Turismo

LISBOA E SALVADOR COM SEUS BECOS E LADEIRAS DE QUEBRAR BUNDAS

Herdamos da capital portuguesa o gosto de colocar nomes populares em ruas, becos, travessas, largos e calçadas
Tasso Franco , da redação em Salvador | 26/01/2020 às 10:12
Laranjeira, em Lisboa
Foto: BJÁ
   O Bar do João na Travessa do Cotovelo vende sardinhas fritas produzidas pelo mineiro Custódio, em Lisboa. Há algo mais brasileiro e baiano do que essa narrativa! Impossível. 

  Salvador se parece demais com Lisboa, a cidade mãe. Pontevedra, na Espanha, é cidade irmã da capital baiana. Mas, a mamãe Lisboa com seus 135 becos e mais de 50 travessas, ruas e bairros muito parecidos com os da capital baiana não tem igual. 

   Salvador com seus mais de 400 assentamentos subnormais (invasões) deve ter mais de 500 becos, alguns deles sequer cadastrados pela Prefeitura, e agora surgiu até um Beco das Cores para fazer par ao Beco do Off da moçada alegre e colorida carnavalesca. 

   Existe até um livro editado pela UFBA, 2019, com o titulo "Entra em Beco, sai em Beco: Formas de Habitar em Salvador e Lisboa", de Urpi Montoya Uriarte, e uma música antiga "Madalena", de Gilberto Gil, que aborda esse tema: Entre em beco saia em beco/Há um recurso Madalena/Entra em beco sai em beco/Há uma santa com seu nome; Entra em beco sai em beco/Entre em beco saia em beco/Vai na próxima capela/E acende uma vela/Prá não passar fome.

   Só aqui na Barra, onde moro, existem três bairros: a Roça da Sabina, o Calabar e o Alto das Pombas que tem dezenas de becos e travessas: do Pilão sem Tampa, da Roça, da Sabina, Calabar, Cruzeiro, Bacelar, Brandão, Nossa Senhora de Fátima. 

   É uma confusão dos pecados, mas, há uma diferença entre beco, viela, travessa, rua, avenida, praça e largo. Beco (ou viela) é uma ruela pequena; travessa é um espaço maior que o povo também chama de avenida; rua é uma área mais ordenada e comprida; avenida é algo mais amplo quilométrica; e praça, largo e terreiro são a mesma coisa.

   Em Lisboa, as travessas, becos e ruas têm nomes bem populares: da Portuguesa, Laranjeira, Cegos, Bica Grande, Agulheiros, Menino Deus, Olarias, Pirralhas, Funil, Forno, Bolacha, Farinhas, Vidros, Abade, Oliveira e por aí segue.

   Salvador segue essa mesma linha com seus becos, ladeiras, ruas e travessas bem populares à moda lisboeta: Sapateiros, Cirilo, Bozó, Mijo, Dendê, Carvão, Mané, Tira Chapéu, Capitães, Bispo, Gostosas, Artistas, Quebranças, Mocotó, Mingau, Açougue, Tijolo, Coqueirinho, Lenha, Fogo, Queimadinho, Rainha e por aí vai uma lista imensa.
 
   Herdamos de Lisboa esse saber de colocar nomes bem populares em nossas ruas, travessas e becos. Andar pelo centro histórico de Lisboa, bem maior do que o de Salvador com suas ladeiras e becos é um prazer enorme e a cada passo, a cada esquina, surge uma área habitável onde não entram veiculos, salvo biciletas e motos e a população reside numa boa ainda que seja, sempre, um problema para os idosos devido as escadas, degraus e a dificuldade de abastecer suas casas de alimentos, de compras em feiras e supermercados. 

   Mas, sempre dá-se um jeito e há a ajuda de parentes e empresas que prestam esses serviços de levar remédios e comida em casas. Como em Savador, Lisboa são duas cidades diferenciadas e integradas por ladeiras e ascensores, a Baixa Pombalina e o Bairro Alto. Depois vamos comentar esse tema falando do Ascensor da Bica e da semelhança entre a capital portuguesa e a capital baiana, a mãe e a filha. (TF)