Colunistas / Esportes
Zé de Jesus Barrêto

NA VARANDA DA COPA: Vá de jegue como quer Lula

A Arena Itaipava Fonte Nova, na Bahia, já está sob posse da FIFA, que vai trocar o nome da cerveja, o patrocínio é da Budweiser
21/05/2014 às 16:25
Resenhando

- Estamos a três semanas do começo da Copa no ‘país do futebol’. Enquanto a ‘brazuca’ não rola nos gramados, vai rolando o lero do lado de fora:

Dilma, a queixosa: “Blatter e Walcke são um peso em minhas costas”. Ora, foi Lula quem jogou esse ‘mandu’ em seus ombros, tia.

Dilmão, a torcedora: “Na hora que a onça for beber água esse país vai endoidar com a Copa e o Brasil vai vencê-la ... e não vamos perder para a Argentina na final”. (só pra alfinetar a vizinha, Cristina)

E mais, pediu que sejamos ‘gentis e civilizados’ com os turistas-torcedores. Mas como, tia, se tais produtos, gentilezas e civilização, andam tão em falta por essas bandas, tem notado não!

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O Blatter, ‘dono’da Fifa, em pleno exercício do cargo de ‘chefe da bola’ no país, arrotou do trono: “O brasileiro precisa ter vontade de trabalhar!’ Vige! Eu mesmo... ando num desânimo de fazer dó! Aff! Óia, sinhô me deixe, viu! O ‘capo’ ainda futucou os de lá de cima, dizendo que as manifestações contra a copa são fruto de promessas não cumpridas.

De formas que, a essa altura, o debate continua num nível porreta.

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Ora, não poderia faltar o ex-presidente Lula. Na semana passada, lerando para blogueiros, largou essa: “O brasileiro nunca teve problema em andar a pé... Vai a pé descalço, de bicicleta, de jumento, de qualquer coisa. Mas tem gente preocupado é que tem que ter metrô, tem que ir de metrrô até dentro do estádio ... que babaquice é essa¿” Eu cá me pergunto: Onde vou amarrar meu jegue?

A quem interessar possa: das 12 cidades-sede da Copa, apenas São Paulo, Rio e Recife possuem estações de metrô próximas aos estádios. Nenhuma possui estacionamento para bicicleta e muares. 

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Do ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, o Sr Gilberto Carvalho: ‘A direita está usando a esquerda para fazer essas manifestações contra a Copa e tentar desestabilizar o governo Dilma!’ A militância esquizofrênica, orientada, já anda espalhando nas redes que esses atos de protesto nas ruas acontecem sob orientação do imperialismo yanque, sempre disposto a melar nossa pujança.
Imbricâncias ideológicas eleitoreiras, caPTaram?
 
Não obstante, o ministro-chefe diz que o governo já deu ‘saltos importantes’ no sentido de neutralizar os protestos de rua e que o clima ‘vai mudar na reta final’, início de junho, quando, vislumbra ele, vai baixar o ‘espírito da copa’. Saravá! 

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As tais manifestações de rua que aconteceram no dia 15, o chamado ‘dia de protesto contra a Copa’, não assustaram muito. Tanto pela baixa adesão constatada como também pelas cores e bandeiras e métodos visualizados, algo branca ou avermelhada, tudo atreladinho a sindicatos e movimentos sociais chancelados pelo PT. Sob controle, pois. Ainda.

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Daí, o ministro dos Esportes Aldo Rebelo chegou a dizer que o momento da Copa não o preocupa, pois o aparato de segurança do Governo será de tal ordem que não haverá espaço para atos violentos. Sim! Argumenta ele que a classe média vai preferir ficar em casa, a ver os jogos no sofá, com medo; e os grupos político-eleitoreiros serão pequenos diante do poderio militar que se verá nas ruas. Como se pode ver, um discurso democrata e republicano. Com um pé na velha Albânia.

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Por falar nisso, já começaram a chegar ao país jornalistas do mundo inteiro que vêm cobrir o evento. Chegam antes para ver o ambiente, registrar o que está acontecendo, mandar notícias pro mundo.

Com eles, começam a chegar às cidades-sede também as tropas que vão cuidar da segurança pública. Veículos, tanques, navios e aeronaves de guerra, armamentos pesados, zonas de exceção nas cidades, nos ares, nos mares... aparatos que impressionam. Ué, mas não é só uma Copa do Mundo de futebol, jogo de bola, um grande evento de entretenimento? Diria um amigo, vindo dos anos 1970, espantado: ‘ Como as coisas estão mudadas, bicho! Ou a ditadura num acabou ainda?’

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Quem anda respirando um pouco mais feliz com o alvoroço são os hoteleiros, empresários ligados ao turismo, projetando a chegada e estadia em Salvador, por exemplo, de cerca de 500 mil visitantes, entre profissionais e torcedores, no mês da Copa, boa parte de estrangeiros. Casa cheia ?

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A Arena Itaipava Fonte Nova, na Bahia, já está sob posse da FIFA, que vai trocar o nome da cerveja, o patrocínio é da Budweiser, americana e exclusiva no espaço. Algumas ruas que dão acesso ao estádio já estão interditadas. A dupla BaVi não tem campo pra jogar, vai pra Feira de Santana cumprir os compromissos que restam pelo Brasileirão. Pituaçu e Barradão também foram requisitados pela FIFA, como centros de treinamento. O gringo é exigente e ‘nóis entrega’ tudo. Não é gentileza, é submissão.

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- Uau! “Temos um gap de qualificação em idioma e vamos passar por problemas na Copa”, fraseou o secretário de Copa do governo da Bahia, o Ney Campelo, dos quadros do PCdoB. Gapeando, quis dizer que nosso receptivo tem dificuldades em se expressar idiomas, nossos serviços continuam precários. Mas, ora, Sir Ney, se não falamos sequer o português, a língua mater, com clareza, que dirá os ‘ingrêis’. Mais a gente vomo se intendê, bródi, nem se avexe.

PS:- Até agora ninguém sabe, em Salvador, onde acontecerá e qual será a programação do tal ‘fan fest’, que a FIFA acha obrigatório. Não apareceu um só patrocinador do evento festeiro. E O baiano se pergunta: quié, de mermo, esse tal fanfeste ?
 
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Os estádios do Itaquerão (SP), Mané Garrincha (Brasília), Arena Pantanal, Manaus, Paraná ... já funcionam, mas continuam em obras de acabamento, infraestrutura interna etc... Fora das arenas, nos arredores, haja tapumes para esconder os malfeitos e o que nem foi feito pais afora. Merde! Como dizem os franceses. 
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Enquanto as autoridades sustentam que nossos aeroportos estão em condições de receber bem, o de Manaus, esta semana, alagou com uma chuvarada, foram pingueiras, alagamentos e lama dentro e fora das instalações ‘novinhas’. Só lembrando, Salvador, Cuiabá e Viracopos têm obras paradas e inacabadas. Haja tapume! Vai na tora, padrão Brasil mesmo. Os de Fortaleza e Confins terão ‘terminais provisórios’, puxadinhos ou gambiarras, numa linguagem mais clara. Merde, aussi. 

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As preocupações maiores da FIFA, no entanto, concentram-se nas áreas da energia e das comunicações. Quase nada foi feito para garantir que não haverá apagões, tampouco para que se tenha facilidades e bom funcionamento de internet, telefones, tablets ... nos estádios. Nossa luz vagalumeia e nossa banda larga continua estreita e soluçante. Hic ! Vamo que vamo, a gente chega lá. Vexames. 

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Historiando

- A copa de 1966, na Inglaterra, tornou-se para os brasileiros o exemplo maior de como os governos de plantão não devem usar o futebol para ganhos políticos. Após o golpe de 1964, quando prometeram combater a corrupção, o comunismo e restaurar o regime democrático com eleições livres e diretas e as liberdades respeitadas, os militares, rachados nos quartéis, nada cumpriram de fato do que foi prometido, e buscavam apoio e reconciliação com o povo. 

Daí, eis que algum marqueteiro da época pensou em usar o futebol, as proximidades com a Copa para tirar proveito. Ora, o Brasil era bi-campeão mundial (195862) e três equipes brilhavam entre as melhores do planeta: o Santos de Pelé, o Botafogo de Garrincha e o Cruzeiro de Tostão. Sobravam craques. 

A idéia era mostrá-los ao país inteiro, exibi-los, tirando as costumeiras ‘lasquinhas eleitoreiras’ em favor da ARENA, o partido do regime que já tomava conta de tudo. Daí, convocaram 44 atletas para a formação do escrete, quatro times – o branco, o amarelo, o verde e o azul – que iam treinando e jogando entre si, dando exibições até as vésperas da competição, já na Europa.

 Pois, quando chegou a hora do ‘vamo vê’ não tínhamos uma equipe pronta, escalada. Só problemas. Garrincha estava no bagaço, Pelé com inchaço num dos joelhos,mais veteranos em fim de carreira – como Gilmar, Djalma Santos, Bellini, Orlando, Zito... -, já sem pernas para uma copa das mais viris da história. Ao lado deles, garotos como Tostão, Edu, Jairzinho, sem cancha ainda, em meio a uma total bagunça técnica, falta de planejamento, de união e de motivação. 

Resultado: fizemos um papelão. Ganhamos na estréia para a Bulgária (2 x 0) mas perdemos feio para a Hungria (sem Pelé), e fomos eliminados por Portugal (3 x1) com uma exibição de ouro do artilheiro Eusébio. Nesse jogo, sem Garrincha, Pelé foi caçado em campo e, joelho em frangalhos, apenas fazia número em campo. Foi um fiasco sem conta que, felizmente, nos serviu de ensinamento para a Copa de 1970, quando voltamos a brilhar.

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Em 1966, os garotos de Liverpool, os Beatles, brilhavam, e os ingleses, inventores do futebol, tinham uma das economias mais prósperas do planeta. No Brasil, a inflação beirava os 40%. Tempos da Jovem Guarda, com Roberto Carlos à frente cantando ‘Quero que vá tudo pro inferno’, e os festivais de música da Record revelando uma geração de talentos geniais, como Chico Buarque, Gil, Caetano, Elis, Milton Nascimento, e mais Jair Rodrigues defendendo ‘Disparada’, consagrada vencedora, a cara daquele momento do país, composição de Theo de Barros e Geraldo Vandré - ... ‘porque gado a gente marcatange, ferra, engorda e mata mas com gente é diferente’... 

No dia 25 de julho aconteceu o primeiro ato terrorista no país, uma bomba no aeroporto Guararapes, do Recife, matou duas pessoas e feriu outras 12. O alvo teria sido o candidato a presidente da República, o general Arthur da Costa e Silva que, em virtude de uma pane no seu avião, estava em João Pessoa. Em 3 de outubro, por via indireta, Costa e Silva foi ‘eleito’ Presidente com o voto de todos os 294 deputados e senadores. Tudo dominado. Radicalização e tempos conturbados viriam dali por diante. 

Você sabia?
- Foi na Copa da Inglaterra que se usou pela primeira vez os cartões amarelo e vermelho para punir os jogadores por faltas violentas e seguidas, na tentativa de facilitar o entendimento entre árbitros e jogadores. Os africanos, então discriminados pela FIFA, ficaram de fora da competição. 

- Os donos da casa venceram a Copa do ‘futebol força’ numa final contra a Alemanha ( 4 x 2) até hoje contestada, e decidida na prorrogação. Um dos gols marcados por Hurst (ele fez 3 ) a bola chocou-se no travessão, bateu no chão, fora da linha de gol , mas o bandeira, Sr Bakhramov, da União Soviética, viu, só ele, a bola ter batido dentro. Inglaterra sagrou-se campeã com um timaço que tinha o goleiro Banks, o zagueiro Bobby Moore, o ponta direita Ball, o armador Bobby Charlton e o avante Hurst como destaques. 

Quatro anos depois, no México, a história foi outra; foi a vez do futebol arte.