Colunistas / Política
Tasso Franco

A VELOCIDADE DA POBREZA E O DESAFIO DO PREFEITO

Salvador é uma das capitais mais pobres do Brasil e sem solução à vista
27/10/2008 às 20:21
A partir de hoje a cidade do Salvador tem um novo gestor para 2009/2012. João Henrique vai enfrentar um desafio enorme, intransponível, uma vez que ninguém será capaz de em 4 anos ou em 4 décadas resolver os principais problemas de Salvador e sua gente. São tantos, endêmicos, seculares, que, por mais que o novo prefeito se esforce, ainda assim, seu êxtio será bastante limitado.

Salvador é uma das capitais mais pobres do país. Tem a renda per-capita abaixo da linha da cintura e uma população, em sua maioria (estimada em 2.100.000 dos 3 milhões gerais) que se ampara nos guardas-chuvas dos governos municipal, estadual e federal. Se esses anteparos fossem fechados haveria uma revolução, uma guerra civil, conforme preconizada pelo então cardeal Brandão Vilela, quando tomou conta do rebanho católico da Bahia nos anos 1980.

Não se trata de nenhum exagero. O mundo contemporâneo G8, dos países mais ricos, se movimenta numa velocidade de cruzeiro, com exigência de escolaridade e em busca do saber competitivo impressionantes. O Brasil, integrante do BRIC, dos países emergente e em desenvolvimento ao lado da Rússia, China e Índia, se mexe numa velocidade um pouco abaixo, tentanto acompanhar as exigências dessa competição. Não é fácil porque Harvard não está em Feira de Santana e sim em Boston, Estados Unidos.

Ainda no Brasil, para situarmos o caso de Salvador, a região Nordeste (onde se encontra a capital baiana) é a mais pobre do país. Estamos, pois, em termos de IDH - Índice de Desenvolvimento Humano - abaixo das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste Norte. E, especificamente, na soterópolis, há dois segmentos sociais distintos, as classes A/B e as classes C/D/E que têm padrões de vida distintos e atuam, também, em velocidades diferenciadas. É aqui que está a questão crucial porque, por mais que as classes C/D/E se esforcem, mesmo amparadas nos guardas-chuvas governamentais, elas não conseguem se igular.

Há, portanto, uma massa enorme (2.100.000 pessoas) numa faixa de pobreza sem perspectiva a curto e médio prazos de modificar esse quadro e integrar uma densa classe média consumidora de bens e serviços essenciais à contemporaneidade. É claro que essa não é uma atribuição específica da Prefeitura, e sim de um conjunto de forças governamentais e da iniciativa privada.

Veja o caso do bolsa família muito comentado nessa última eleição com possibilidade de ampliar-se o amparo para 170 mil famílias, até 2012. Esse é um programa importante para acalentar uma faixa da pobreza mais dessassistida. Porém, a médio e longo prazos, não resulta em força produtiva de trabalho, em algo que possa gerar desenvolvimento e uma melhoria na qualidade de vida dessas pessoas. Daí que, tem que ser complementado com algo mais prático, mais efetivo, sob pena de que o Estado brasileiro passará a subsidiar uma massa pobre ad-infinitum, hoje, no país, algo em torno de 11 milhões de pessoas.

Outro exemplo: a Prefeitura, ultimamente, tem se orgulhado de ter incluido no currículo escolar aspectos da cultura ancestral da África, em função do enorme contingente de indo-euro-afro-descendentes, com matrilínea afro, existente na cidade do Salvador. E daí? Isso serve mesmo pra quê além de dar noções do africanismo? Pra nada. Se é pra se adotar uma política contemporânea para jovens em escolaridade que se inclua no currículo, com responsabilidade, o ensino de noções preliminares do inglês.

Assim caminha a humanidade. No país Basco, na Espanha, a molecada tem que aprender inglês a partir dos 4 anos. Na Índia, aos 6 anos. A região metropolitana de Nova Delhi, capital da Índia, tem o maior núcleo de call-center do mundo. Sabem porque? Por que todo esse enorme contingente fala para o mundo e com consumidores de todo mundo em inglês pela linguagem internacional do computador. Aqui temos um call-center do BB que vive-se o dilema de fechar.

Então, o novo prefeito tem que sair do círculo vicioso do bolsa família, do posto de saúde e da escola com ensino de baixa qualidade. Essa história de colocar o jovem pobre pra tocar tambor e praticar um esporte em quadras de bairros porque é melhor do que deixá-los com a possibilidade de experimentarem o mundo do crime das drogas é outra grande bobagem que se pratica em Salvador, salvo se considerarmos apenas o efeito lúdico e social.

A Vale, a Odebrecht, a Petrobrás, a Ford, a Dow-Chemical e tantas outras grandes empresa, as quais, são as impulsionadoras do progresso não contratam tocadores de tambores e especialistas em história da África. Daí que, mexer nesse eixo da cidade, do conhecimento, encurtando a velocidade e a distância entre a classe média e a pobreza é o grande desafio do novo administrador. Se não conseguir, na próxima eleição, em 2012, ao invés de 2.100.000 de pobres amparados nos guardas-chuvas governamentais teremos 2.500.000.