Colunistas / Política
Tasso Franco

ASSESSORES IMPRENSA ABUSAM DOS CHAVÕES NAS CAMPANHAS

É a virada que está chegando
20/09/2012 às 19:06
Foto: DIEMER
Chavão clássico: "As pessoas sairam às ruas para cumprimentar o candidato"
   A maioria dos assessores de imprensa das campanhas politicas na Bahia confunde o que significa texto com informações jornalísticas e texto com conteúdo explícito de propaganda politica.

   Vai uma diferença enorme entre um e outro ainda que, no texto jornalístico, o lado crítico seja suprimido dando-se uma versão linear da atuação do candidato. Menos mal. Se for um texto que contenha dados reais é aproveitável. Se for um texto jornalístico com adjetivações próprias da panfletagem político-partidária aí não dá.
 
  Os assessores, há exceções, adoram usar chavões antigos do jornalismo e outros termos de ocasião, certamente entendendo que existem veículos "amigos" que "colam" releases e está tudo bem. E às vezes o fazem por exigência dos coordenadores das campanhas para não perder essa boquinha temporária, onde se ganha graúdo capilé.

   É comum a gente receber textos desses assessores afirmando com todas as letras que seu candidato será o vitorioso, que participou da "caminhada da vitória", "carreata da vitórria", "vai ganhar disparado", "vai dar uma surra de votos" mesmo muito antes da eleição, como se as urnas não falassem mais alto ou se não precissasse de eleições.

   Chavões, então, há um abuso em se dizer que, "apesar da chuva", "apesar do sol" e/ou "nem mesmo o frio intenso impediu o candidato..." isso dependendo de cada momento, sendo, sempre a caminhada ou o comício do candidato "um grande sucesso" e o povo "não arredou pé da praça".
 
   Ora, fazer campanha na chuva, no sol e no frio é a coisa mais comum que tem na Bahia porque se os candidatos não querem se submeter a esses movimentos da natureza num estado do tamanho da França, o melhor é ficar em casa.

   Outro chavão por demais usado diz respeito ao lugar onde o candidato se apresentou: "o salão foi pequeno para acomodar tanta gente que queria cumprimentar o candidato"; "o espaço foi pequeno para manifestações de apoio ao candidato"; "parte da multidão ficou na rua porque o local era pequeno para abrigar tanta gente no apoio a sicrano".  

   Caminhadas e carreatas, então, ganham cada adjetivação de impressionar: "foi uma carreata histórica, nunca se viu nada igual na cidade"; "foi uma caminhada de quilômetros"; "a carreata do bem percorreu dez bairros de nossa cidade"; "a carreata do candidato tinha 500 veiculos sendo que, só de motos foram mais de 250".

   E como os candidatos são "bem recebidos" nos bairros!: "o candidato foi objeto de carinho e motivação em todo percurso"; "as pessoas sairam, às ruas, à noite, só para cumprimentar o candidato"; "o candidato fez questão de cumprimentar a todos" 
; "a carreata da vitória foi muito bem recebida até nos distritos tal e qual...".

   Como os candidatos prometem muita coisa e depois de eleitos, via de regra, esquecem o que prometeram e abandonam o eleitorado, os assessores agora inventaram os seguintes termos para referendar suas propostas: "o candidato assumiu o compromisso"; "o candidato garantiu"; "o candidato assegurou durante o comício" tudo com a maior ênfase.

   E a quantidade de gente nos eventos? É cada coisa de arrepiar. Público de 100 pessoas vira "multidão" ou "gente a perder de vista tal a quantidade de pessoas no comício". Mais curioso é quando o release vem com a seguinte observação: "Segundo cálculos da PM foram 15 mil pessoas, 20 mil pessoas" e assim por diante, como se a PM tivesse feito algum tipo de cálculo.

   As declarações de populares nos eventos são ainda mais pitorescas: "Dona 
A...disse que conhece o candidato deste pequeno e ele sempre trabalhou pelo bairro"; "Sêo R...70 anos de idade, agricultor, destaca que o candidato sempre lutou pela agricultura familiar e por isso vai votar nele. Ele e toda a familia"; "A jovem E... vê em nosso candidato a pessoa certa para cuidar da juventude"; e por aí vai.

  Se fosse ficar escrevendo sobre essas adjetivações da politica daria um livro. Como nosso site nao comporta esse tipo de texto muito grande, vamos ficando por aqui. Bem, acabei de ser convidado para ir ao "comício da virada". (TF)