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Lobisomem de Serrinha

LOBISOMEM SERRINHA FAZ LIVE PARA AJUDAR VELHINHOS DO CENTRO ESPÍRITA

Lobisomem de Serrinha faz sua parte diante da pandemia do coronavirus
26/04/2020 às 10:19
  Esta é a quarta crônica publicada pelo jornalista Tasso Franco em seu livro Lobisomem de Serrinha a nuvem de fogo e o fim do mundo. Você lê todas as cronicas no wattpad.


                          LOBI FAZ LIVE COM PRODUÇÃO DE SUA NETA SOL

 Depois do drama que vivi correndo para escapar de ser preso na gaiola de ferro do Cata Veio, minha neta Sol tomando conhecimento do fato pela internet e também por ter ouvido comentário do locutor Berraz da Rádio Mundial, passou um zap para mim com os seguintes dizeres: - Meu vô não dê bobeira, fique em casa, esqueça o Canteiro's Bar até passar a pandemia do coronavirus.

  Respondi também pelo zap dizendo que Ester Loura, minHa santa esposa, visando compensar meu susto diante da corrida para não ser fisgado pelo Cata Veio, obsequiou-me com um tinto da Espanha numerado.

  - Essa vovó sabe das coisas. Só perde pra minha tia chique de Salvador que só saboreia malbeques, alvarinhos e agora um tal de Nobus Bobal. 

  - Isso não chega pro meu bico. Agora, então, que estamos proibidos por decreto do senhor governador de sairmos da Serrinha, isolados do mundo, só numa emergência em carro do Samu poderei ir à capital, comentei.

 - Tenha paciência que tudo isso vai passar e tia Florzinha vai lhe convidar para ir à sua casa de veraneio em Vilas do Atlântico, quiçá com a presença do mexicano Ramon Velasquez.

 - Ah! minha filha, já era, velho só tem direito a minguau de tapioca e cuscuz Tabajara, comentei pedindo licença para interromper o diálogo pois havia uma chamada de Brasília, urgente, segundo cochichava no meu ouvido Ester. 

- Alguém de Brasília quer falar com você algo muito importante, disse-me uma apressada e nervosa Ester.

Levantei-me do meu 'home office' com calma e dirigi-me a sala para atender o telefone fixo: - À disposição excelência pode falar, atendi o telefone.

- Quem está falando é o assessor do chefe do gabinete do ministro que tem um convite muito importante para o senhor, diria, irrecusável, confidenciou o porta-voz.

- Pois não, pode passar a ligação.

- Um momento por favor que ele está noutra chamada e em instantes falará com o senhor, respondeu o assessor.

Esperei uns dez minutos e nada. Já estava com o ouvido doendo e esbravejei: - Vou desligar e quando a autoridade quiser pode ligar.

- Ok, senhor, muiito obrigação por sua atenção.

Voltei aos meus afazeres e Ester ficou curiosa em saber o que se passou em nosso diálogo. 

- Pelo visto, foi algo importante que não quer me contar, cutucou-me curiosa.

- Um convite de alto padrão, mas, não certifiquei-me ainda o que representa e se aceito ou não, respondi de forma serena.

- Se for coisa importante, aceite. Será uma honra para Serrinha ter um representante da nossa terra no alto escalão governamental. O país vive um drama com esse coronavirus e V.Exa. (já me tratando como autoridade) tem capacidade de resolver qualquer problema, em quaisquer escalões, e se for no primeiro, junto ao chefe, melhor ainda.

- Ora, Ester, tenha calma, ainda é tudo muito confidencial e não posso adiantar nada. Pediram-me segredo até mesmo para a esposa, frisei.

- Bem, se for para o bem da Pátria aceito esse argumento. Agora, senão acho um ultraje, alinhavou e foi para a varanda.

Mantive-me nos meus afazeres e nada do telefone tocar de novo. Quando foi lá pela tardinha volta minha neta Sol pelo zap querendo saber como eu estava. Narrei-lhe o episódio enigmático de Brasília, e disse que, como estava no confinamento gostaria de fazer algo para ajudar o Abrigo dos Velhinhos do Centro Espírita Deus Cristo e Caridade.

Sol foi objetiva: - Vamos fazer uma 'laive' para arrecadar fundos e alimentos, o senhor tocando bandolim e minha equipe fazendo a produção.

- Vou lavar o que pelo amor de Deus minha neta? - argui.

- É uma l-i-v-e (soletrou) em inglês que se pronuncia laive e significa vida. Já tenho até o título: Lobi em casa toca chorinhos e ajuda esposa Ester no preparo de uma pescada amarela.

-  O título é bom e vou consultar minha lista de chorinhos do Waldir Azevedo.

-  Vovô também ira cantar o Bela Ciao da Casa de Papel com apoio de minhas backvocais as Dudetes em videoconferência, adiantou.

- Lá vem você complicando. Sei tocar essa música mas não sei cantar.

- Pode deixar que meu câmara man o Samuel vai organizar tudo, levarei a maquiadora Sinha, o iluminador Tiago e será tudo nota dez. As doações serão encaminhadas pelos internautas diretamente para o abrigo e tudo funcionará bem.

Só aceite, porque sei da competência de minha neta, produtora renomada no Dominium.

No dia combinado, luzes, câmara, ação, panela com a pescada amarela no fogo, as Dudetes em cena, começou a live.

Minha neta ia monitorando a audiência e dizia-me que estava se aproximando da performance de Gustavo Lima. Dava o meu melhor tocava um chorinho atrás do outro e oferecia pitacos na preparação da moqueca da pescada, brincava com meu papagaio Anastácio, apresentei meu cachorro Red e fomos para o finalmente cantando Bella Ciao.

- Una mattina mi son'svegliato/ O bella ciao/bella ciao/ ciao/ciao

Una mattina mi son'svegliato/E ho trovato l'invasor.

Quando abri a voz, as Dudetes em cena arrasando, minha neta bateu a claquete para Samuel e gritou: "corta-corta".

Houve uma queda brusca de audiência da live segundo confidenciou, encerrando o show. 

Paciência! Ainda assim, pelo que foi divulgado no Berraz, a live do lobi arrecadou 1 tonelada de alimentos, 2 sacos de acerola doados pelo sitio de Vou de Samba, uma cafeteira oferecida por Miguel Cuc e duas camisas do Bahia oferta de Rubenilton de Zequinha.

É o fim do mundo, disse Ester.