Colunistas / Política
Tasso Franco

A QUEDA DE FLORENCE NO CONTEXTO DA POLITICA BAIANA

Florence não pode ser o bode expiatório
10/03/2012 às 21:00


   1. A demissão do ministro do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence, PT, por baixo desempenho já era esperada. Há muito que se anuncia que Florence seria substituido no MDA, assim como também se fala sobre a ministra Luiza Bairros, da Igualdade, mas, a forma como foi processada surpreendeu segmentos da política baiana e até mesmo o próprio ministro, o qual já tinha agenda marcada para a próxima semana, em Maceió, onde entregaria retroescavadeiras a 31 municípios. 

   2. Com essa 12 mudança no seu Ministério, Dilma vai fechando a reforma ministerial e imprimindo o seu estilo de governar. Nada que o distancie de Lula no plano político, porém, no administrativo sim. Ademais, por mais que se diga que houve um entendimento com o governador Wagner para tal movimento, até porque a presidente não faria tal alteração sem consultá-lo, a saída de Florcence (e outros) enfraquece Wagner e amplia espaço da "República do Guaíba", do Rio Grande do Sul.

   3. O novo ministro deputado Pepe Vargas, também do PT, embora não seja da área é um parlamentar experiente e conhecido da presidente há anos. É também próximo ao presidente da Câmara, Marcos Maia (PT/RS), e um dos principais apoiadores de Jilmar Tato (PT/SP) para ser lider do PT. Portanto, trata-se de uma indicaçãoa que agrada a Maia e a Tato, ambos com problemas diante Dilma.

  4. Para completar o agrado petista na "República do Chimarrão", Pepe é da Democracia Socialista, mesmo corrente de Florence, tem boas relações com o governador Tarso Genro e para seu lugar assumirá a Câmara Paulo Ferreira, PT, o qual é marido da ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campelo. O PT, portanto, nada terá a reclamar. Pelo contrário, vai absorver a indicação numa boa.

  5. Quem poderia se queixar seria o governador Wagner. Mas, diante de suas relações políticas e pessoais com a presidente deverá acomodar a indicação de Pepe, ainda que possa ter uma compensação adiante. Florence, por sua vez, também deverá silenciar mesmo que algum parlamentar baiano da DS petista possa queixar-se nos bastidores, e elogiar o seu desempenho em público.

   6. Diz-se que a saída de Florence se deu por baixo desempenho na reforma agrária o que teria desagradado os movimentos sociais. Só após um ano de governo é que Dilma conseguiu fazer as primeiras desapropriações, com 60 fazendas em 13 estados atendendo apenas 2.737 famílias. Um ministro, no entanto, anda de acordo com os passos do governo e Florence não poderia ter um melhor desempenho, colocando o carro à frente dos bois.

   7. O governo, de uma forma geral, andou no primeiro ano Dilma dentro do limite da crise da "marolinha" que afetou o país, dos restos a pagar do governo Lula, do piso do freio na economia com PIB de 2.7%. Florence, portanto, fazia parte dessa engrenagem e não poderia se movimentar a PIB de 4%. Baixo desempenho também tiveram a saúde com nota 5.4 e o PAC com menos de 20% de sua aplicabilidade, entre outros.

  8. As justificativas para a demissão de Florence não colam quando se aufere por seu desempenho, competência (incompetência), e devem ser creditadas mais ao campo da política, ao fortalecimento de Dilma no RS e junto ao presidente da Câmara, onde anda se bicando, e a própria natureza do governador Wagner, o qual estoicamente acedeu aos apelos de Dilma ainda que perca em imagem como gestor.

  9. É certo que muitas vezes amigos sofrem mais do que outros nas configurações dos governos.
 
  6. A Bahia deu uma das mais expressivas votações a Dilma na eleição passada. E, evidente, se a presidente continuar tratando o estado dessa forma (sairam tb Sérgio Gabrielli, da Petrobrás; Haroldo Lima, ANP; e Mário Negromonte, Cidades) não tem prestígio do PT e do governador que faça ter votação semelhante, em 2014, caso seja candidata à reeleição. Todo estado gosta de ter compensações quanto faz a sua parte nas urnas.