HILTON ANALISA ELEIÇÕES MUNICIPAIS

Hilton Coelho
30/10/2008 às 22:01
   Venceram as eleições, Jacu ou Macaco? 

   Esta é uma pergunta que muitas pessoas se fazem ao final das votações em diversas cidades do interior, onde é muito comum a existência de candidatos que não possuem diferenças de programa e prática política e que apenas se separam pelo fato de representarem famílias de oligarquias diferentes, com a disputa ganhando um caráter fundamentalmente pessoal, onde sobram ofensas e inexistem argumentos relacionados a projetos globais.

   Porém, pelo baixo nível que marcou os enfrentamentos no 2º turno, até os últimos momentos, ela bem que poderia estar sendo feita aqui em Salvador na noite do dia 26 de outubro, ao final da votação dos candidatos João Henrique e Pinheiro.
 
   Destaque-se que existia uma expectativa muito grande da população em relação a estas eleições. Isso foi bastante perceptível no transcorrer do 1º turno. Após cada debate de TV, nos impressionava bastante a audiência alcançada, pois a cada passo que dávamos nos bairros populares, as pessoas faziam referência às idéias que levantávamos ou ao posicionamento dos outros quatro candidatos na noite anterior.

   Isso acontecia também após entrevistas nas rádios e através de comentários acerca das significativas coberturas realizadas pelos jornais. Além do acompanhamento através da grande mídia, diversos setores da população promoveram muitos debates através das organizações da sociedade civil confirmando a grande expectativa do povo de Salvador com as eleições.
 
   Instituições como o Ministério Público, associações de moradores e de categorias como os aposentados, arquitetos, jornalistas, promotores e do comércio varejista, sindicatos dos servidores públicos, escolas secundaristas, inúmeras faculdades universitárias e grupos religiosos, promoveram atividades sobre as eleições.

   Quando os outros quatro candidatos começaram a demonstrar resistência a participar de debates conjuntamente com os adversários, muitas destas organizações mudaram o formato das atividades, chamando um a um e garantindo assim que seu público tivesse oportunidade de participar ativamente do momento político da cidade.

  Foi em função disto que questões como o controle do transporte público feito pelo SETEPS, e não pela Secretaria dos Transportes; a máfia da saúde que desvia os recursos do SUS, verdadeira razão do assassinato de Neylton Souto da Silveira; e o comprometimento da qualidade de vida na cidade imposto pelo PDDU de João Henrique, vieram à tona fazendo com que a sociedade passasse a refletir sobre temas que antes do processo eleitoral permaneciam sufocados.

   O papel do 2º turno deveria ser o de aprofundar o entendimento da população em relação a este conjunto de problemas, mas o que vimos foi o contrário. Nenhum dos dois candidatos se dispôs a sustentar o rico debate político iniciado no 1º turno e a nova etapa eleitoral transformou-se em uma arena de acusações de "traição" por um dos lados e de "incompetência" pelo outro.

   O final do processo foi melancólico. Em suas declarações finais, Pinheiro desejou "sorte" ao invés de debate e mobilização para Salvador, e João Henrique disse que "a força de Deus o elegeu".

  Computados os votos, os ontem "ferozes adversários", Jacu e Macaco, hoje já sinalizam a importância de estarem de braços dados e o início da reaproximação não passará desta semana, haja vista a reunião de três horas entre Geddel Vieira Lima e Jaques Wagner realizada recentemente.

  Saíram vitoriosos os grandes empresários e seus representantes políticos que drenam os recursos da cidade e da prefeitura e que no 2º turno abafaram o debate crítico numa cidade que, apesar de belíssima, passa por uma crise sem precedentes, espelhada numa terrível onda de violência que vitima principalmente a população negra que se concentra nos bairros populares.

   Por isso, em contraponto aos acordos dos velhos e novos caciques da política baiana, a Esquerda de Verdade vem sendo muito categórica em reafirmar sua disposição em construir e participar de debates e manifestações em escolas, faculdades, sindicatos, bairros populares ou quaisquer organizações da sociedade civil, a exemplo de entidades do movimento negro, mulheres e GLBT para contribuir com a elevação do nível de participação da população na vida política da nossa cidade.