Colunistas / Política
Tasso Franco

A MARCHA DOS PREFEITOS E 2010

A marcha pode ser o marco inicial de oposição a Wagner, em 2010
24/04/2009 às 20:22
   A marcha dos prefeitos programada pela UPB para a próxima terça-feira, 28, e que poderia ser um ato de dimensões limitadas, ganhou uma proporção muito maior do que a esperada diante da postura de prefeitos do PT e da direção do Partido dos Trabalhadores, que a contestaram em termos de boicote, como se os governos do presidente Lula da Silva e do governador Jaques Wagner estivessem acima do bem e do mal, e não pudessem ser cobrados e confrontados.

   Essa, aliás, sempre foi a prática do PT ao longo da história, de ir às urnas, de protestar, de confrontar, de defender os interesses dos trabalhadores em suas reivindicações mais legítimas, até chegar ao poder. Ora, situado no topo do poder na República e na Bahia, não deveria admirar-se, pois, de um manifestação de prefeitos diante de propostas postas para amenizar a crise financeira dos municípios. 

    Mesmo que o presidente da República, Lula da Silva, já tenha acenado com compensações de R$1 bilhão e o governador Jaques Wagner recebido as reivindicações listadas pela UPB, mas, ainda não resolvidas, caberia ao PT, senão juntar-se à marcha dos prefeitos, admitir o protesto como legítimo e apoiá-lo na sua essência. Jamais emitir notas desqualificando políticos de oposição e/ou boicotando o evento.

    Essa postura do PT, (e é bom que se diga que o governador Wagner embora citado como patrono do boicote nunca emitiu sua opinião sobre a matéria) só fez reforçar a disposição em organizar de forma mais vigorosa a manifestação, alinhando num mesmo bloco PMDB, DEM, PSDB e segmentos do PR, PP, PDT, PTN e outros partidos, bloco que se estrutura como uma frente partidária, também, visando as eleições de 2010.

    O ministro Geddel Vieira Lima, da Integração Nacional e principal liderança do PMDB no Estado, não irá à marcha, pesssoalmente, diante da liturgia do cargo. Mas, já se colocou à disposição para levar as reivindicações dos prefeitos ao presidente Lula, apoia o movimento, considera-o legítimo, e vê similaridade com manifestações rotineiras de protestos no país, todas apoiadas pelo PT.

   O ex-governador Paulo Souto, principal líder dos Democratas, certamente também não irá pessoalmente à marcha, pois, não é prefeito. Mas apoia o movimento e está incentivando os prefeitos do DEM a participarem. Mesmo procedimento devem ter os três senadores da Bahia, João Durval (PDT), ACM Jr (DEM) e César Borges (PR) por não serem prefeitos, embora, apoiem a marcha e incentivem seus aliados a participarem.

    O prefeito João Henrique, PMDB, já disse que vai a marcha. E essa é uma participação importante, emblemática, primeiro por ser prefeito da capital; e depois por ser a segunda mais significativa liderança do PMDB no Estado. Além do que, João fala à imprensa sem papas na língua e já disse, na última Assembléia da UPB, que os governos do PT só privilegiam prefeitos do PT, e que a divisão do bolo tributário beneficia a União, depois os Estados, e, por último, os municípios. 

   Emerge desse episódio, ainda com dimensões imprevisíveis à imagem do governo Wagner, a figura política do prefeito de Bom Jesus da Lapa e presidente da UPB, Roberto Maia. Se a marcha obtiver uma dimensão nacional, e caminha nessa direção, Maia cresce na política baiana e projeta-se à Assembléia e/ou a Câmara Federal, além de reforçar a tese do PMDB ter candidato próprio a governador, em 2010.
 
   De qualquer modo, hoje, a marcha dos prefeitos da UPB já conseguiu agrupar num bloco suprapartidário, em defesa do municipalismo, bandeira que levou Lomanto Júnior à governador da Bahia, em 1962, as principais lideranças políticas de opopsição e/ou insatisfação ao governo Wagner. Poderá, portanto, ser um marco inicial na disputa eleitoral de 2010.