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Lobisomem de Serrinha

LUBI DE SERRINHA DESISTE DO NATAL NAS MALDIVAS E VAI PARA O JORRO

Sonho de ir as Maldivas foi por água abaixo. A Ester tem medo de avião e viagem é remarcada para 2022.
06/12/2020 às 11:10
  Já decidi que no próximo verão vou passar uma temporada de 15 dias no continente asiático mais precisamente nas Maldivas, em Meeru Island, num resort 5 estrelas, cuja diária, pelo que aprecei na internet custa 850 dólares - a suÍte mais barata - e mais cara - um bangalô - 8 mil dólares, R$55 mil reais por dia.

Quero fazer uma surpresa a esposa no Natal, minha querida Ester Loura, e nada melhor do que ir para o local frequentado pelos famosos - por Juliana Paes, Adriana Galisteu, Deborah Secco, Preta Gil, Giovanna Ewbank, Romana - e outras, nenhum motivo para me ostentar, apenas para presentear minha amada que ela merece. Trabalha o ano todo, ocupo-a com as atribuições da casa - as bancárias, as contábeis, as fiscais - daí que o merecimento é pleno.

Não quero que ela saiba com antecedência. Por isso mesmo pedi a Ed Mary, a Cheiro, gerente da Tour Serra, que mantivesse meu pedido em segredo e mandasse para meu WatpsApp o orçamento para a quinzena numa suíte de primeira qualidade, um chalé ou um bangalô para dois, mas que seja espaçoso com piscina em borda infinita, varanda, pátio e vista para o mar.

As Ilhas Maldivas - no sul da Ásia - são a nova sensação entre as famosas. A região é conhecida pelos resorts luxuosos com vista para o azul-claro do Oceano Índico. Solicitei a Cheiro que pretendo ficar hospedado no mesmo local que Paes e Galisteu ficaram, em Olhahali.

As opções para duas pessoas têm diária de cerca de R$ 6 mil. A mais cara sai por quase R$ 52 mil por dia. Como irei apenas com a madame suponho que teremos uma diária de R$8 mil aproximadamente o que o leite de minhas vaquinhas resolve essa parada e as economias malocadas da Ester poderão também ajudar.

Neste ano pandêmico praticamente não saímos de casa. Portanto, temos o direito de uma pequena extravagância no final do amargo 2020 indo até São Paulo, da capital paulista a Londres em voo direito pernoitando no Crown com dois ou três dias na terra da rainha Elizabeth II. 

A Ester adora a loja onde a família real abastece sua dispensa com chás indianos e chocolates suiços, gins da Dinamarca e salmões da Noruega - onde possivelmente faremos uma feirinha - e depois voaremos até Malé, a capital das Maldivas e jantaremos no Majeedhee Magu, além da Hukuru Miskiy (também conhecida como Mesquita da Sexta-Feira), do século XVII, feita de coral branco esculpido.

Pedido feito, solicitação atendida prontamente por Cheiro a qual, em pouco tempo, sabendo que sou caixa alta, conhecendo minha força financeira, mandou um zap detalhando toda o organograma da viagem. E, as antes de analisar as partes intermediárias - os detalhes - fui logo para a última página e a Tour Serra - em negrito - colocou o custo total da viagem no valor de R$165 mil reais incluindo as passagens aéreas, traslados, resorts, restaurantes, gorjetas, a parada estratégica em Londres - na ida e na volta - o que achei um preço justo, módico.

Estava, pois, a analisar com a lupa tais detalhes - os valores unitários de cada aposento e restaurantes - até dos preços dos vinhos e gins quando a Ester chega na sala, de avental - estaria a cozinhar umas tilápias com folhas de jurema e vinho moscatel - e, curiosa, pergunta o que eu faria com a lupa rabiscando umas contas e usando sua máquina de contabilista, uma HP 12 calculadora financeira.

Desconversei, mas, diante da insistência da esposa - a essa altura bradando com uma colher de pau em mãos - disse que analisava as despesas de uma viagem de férias no Natal.

- Que viagem é essa que precisa de uma calculadora financeira e uma lupa. Para irmos ao Baixio ou ao Conde não precisa nada disso. Sei de cor e salteado o preço daquela pensão que já fomos dois ou três anos, o valor das agulhinhas e das geladas da barraca de praia do Gaita, o preço da moqueca de olho-de-boi do restaurante da Sinfrônia e o brinde que v sempre me dá aquele abajour de treliças.

- Ora! Mulher! estamos noutro patamar. A pobreza é coisa do passado, morta e sepultada com tumba de ferro para nunca mais voltar - como aquele sepultamento em Bacurau - iremos as Maldivas conhecer o Oceano Índico de águas azuis onde vê-se os peixes a olho nu à distância, onde estão os ricos, a nata da nata, o creme le creme, as mulheres mais lindas do planeta, homens refinados, guapos, vinhos da Califórnia e da Rioja, e vem você me falar do Conde, de  pititingas, de geladas, de molho lambão e caranguejos para batermos martelos de madeira e nos sujarmos todo. Me poupe.

- Falo de acordo com nossos limites financeiros eu que sou a contadora e sei as nossas disponibilidades de caixa. Você não ganhou na mega sena nem participou do assalto aqueles bancos em Criciúma, a conta do IPTU do chalé está pendurada a pagar, seu plano de saúde ameaçado, e você vem me falar de Maldivas que mal conhecemos pela televisão! Quem tem que me poupar é V. Exa - já falando em tom respeitoso - e pedindo para eu mandar o zap da Cheiro para ela que iria imprimir para avaliar os custos da viagem.

Passei o zap e minutos depois a Ester deixa o home office e vem com 4 páginas impressas da Tour Serra, a essa altura já se abanando com as folhas de papel, esbaforida, apontando para o valor da última página R$165 mil e tropeçando nas palavras e nos tamancos disse: - Você leu esse valor, você viu esse valor, é o que ganhamos em 3 anos de trabalho isso quando não tem pandemia como agora.

- Acalme-se, mulher. Temos amigos ricos para nos ajudar, para nos emprestar o dinheiro - o conselheiro Souza, o doutor Zéu que já foi pra Europa de navio com esposa e o casal doutor Xavier - e podemos dividir esse pagamento em até 12 vezes sem juros.

- Só posso imaginar que se enlouqueceu, que foste mordido pela mosca azul de Justus, de Batista, de Fenômeno, pois se vendermos Mimosa, Coração, as ovelhas, nossa toca de morada, nosso chalezinho, nossa plantação de batatas e cenouras, não dá para pagar essa conta que será gasta em 15 dias.
- Aos menos teremos ao invés de 15 minutos de fama, 15 dias de prazer, sairemos nas melhores revistas do país, nos portais, nas televisões, e isso será a glória.

- E, depois, cobranças judiciais, a desmoralização e a tumba. Passe logo um zap para a senhora Cheiro cancelando essa viagem e diga que não temos condições financeiras de fazê-lo.

Tive, então, que seguir o conselho e a solicitação-ordem da mulher e enviei o seguinte zap: - Querida senhora Cheiro, desculpe chamá-la assim pelo apelido. A viagem para as Maldivas não será possível de fazer este ano. A Ester alegou que tem medo de avião e também do coronavirus. Por isso, passará por uma análise psicológica, em 2021, e curada desses temores, analisaremos sua proposta no final de 2021. Em sendo assim, solicito novo orçamento para férias no Jorro no Hotel de Dona Biliu. Saudações, Lubi da Serra.

Cheiro lamentou essa intercorrência da Ester enviou uma proposta para férias no Jorro, 15 dias, suíte da Biliú, jantar no Bode do Lessa, passeio ao Jorrinho e ao Tucano, visita ao Buraco do Vento, estivada a Euclides para saborear o caldo verde da Célia, tudo combinado para o casal pelo valor de R$1.500,00 divididos em 12 vz sem juros.

- Cancelou a viagem as Maldivas - perguntou a Ester minutos depois já vestida com roupa de malhação para ir a Serra Fest Sport.

- Já cancelei e contratei outra viagem - respondi.

- Deixe-me ver antes de ter um infarto. 

Ester olhou a nova proposta, balançou a cabeça aprovando, e disse: - Você é um amor, um anjo, agora acertou em cheio. Vou passar no China e comprar um maiô novo.