A CACAUICULTURA NA BAHIA E EM RONDÔNIA, por LUIS FERREIRA DA SILVA

Luis Ferreira da Silva
04/05/2021 às 10:00
    O cacaueiro foi introduzido na Bahia em 1746, com sementes trazidas do Pará pelo colono francês Frederico Warneaux e plantadas por Antônio Dias Ribeiro na Fazenda Cubículo, Canavieiras, BA.

   Em 1971, com sementes híbridas trazidas da Bahia, um outro Frederico, mas de sangue tropical – Frederico Monteiro Álvares Afonso, iniciou o retorno do cacau, plantando-as no Projeto Integrado de Colonização Ouro Preto, do Incra, no hoje Município de Ouro Preto do Oeste, Rondônia.

   A agricultura do cacau no berço de origem tem as mais notáveis qualidades ecológicas e humanas. Nenhuma agricultura praticada ao longo das estradas e dos travessões, seja no Pará ou em Rondônia, é tão amazônica, tão ambientalista, tão propiciadora de trabalho e agregação familiar. A árvore do cacau protege o solo evitando a erosão; recupera a fertilidade natural das áreas degradadas, reintegra a fauna ao seu meio natural e proporciona numerosos empregos, além de oferecer a implantação de pequenas agroindústrias.

  Foi com essa visão que a Ceplac, norteado pelo Frederico, implantou um polo cacaueiro, impulsionado pelo Procacau (Plano nacional de expansão da cacauicultura), a partir de 1976.

   O programa foi exitoso, graças às mãos dadas Incra-Ceplac, e o objetivo de fixar o pequeno parceleiro à terra, considerando o valor específico do cacau, capaz de prover a família com 10 hectares de plantio, com a força do trabalho do casal e um filho adulto.

  E dessa forma o polo se expandiu ao longo da rodovia BR-364 (Cuiabá/Porto Velho), destacando-se os municípios de Ariquemes, Jaru, Ouro Preto, Ji-Paraná, Cacoal, Machadinho, dentre outros, obedecendo, sobretudo, requerimentos edáficos (qualidade dos solos).

   Desgraçadamente, com o desmonte da Ceplac, a qualidade da assistência técnica prestada aos produtores decaiu. E dessa forma o nível de investimento na condução de suas lavouras reduziu-se drasticamente. Diminuiu a produtividade dos cacauais, aumentaram os ataques das pragas e a incidência da vassoura de bruxa. As lavouras passaram a um estado de semiabandono, ocorrendo até mesmo a erradicação de algumas áreas de cacau.

  No entanto, é chegada a hora de um “revorteio”, depois desse revertério, implantando-se um novo programa de revitalização, independente ou não da Ceplac que, até então, não tem demonstrado capacidade em atender aos requerimentos das regiões cacaueiras, haja vista o seu esfacelamento e consequente débâcle da lavoura do cacau sul baiana.

  Urge, pois, o momento de se esboçar um “Procacau-2/RO”, visando a recuperação da sua cacauicultura, partindo de baixo para cima, a começar pelos 10 maiores municípios plantadores de cacau, com o compartilhamento dos prefeitos, formando um “pool” de pressão estadual, com a possibilidade, inclusive de angariar recursos internacionais, evocando a importância do cultivo no contexto agroecológico da Amazônia.

  Seria estabelecida uma meta decenal de se plantar 50 mil hectares, para a qual o Estado de Rondônia, assim como procedeu o Estado da Bahia, implantaria uma base de produção de mudas seminais e/ou outros materiais clonais; não mais os campos de produção de sementes híbridas de tempos idos. Esta “biofábrica” também produziria, em outra etapa, matérias florestais de interesse ao sistema cacau e outras finalidades conservacionistas.

  Como não mais se pode contar com Frederico Afonso, deixo em aberto quem seria o novo timoneiro?