me integrei de armas e bagagens, sob
o comando de Quintino de Carvalho, à Escolinha TB, embrião da Tribuna da
Bahia, que seria fundada mais tarde, em outubro de 1969, pelo audacioso
empresário Elmano Castro.
 
Permaneci na Tribuna de 69 a 74 e ali tive a satisfação de participar de uma
geração vencedora, formada pelo próprio Formigli, Roberto Pessoa, Fernando
Escariz, Tasso Franco, Paolo Marconi, Sérgio Mattos, Sérgio Amado, Césio
Oliveira, Renato Ferreira, Paulinho Brandão, Chico Neto, os irmãos Sérgio e
Osvaldo Gomes, Wellington Cerqueira, Zé Sérgio Gabrielli, Paulo Sampaio, Zé
Barreto, Oldemar Victor, Marco Palácios, Antônio Luiz Almada, Joel Almeida,
Mário Bonfim, Lázaro Torres, Carlos Santana, Hélio Lage e Sérgio Bôtto
(estes dois últimos, assim como Escariz, já falecidos) e outros tantos que a
memória teima em não revelar.

Após um desentendimento com o então redator-chefe e amigo Sérgio Gomes
(padrinho de meu casamento), acabei despedido do jornal, onde exercia o
cargo de editor de Esportes. É aí que entra o personagem deste artigo e que
tem nome e sobrenome: Ivan Pedro Santangeli Santos, até a semana passada
coordenador da área esportiva da Tv Bahia.

Quem convive ou conviveu com Ivan, conhece bem o seu perfil: discreto,
introspectivo, de pouca conversa. Na época, quase não tínhamos aproximação,
limitávamos a cumprimentos rápidos na Tribuna de Imprensa, em dias de jogos
na Fonte Nova. Uma semana após minha saída da TB, fui procurado por
Genevaldo Mattos, redator do Diário de Notícias, convidando-me - em nome de
Ivan Pedro, editor de Esportes, e com o aval de Heraldo Mattos,
redator-chefe do DN - para trabalhar nos Associados.

Casado, já com dois filhos e iniciando minha outra atividade profissional,
como delegado de Polícia (plantonista na antiga Delegacia de Furtos e Roubos
e Defraudações), não fosse aquela oportunidade que Ivan me deu, chamando-me para trabalhar no Diário de Notícias, talvez tivesse naquele instante
encerrando a minha carreira jornalística.

O "Diário" passava por uma reformulação e ele me deu a maior "força". Além
de minha atividade de redator, entregou-me para escrever, com inteira
liberdade, uma coluna diária de esportes. Fui ainda chamada de capa, com
foto e tudo, anunciando a minha transferência da Djalma Dultra para a Carlos
Gomes, ou seja da "Tribuna" para o "DN". Assim é Ivan: amigo, bom caráter,
íntegro.

Extremamente profissional e consciente de suas qualidades, jamais se
preocupou com qualquer tipo de sombra. Um exemplo disso é que me contratou
sem termos na oportunidade qualquer relacionamento de amizade e sabendo que, cerca de dez anos mais jovem do que ele e vindo de um jornal moderno - que
já dispunha de um parque gráfico com composição à frio, que usava fotolito e
fotos coloridas - tinha, como era natural, ambições de crescimento
profissional. Além de tudo, fora na Tribuna da Bahia, por quase cinco anos,
editor de Esportes, o mesmo cargo que ele exercia no Diário de Notícias.
Devo também a Ivan, num momento em que suas atividades se ampliaram na Tv
Itapoan e ele não pôde mais acumular com o trabalho no "Diário", minha
indicação para assumir a Editoria de Esportes do DN. Quero que este
registro, muito mais do que um agradecimento público, seja uma forma de
homenagear a um jornalista digno, correto e que soube honrar como poucos a
crônica esportiva da Bahia.

Antônio Matos é jornalista
amatosjr@ig.com.br