Colunistas / Política
Tasso Franco

DILMA ROUSSEFF E PEDRO IRUJO

Dilma tem que ser como ela é
05/05/2010 às 09:21
Leio em páginas amarelas de Veja entrevista com o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, na qual, revela que profissionais de marketing vão criar uma nova marca própria para a ex-ministra Dilma Rousseff, candidata do PT à presidência da República, que Lula será o "general eleitoral" de sua campanha e não há dúvidas de vitória do projeto Lula/Dilma nas próximas eleições. São citações otimistas de Dutra e fazem parte da função que ocupa.             Evidente que ainda há um longo caminho a ser percorrido, é provável até que Dilma vença o pleito, mas, por enquanto, Serra está à sua frente nas pesquisas, Marina Silva avança lentamente no circuito, e ainda é cedo para se falar em vencedores e vencidos. Agora, sobre a imagem de Dilma, concordo com Dutra quando diz que acha errado produzir uma "imagem artificial" da candidata, defendendo que "Dilma tem que ser ela mesma". Certíssimo.

            Vou contra uma história que aconteceu em Salvador na campanha de 1992 para prefeito. Junto com Cláudio Barreto, publicitário de longo-curso (trabalhávamos juntos desde a campanha de Waldir Pires, em 1986) produzimos a campanha de Pedro Irujo. Ora, Pedro é basco de origem, natural de Pamplona, chegou ao Brasil já adulto e nunca aprendeu português. Falava, e até hoje é assim, uma mistura de basco-espanhol e português. Além do que, matreiro, tinha momentos que nós achávamos que ele não estava entendendo nada do que falávamos, e ele estava entendendo tudo.

            No momento da campanha propriamente dita, na telinha, Sêo Pedro, como o chamávamos, tinha que expressar opiniões ancorando suas propostas para a cidade. Para nós era um complicador. No monitor, escrevíamos palavras terminadas em o com u, um s só em vez de dois (espanhol não tem s dobrado) e assim por diante. No decorrer do processo, com base política em Cajazeiras e apoio do vereador Geraldão, este bairro era uma mina de votos.

            O problema é que Pedro não acertava dizer Cajazeiras. Só falava "Caxaceiras", o que dava idéia de um bairro de cachaceiros. E daí? Daí que treinamos a morrer, mas, nada. Acontece que o bairro era importante para a campanha e lá se foi o "Caxaceiras" para o ar. Deu-se uma glosação enorme no meio político, na imprensa, mas, a vida como ela é. Ou melhor, Pedro como ele era. Pedro não venceu o pleito (quem ganhou foi Lídice da Mata), mas, manteve sua personalidade e o povo de Cajazeiras não se incomodou com isso e ainda lhe deu uma expressiva votação.

            Então, voltando a Dilma, o eleitor prefere essa autenticidade de Irujo (a expressão "caxaceiras" entrou para o folclore da política baiana e até hoje MK brinca com isso), a artificialidade. Tudo bem que se deve dar um banho de loja em Dilma, alinhar seus dentes, melhorar algumas de suas posturas estéticas, mas, Dilma tem que ser Dilma, e não LuDilma/LáDilma, ou coisa que seja. O "general" Lula terá o papel mais importante na campanha. Caberá a Dilma, no entanto, fazer a sua parte e convencer o eleitorado de que ela existe como personalidade política.