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Tasso Franco

CIRO TIRA POUCO PROVEITO ENTREVISTA NO JN COM LINGUAGEM ECONOMÊS

Candidato do PDT se apresentou como se estivesse falando para letrados
24/08/2022 às 14:23
   O candidato do PDT a presidência da República, Ciro Gomes, foi o segundo entrevistado pelos apresentadores do JN, William Bonner e Renata Vasconcelos, e desperdiçou o precioso tempo de 40 minutos falando para um grande público como se estivesse dando uma aula para estudantes de economia e pessoas da classe A letradas na linguagem do economês. Poderia ter usado termos mais simples, exemplos mais objetivos, frases mais curtas para chegar aos eleitores que não se enquadram nessas categorias e não conseguem entender essa linguagem.

  Ora, ao menos poderia ter imitado o lider histórico do seu partido, Leonel Brizola, que era mestre em tiradas populares e agradava aos leitores. Hoje, por posto, no meio popular diria que pouca gente ou ninguém está comentando a entrevista de Ciro, bem comportada, elegante, com dados substanciais e relevantes, porém, longe do entendimento popular. Até na fala sobre a fome com 33 milhões de brasis nesta situação - segundo dados da Oxfam Brasil - poderia ser mais enfático ou anotado uma frase que colasse nos ouvids do eleitorado.

  A entrevisa foi morna. Os apresentadores - um pouco mais enfáticos com Bolsonaro no dia anterior - estiverm na bancada burocratizados com perguntas longas e lidas, sem entusiasmo, ou sem que despertasse mais ânimo no entrevistado. 

  Assim, se passaram os 40 minuntos, sem que o telespectador se entusiasmasse com algo que Ciro tenha falado. Falar em desigualdades sociais entre os mais ricos e os pobres é chover no molhado. Se não conseguir uma frase de efeito passa batido. Isso já foi incorporado no imaginário popular e não desperta mais atenção ao saber dessa realidade, repetidas vezes, que uns poucos brasileiros são mais ricos do que milhões de brasis que vivem apertados ou na linha da pobreza.

   Na realidade, pobre adora rico e o sonho da maioria é também ser rico, tanto que as loterias quando os prêmios estão acumulados formam imensas filas. Esse, portanto, é um tema que não sensibiliza o eleitorado porque ele sabe que, qualquer que seja o governo, continuará no mesmo, entendendo que todos os políticos são demagogos e quando chegam no Palácio do Planalto se rendem aos banqueiros e a elite dominante. Isso é histórico e ninguém acredita que venha a mudar.

   Ciro errou ao dizer que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não propôs reformas no início do governo. Em abril de 2003, três meses após tomar posse, o petista enviou ao Congresso propostas de reformas previdenciária e tributária. A PEC 40/2003 alterava regras da aposentadoria de servidores públicos e a PEC 41/2003 propunha mudanças na tributação, como a simplificação da cobrança de ICMS (imposto sobre circulação de mercadorias e serviços) pelos estados. As duas medidas foram promulgadas em dezembro daquele ano.

   Quando a dívida de estados e municípios brasileiros com a União da ordem R$ 625,9 bilhões, conforme dados do Tesouro Nacional de abril de 2020, Ciro acertou. Mas, o eleitorado não leva em consideração esses dados porque sabe que ninguém paga e não mexe na vida dele.

  Ciro superestimou o crescimento da população brasileira ao fazer um paralelo com o desempenho da economia, que ficou estagnada na última década. Entre 2009 e 2021, informação mais recente disponível no sistema de estatísticas do IBGE, o Brasil passou de 191,4 milhões de habitantes para 213,3 milhões — um crescimento, portanto, de 21,9 milhões de pessoas, 5 milhões a menos de pessoas do que o citado pelo candidato. De qualquer maneira esse foi um dado relevante citado por ele e que poderia ter sido melhor explorado. Dado, aliás, pouco conhecido dos brasileiros.

  Errou também ao dizer que o Brasil tenha somente 11,6 mil policiais, como afirmou. Dado divulgado neste ano pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública estima em 480 mil o efetivo de policiais civis e militares na ativa em 2020, última contagem disponível. Há ainda 16.872 servidores em exercício na Polícia Federal, segundo o Portal da Transparência, e outros 13.854 na Polícia Rodoviária Federal.

  Em nossa opinião, Ciro teve uma excelente exposição no JN, mas não soube falar ao eleitorado de uma forma mais simples e compreensível. Salvo engano, nada ficou de sua entrevista que possa repercutir, hoje, no eleitorado popular. (TF)