Colunistas / Política
Tasso Franco

CHEGOU A HORA DOS "RUSSOS"

Tasso Franco é diretor do Bahia Já
09/06/2008 às 12:11

Agora que estão formatadas as principais chapas que disputarão as eleições majoritárias em Salvador, outubro próximo, Walter Pinheiro (PT) + Lídice da Mata (PSB); João Henrique (PMDB) + Edvaldo Brito (PTB); Antonio Imbassahy (PSDB) + Miguel Kertzman (PPS); ACM Neto (DEM) + Márcio Marinho (PR) está chegando a hora de conversar com os "russos", os eleitores, até então distantes das articulações de bastidores. Por enquanto,  os "russos" - como diria o magistral Mané Garrinha - ainda não foram consultados. 


            Vou lembrar a história aos leitores porque é um tanto quanto antiga e muita gente ou não se lembra ou não a conhece. Na década de 1950, o Brasil era um país de terceiro mundo, atrasado, como ainda acontece, hoje, apesar de enormes avanços que já aconteceram ao longo desses últimos 50 anos. Naquela época, Copa Mundial de Futebol na Suécia, 1958, a Rússia já estava na era dos satélites artificiais e havia lançado o Sputnik I (amigo em russo) com o objetivo de aperfeiçoar as transmissões via rádio, com uso dos nascentes sistemas computadorizados.

     
       O Brasil vinha do trauma da Copa de 1950 perdida contra o Uruguai, no Maracanã, e organizou uma excelente seleção entregando o seu comando ao bonachão Vicente Feola. A conversa antes da Copa era de que Rússia teria um time imbatível, com técnicas onde se utlizavam dados de computadores, tanto que esta seleçã passou a ser conhecida como a "máquina". E lá se foi o time do Brasil para Estocolmo com a garotada de brasis bons de bola.  


            No dia do jogo contra a Rússia o técnico Vicente Feola tentou colocar na cabeça de Garrincha um esquema tático, o qual, considerava mortal e que deveria ser usado pela primeira vez. No meio de campo - dizia Feola - Nilson Santos, Zito e Didi trocariam passes curtos para atrair a atenção dos russos... Vavá puxaria a marcação da defesa deles caindo para o lado esquerdo do campo... Depois da troca de passes no meio do campo, repentinamente a bola seria lançada por Nilton Santos nas costas do marcador de Garrincha.


         Garrincha venceria facilmente seu marcador na corrida e com a bola dominada iria até à área do adversário, sempre pela direita, e ao chegar à linha de fundo cruzaria a bola na direção da marca de pênalti; Mazzola viria de frente em grande velocidade já sabendo onde a bola seria lançada... e faria o gol!


          Garrincha com a camisa jogada no ombro, ouvia sem muito interesse a preleção, entre divertido e distraído, e em sua natural simplicidade perguntou ao técnico: "Tá legal, ‘seu' Feola!... Mas o senhor já combinou tudo isso com os russos?"


        Naquela dia 15 de junho de 1958 o Brasil venceu a timidez e derrotou o medo! Ganhamos por 2 a 0 da temível seleção russa, e apesar de toda a defesa deles saber que Garrincha, driblava sempre para a direita, ninguém conseguia segurar o homem. No final do jogo, dois jogadores russos (e juntos), foram driblados várias vezes por Garrincha, sem que o nosso "computador" tocasse na bola. No final, o Brasil sagrou-se campeão mundial de futebol pela primeira vez.

        
      Então, vejam só, Sêo Feola já entrou em campo para ajudar Pinheiro; Sêo Felipão para alavancar João Henrique; Sêo Dunga para dar um empurrãozinho em Neto; Sêo Parreira para dá pitcados a Imbassahy. Mas, a verdade é que ninguém ainda conversou com os "russos".

       Como entre os candidatos não há nenhum Garrincha (e observem que Garrinha só driblava pela direita e tem um grupo que insiste em driblar pela esquerda) os quatro candidatos preferenciais precisam iniciar as conversações com os "russos" uma vez que, conversas de bastidores ajudam muito e são até fundamentais, porém, o que vale mesmo são os votos nas urnas. E, esses tais votos, somente os "russos" os depositam nas urnas.

   
         Há sinais, entre os grupos em disputa das estratégias que estão sendo organizadas para a conquista dos "russos".

     Pinheiro armará seu time na ofensiva com Wagner fazendo o papel de Didi, Lídice o de Zagalo (jogando pela esquerda) e Lula o de Mazola. João Henrique terá o becão Geddel na função de Belini e vai, ele mesmo, atuar como Vavá tentando fazer os gols com base em sua performance administrativa. Neto é organizado à moda Zito, tem um quarto zagueiro respeitável, o professor Edvaldo Brito (De Sordi) e vai inovar nas jogadas (fazendo diferente). Imbassahy, por sua vez tem bom meio de campo Miguel no papel de Orlando e, ele próprio, também com base no recall de suas administrações (1997/2004) fazer os gols.

           

     Como visto, nenhum dos times tem um Garrincha e faltam-lhes um Pelé. Daí que, a conversa com os "russos" é de fundamental importância. Em Salvador, uma grande parcela desses "russos" ainda vive como na década de 1950, nos guetos, sem computadores, carentes e necessitando de afagos.


   Muitos ainda acham que o homem sequer pisou os pés na lua.