O CONSUMO, A POBREZA, OBAMA E A SUSTENTABILIDADE

Augusto Cruz
26/01/2009 às 09:02


Reduzir o consumo e o desejo das pessoas é uma tarefa muito difícil
  Não adianta escrever sobre a necessidade de reduzir-se o consumo. As pessoas não querem e não irão diminui-lo. Basta lembrar de um repetido chavão da economia "as necessidades do homem são ilimitadas". É ingenuidade pensar de outra forma. Como talvez seja ingenuidade o que escrevi a seguir:


A redução do consumo somente acontecerá quando nossos recursos forem exauridos, como a água, o petróleo etc. O que estamos vislumbrando é a possibilidade de os movimentos sociais, que estão em total ebulição nesta primeira década de século, modificarem sobremaneira os hábitos "consumistas" das pessoas.


Partimos da seguinte nova premissa: os pobres tornaram-se consumidores vorazes! E as grandes corporações há muito enxergaram isso e já vendem muito para as classes economicamente menos favorecidas. Acontece que pobre não pode pagar quantias vultosas por um bem, apesar de pagarem mais caro por produtos baratos, em face do risco de inadimplência.


A Índia, se não é a pioneira, está demonstrando que criatividade e boa vontade, transformam simples artefatos em ferramentas úteis e acessíveis. De lá temos uma perna mecânica a um custo irrisório de U$ 40,00, perna esta que permite à pessoa caminhar, trabalhar e, até mesmo, pedalar. Para os países pobres com milhares de vítimas de minas terrestres, esta perna de madeira se mostra uma solução prática, simples e que proporciona inclusão social.


Este estímulo do consumo para os pobres, com inúmeras linhas de crédito fácil, é temerário, porém, se realizado com cautela e, principalmente, criatividade, pode não apenas facilitar a aquisição de produtos e serviços pelas classes D e E, como também propiciar um endividamento menor. No Brasil temos o já conhecido Banco Palmas, enquanto que em Bangladesh, temos o "Grameen Bank", do ganhador do prêmio Nobrel da Paz, Muhammad Yunus, que oferece microcrédito para milhares de famílias.


Obviamente que o aumento do consumo por parte de mais e mais pessoas trazem consequências para o planeta, pois utiliza-se os recursos naturais em quantidades maiores e o lixo cresce sobremaneira.


E é aí que entra Obama!


Em seu discurso de posse, o 44o. presidente americano se comprometeu a utilizar novas fontes de energia: a eólica, a solar e o biodiesel. Ora, se o líder da nação que mais exaure as fontes tradicionais de energia e que mais consome os produtos derivados do petróleo se compromete em fazer uso em amplíssima escala de fontes de energia renováveis, isto importa em dizer que podemos esperar pela produção de bens de maneira menos agressiva ao meio ambiente.


Por outro lado, se falamos em produção de bens ecologicamente corretos, teremos produtos biodegradáveis, cujo lixo é mais facilmente absorvido pela natureza e sem maiores danos.


Dinate dessa nova realidade, a criatividade será a mola mestra para aliar: produtos ecologicamente corretos, produzidos em larga escala, a um custo cada vez menor e voltados, em sua maioria, para a pobreza.


Vejamos o seguinte ciclo: a utilização de novas fontes de energia, gerando produtos ecologicamente corretos, produzidos em larga escala, propiciam mais empregos, além da acessibilidade a bens nunca antes imaginados pelas populações pobres e, por conseguinte, melhoria de qualidade de vida e preservação da natureza.


Ingenuidade? Utopia? Ou o novo aeon profetizado por Raul Seixas para este novo milênio, de fato, está se construindo?!