Colunistas / Política
Tasso Franco

LÍDERES COMUNITÁRIOS ATROPELADOS PELA LEI ELEITORAL

Novas lideranças não surgirão nestas eleições
01/09/2010 às 22:08

Foto: BJÁ
Os kts-políticos estão fora do alcance financeiro da maioria dos pretendentes
Observadores da política nacional atestam que, a lei eleitoral em vigor no Brasil, prejudica as pessoas que estão interessadas em ingressar no mundo da política partidária, especialmente aquelas que já desenvolvem trabalhos comunitários, têm menor poder de barganha nos partidos, e, por isso mesmo, não conseguem disputar em condições de igualdade com os nomes que já habitam profissionalmente nesse segmento.

Instituiu-se uma espécie de ditadura legal onde quase tudo é proibido, beneficiando, sobremaneira, os nomes já conhecidos.

A luta que se travou na época da recente ditadura militar no país (1964/1984), em especial contra a Lei Falcão, onde só era permitido colocar o "santinho" na TV e dizer o número do candidato e o seu partido, abolida a partir da campanha de 1986, democraticamente aberta, agora, senão retroagiu à época "falconiana" veta aos menores, aos líderes que nascem nas comunidades, o direito de expor suas ideias numa festa do bairro, numa feijoada caseira, num bingo beneficente, porque aí se caracteriza poder econômico e o candidato está sujeito a perder a canche de concorrer ao pleito.

O espaço que a lei eleitoral confere aos candidatos, na TV, no rádio, na propaganda de rua e outras, tem enormes limitações porque o horário eleitoral nos veículos de comunicação de  massa é controlado pelos partidos, os custos da atual propaganda de rua são estratósféricos, e aquele pagode que o líder comunitário fazia, a camisa com seu nome, a feijoada organizada pelos amigos, o brinde de porta-título, o marcador de bíblia, a caneca do chope vendida a R$20,00 nada disso pode mais.

Como se esse tipo de ação pudesse representar a compra de consciências.

Até hoje tenho um porta-título de Ventura, um ex-vereador da capital, o qual nunca mais foi eleito. Tenho também um porta-cerveja de Benito Gama, de 1994 (A Bahia é Benito) para resfriar minha gelada dos domingos. E uma camisa da campanha de Pedro Irujo, prefeito de Salvador, de 1992. Nada disso era uma ofensa à democracia. Mas, hoje, nem pensar.

O advogado especialista em assessorar candidatos nas épocas de campanhas, Ademir Ismerim, profissional de longo curso nessa área, diz que a atual lei eleitoral "presta um desserviços à sociedade" porque contribui para manter os "feudos eleitorais".

Pensando bem é isso que está acontecendo na Bahia, em especial com os candidatos a deputados. Nomes novos são pouquissimos. E mesmo esses estão atreladas a estruturas familiares antigas na política. Aquele velho militante na porta-de-fábrica, da porta da UCSAL e da UFBA, das associações comuntiárias, dos clubes de serviços, desapareceu. Debates inexistem. Polêmicas, nenhuma.

Hoje, percebe-se uma transformação enorme desse pessoal que nasceu nessa luta disputando espaços no meio estudantil, nos bairros, nas fábricas, muitos deles com caminhonetes Hilux plotadas, carros de sons verdadeiros trios elétricos, imagens bem cuidadas na TV, o que para o candidato médio, aquele que vem da base comunitária, a situação é muito difícil. Só para se ter uma idéia rápida do que se passa, as produtoras estão cobrando R$30 mil por um vt de 30 segundos.

Então, Joãzinho da Baixa do Manu; ou Zequinha do Alto do Retiro mesmo que façam trabalhos comunitários permanentes em suas bases, ano após ano,  não têm as mínimas condições de chegar a Assembleia ou a Câmara dos Deputados. Nomes nascentes no "new" movimento estudantil como aconteceram a partir dos anos 1960/70 com muitos dos profissionais da política baiana, hoje, não existem. No sindicalismo, com grupos do amém e/ou vinculados a estruturas partidárias viciadas, zero em nomes.

Então, meus caros, ainda vamos ficar durante muitos anos ouvindo falar dessas mesmas pessoas que povoam a política baiana.