Colunistas / Literatura
Rosa de Lima

ROSA DE LIMA analisa novo livro Fernando Vita REPÚBLICA DOS MENTECAPOS

Lançamento em Salvador dia 12 de setembro na Livraria Saraiva, Salvador Shopping
22/08/2019 às 11:20
A cada novo livro que brinda os seus leitores, o escritor Fernando Vita apresenta um texto mais refinado e saboroso. A literatura nacional sai no lucro e os leitores se deliciam com a ficcional cidade de Todavia e seus personagens, sitio no interior da Bahia nas terras do Recôncavo banhadas pelo rio Onha onde habitam, desta feita, um prefeito amalucado e sua equipe de sábios e fiéis assessores, bajuladores e guardiões, o ex-governador ACM, ele mesmo, o 'velho', o próprio Vita e seus familiares mais próximos os pais Edivaldo e Zita, um monsenhor de missa e artes, um médico, uma primeira dama da tradicional familia baiana, a amante do alcaide, obviamente mais graciosa que a mulher efetiva, enfim, um mundo encantado posto em romance de primeira grandeza.

Publicado pela Geração Editorial, "República dos Mentecapos" (314 páginas, R$49,00, SP, 2019) com lançamento previsto para 12 de setembro, em Salvador, na Saraiva do Salvador Shopping, mas, já à venda nas livrarias, é "um retrato fiel da Bahia" - como diria Riachão - com seus personagens de uma Todavia imaginária, porém, real, pois à semelhança do que ainda ocorre em muitos municípios baianos com seus prefeitos abilolados e que desenvolvem projetos tão mirabolantes ou iguais aos que idealizou em sua cachola o alcaide AMB de Todavia, o qual sugeriu a ACM por inspiração de um inglês prensador de fumo e explorador de xibios das mucamas do Recôncavo transformar o Estado da Bahia numa República da Bahia.

República com tudo que tem direito constitucional com um Senado, uma Câmara dos Deputados, várias assembleias estaduais pois que Todavia e outros municípios passariam a ser estados, até mesmo a gloriosa Barrocas ou a longínqua Chorrochó, TCUs, TCEs, TCMs, Marinha, Exércio e Aeronáutca, para não falar de um Núncio Apóstólico e embaixadores de todo mundo. Proposta que foi levada a ACM pelo vivaldino alcaide fazendo com que o 'velho', politico experiente e que amava a Bahia acima de quaisquer coisas, ainda assim, achou a idéia tão estapafúrdia que imaginou, como correto estava em pensamento, que o 'prefeito' ficara maluco.

E, para tal, a fim de tirar dúvidas acerca dessa situação do cabeça de vento, doença da cuca, chamou as falas seu homem de confiança, um tal Fernando Vita, um 'comuna' que havia salvo do exílio na Rússia, perseguido e jurado da prisão pelos 'milicos' da ditatura, quiça ter seu fiofó maltratado num navio da República Soviética que o levaria a conhecer o ouro de Moscou, e colocado numa sinecura, num cabide de emprego em Todavia, o qual também conquistara a confiança do prefeito AMB.

Entre os sonhos do desmiolado AMB estava a intenção de ser uma cópia fiel de ACM, em gestos e atitudes políticas, sem saber ele ou sabendo e tentando se iludir que só ACM era capaz de determinadas artes e manhas na política e na vida comum aos mortais.

Isso posto em ordem e às falas no gabinete de ACM o 'comuca' relatou que o prefeito era de juizo bom, viajara a Europa por recomendação do ardiloso político baiano para tentar esquecer de um par de chifres que lhe colocara a amante, não um par sozinho e sim uma dezena de cornos, sendo provável que, embora Paris, Roma e Lisboa lhes tivessem feito um bem enorme, gozado do bom e do melhr em vinhos e passeios, não conseguira esquecer dos galhos e amadurecera a idéia de uma República Bahianense da era moderna, de tal forma que, ele, Sua. Exa. o alcaide, de fato, se apresentava com um parafuso a menos na cachola e somente um parecer médico, de um profissional do quilate de um Rubim de Pinho, pudesse aquilatar a realidade do que se passava na cabeça do possível desmiolado.

Parecer dado e juramento por um médico que havia servido em Todavia, fora colega de ACM na Faculdade de Medicina e agora gozava de merecido descanso e férias eternas em Cacha Pregos, tendo como porta recados o tal do Vita, personagem que se fosse mais jovem poderia figurar num cordel de Cuica de Santo Amaro, posto que sua imaginação e memória são férteis e arrebatadoras, o soba baiano decide que AMB, de certo, estava 'tam-tam', e, diante da realidade e da vida política pragmática deveria aposentar-se da Prefeitura de Todavia passando o bastão para sua esposa, a do cartório, a legitima, uma vez que era um mandatário que sempre honrou seus compromissos com ele em votos, e quem eternamente ganha não se muda radicalmente. 

Daí que, por delegação superior o tal do Vita seria candidato e eleito vereador, claro, com o apoio irrestrito de AMB uma vez que o assessor não tinha votos seus, e o alcaide nunca perdera uma eleição e tinha um filho abestalhado que não daria nem pra sacristão de capela, com o compromisso de que, adiante, o doutor Vita fosse o futuro prefeito de Todavia.

Olha! É um romance de 'orinar' de rir, de um sabor literário que coloca o escritor do Onha entre os notáveis da Bahia, mais ousado, mais admirado, com linguagem própria embora admita influências de Garcia Marques e José Saramago os leitores só têm a agradecer por admirável e criativo romance.

Quem leu "Cartas Anônimas" e o "Avião de Noé" ambos ambientados na sedutora Todavia, histórias fantásticas de uma inventor lunática e intrigas de amor e ódio colocadas embaixos das portas das residências todavianas, agora, terá em mãos a "República dos Mentecapos", não diria que seja o melhor dos três romances e sim um complemento que, pelo visto, ainda virão outros da inesgotável criatividade do autor e de sua Todavia, também. não a única na Bahia, como sabemos, uma terra que ainda tem muitos 'malucos' soltos por aí, alguns em cargos de gestão politica e administrativa.

Vita, por distinção a amigos usa uma técnica do realismo fantástico, onde se misturam a realidade e a ficção, recurso muito utilizado nos romances de Jorge Amado, citando alguns personagens que foram integrantes da história da Bahia política vivenciada e liderada por ACM, entre eles, Santos Cruz, Cleber Pacheco, Barbosa Romeo, Demostenes Teixeira, Fernando Barros, o garçom Gago, o piloto Peçanha, o cantor amigo do autor Edil Pacheco, jornalistas de alto coturno como Heliogábulo Pinto Coelho e Alberto Miranda, os boêmios das noites soteropolitanas Pastore e Jaime, o que deixa o livro ainda mais apetitoso.

"República dos Mentecapos" honra a briosa cidade de Todavia e desse seu ilustre filho, já assegurado, nas letras, futuro prefeito.