Colunistas / Política
Tasso Franco

PORQUE ACM NETO NÃO FOI AO SEGUNDO TURNO

Os votos de Imbassahy migraram para Pinheiro e não para Neto
09/10/2008 às 09:09
  Agora que a poeira baixou e os números são precisos sobre as eleições municipais em Salvador, pode-se afirmar com alguma certeza que o candidato ACM Neto, Democratas, não chegou ao segundo turno devido ao voto útil praticado de forma intensa na última semana (e no dia da votação) migrando de Imbassahy (PSDB) para Pinheiro (PT).

  Há muita gente escrevendo e falando sobre o assunto situando que isso não teria ocorrido porque Neto chegou ao limite dos votos "carlistas" na capital, em torno de 25%, esquecendo-se que nas campanhas de 1996 e 2000, Imbassahy foi eleito em primeiro turno por esses mesmos votos "carlistas" e outros, com um pouco mais de 50% dos válidos.

  Daí que há um certo "fundo de verdade" em relação a essa bolsa "carlista" dos votos, a partir de 2004, com César Borges, e agora com ACM Neto (26.6%), em 2008, lembrando, no entanto, que os cenários são diferentes e nesta eleição, na largada e até na fase intermediária (meados de agosto) disputavam com competitividade quato candidatos (Imbassahy (PSDB), Neto (DEM), Pinheiro (PT) e João (PMDB).

  No momento em que o marketing da campanha de João desmantelou a candidatura Imbassahy, sobretudo nos comparativos gestão x gestão, sem que o PSDB reagisse à altura mesmo com um rol de realizações invejável do seu candidato, e também desestabilizou o emocional de Pinheiro com os filmetes do "muda camisa" e "traidor", impedindo o seu crescimento e a tão sonhada e anunciada virada, João assumiu a ponta do processo e comandou a campanha.

  A partir de meados de setembro, diante da queda de Imbassahy (caindo de 24%/28% para 13%/14%) e Neto atingindo o teto previsível (26%/30%), o eleitor perdeu a esperança de eleger Imbassahy, e este eleitor começou a migrar para Pinheiro (em mais intensidade) e também para João (em menor intensidade). Não foi, como até se supunha, para Neto. 

  Já havíamos comentado neste site (vide artigo "Pesquisa Ibope e voto útil" de 7/8) sobre o voto útil ainda no primeiro turno uma vez que, seria praticamente impossível, quatro candidatos chegarem no final da eleição com indicadores assemelhados na base de 20% para cada um deles. Em todas as campanhas, e isso ocorreu também em SP, Rio, BH, etc, há um deslocamento no final da jornada de dois dos candidatos (ou no máximo três) que passam a ser preferenciais.

  Em Salvador, isso aconteceu com João e Pinheiro na reta de chegada (Neto estava estável desde 6/9), e os institutos de pesquisa apontaram vagamente essa tendência embora os três grandes - Vox, Ibope e DataFolha - erraram e feio, sobretudo o DataFolha e o Vox, no final, sem revelar a prática do voto último migrando de Imbassahy para Pinheiro, com o candidato do PSDB perdendo 5% dos votos (de 18% para 13%), quinze dias antes da eleição, e mais 5% no dia da eleição (de 13% para 8.36%).  

  No dia 4 de outubro, o Vox chegou a anunciar João com 19% dos votos (campo de 30/9); e Pinheiro com 23%. E o DataFolha, no dia da eleição (campo de 3/10), situou João com 31% e Pinheiro com 22%. O Ibope, malandramente, colocou os três candidatos com 26% de intenções e 29% de votos válidos, na sexta antes da eleição.

  Então, a rigor, não houve disputa ideologia, nem "carlismo" x "anti-carlismo" e coisas do gênero, nem muito menos derrapagem de ACM Neto ou bela performance de Pinheiro. O voto volátil que seria para Imbassahy (começou com 25% nas pesquisas e terminou com 8.36%) foi quem decidiu a parada. A ele, Pinheiro louve a Deus ter chegado ao segundo turno. A ele, ACM Neto, compadeça-se de não ter conseguido este lugar.

  E, também a esse eleitor de Imbassahy, João deve fazer suas preces evangélicas, pois, quem saiu com 15%/19% na inicial e alcançou 30.97%, com certeza, além do que conseguiu com sua eficente campanha de marketing, uma parte desse eleitorado que seria tucano de carteirinha votou nele.