A trama se passa nos bastidores da sucessão papal após a morte do Papa e expõe as explora as intrigas e os jogos de poder no coração da Igreja Católica. Mas, nos pareceu (apesar da arte não ter limites) muito surreal a eleição de um papa sulamericano (intersexo de origem mexicana) que serviu no Afeganistação, Cabul, chega a eleição papal como um ilustre desconhecido e se torna papa.
Que há política, disputas internas acirradas na eleição papal, conspirações, etc, isso a história tem nos mostrado. E, creio, com base nesses fatos históricos, se a Igreja já elegeu papas que tiveram filhos, papas que morreram de repente, etc, o roteiro segundo pelo alemão Berger teria algum sentido na eleição de um papa masculino/feminino.
Desde o lançamento nos cinemas dos EUA em outubro passado, essa questão improvável tem gerado debate. A narrativa fílmica acompanha Thomas Lawrence, o reitor do Colégio Cardinalício, interpretado por Ralph Fiennes, o qual lida com as responsabilidades que se seguem à morte do papa.
O experiente e premiado ator britânico Ralph Fiennes tem uma interpretação brilhante, porém, não levou a estatueta Oscar de melhor ator provavelmente por sua atuação (creio) muito linear. Um personagem (cardeal) que atua bem na condução da eleição papal e pouco altera as expressões faciais e o tom de voz. Só eleva esse tom uma ou duas vezes, o que conferiu pouca dramaticidade ao personagem. E a Academia de Hollywood exige um pouco mais do que apenas a simples e boa interpretação.
O personagem Lawrence enfrenta disputas de poder, tentativas de fraude e divisões ideológicas dentro da Igreja e se apresenta (na interpretação) sereno, equilibrado, porém quando surge no enredo o cardeal sul-americano que retorna de uma missão no Afeganistão, desde esse momento, e a sua eleição após um discurso politizado, e ademais a descoberta de ser uma pessoa intersexo, nascida com características fisiológicas masculinas e femininas, nem a interpretação de Fiennes se torna empolgante; nem o final do filme.
Pelo contrário, o filme encerra com sinais de decepção, ainda que, como já dissemos acima, a arte é livre. Não comungamos com parte da imprensa norte-americana que condenou o filme. Ben Shapiro, chefe do canal de mídia conservador The Daily Wire, pediu a seus milhões de seguidores que boicotassem o filme antes mesmo de seu lançamento.
Entre os católicos, as respostas são mistas: o site de notícias National Catholic Reporter e a revista jesuíta America elogiam a qualidade estética do filme e consideram oportuna a exploração das mulheres no sacerdócio, dada a recente conclusão do Sínodo sobre a Sinodalidade.
Outros, no entanto, veem o final como uma provocação gratuita. Em entrevista a Catholic News Agency, o padre Carter Griffin, reitor do Seminário Saint John Paul II, de Washington, explicou como a conclusão do filme reflete um mal-entendido do sacerdócio.
Não vamos entrar nessas questões e observar o lado mais técnico do filme que é muito bem dirigido, fotografia belíssima, politicamente correto na exposição das intrigas e conchavos de uma eleição papal, figurino perfeito, personagens do grupo cardinalício bem assemelhados aos cardeais reais, a excelente interpretação da italiana Isabella Rosselini (filha de Ingrid Bergman e Roberto Rosselini) no papel da irmã Agnes (foi indicada como melhor atriz coadjuvante ao Oscar, mas não levou a estatueta - a vencedora nessa categoria foi Zoe Saldaña, por Emilia Pérez).
Enfim, é um filme que não deve ser boicotado. Pelo contrário. E que cada qual chegue a sua conclusão.