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Rosa de Lima

ROSA DE LIMA analisa "Jesus, o homem mais amado do mundo', de Alvarez

Rodrigo Alvarez é repórter da Rede Globo sediado em Paris
14/10/2018 às 10:40
 A literatura sobre Jesus Cristo é imensa. Certamente uma das mais vastas da humanidade a Ocidente e a Oriente, personagem dos mais pesquisados e polêmicos até os dias atuais, quer porque o cristianismo se expandiu por todo planeta; quer porque ainda é fonte de estudos e pesquisas, com mistérios há desvender. 

   Falamos de história com mais de 2000 anos e que, nos seus primórdios, prevalecia muito a oralidade e documentos primários sobre determinados fatos eram raríssimos, ainda que o Império Romano já tivesse estendido seus tentáculos até a Palestina.

   O jornalista Rodrigo Alvarez, autor de "Maria", de "Aparecida" e outros estudos sobre o cristianismo, vem frequentando a lista dos livros mais vendidos no país com sua obra "Jesus, o homem mais amado da história" (Editora Leya, R$35,00, 365 páginas e inúmeras ilustrações) que narra a trajetória do messias, o salvador, com base em pesquisas nos textos dos evengelhos e outros documentos oferencendo aos leitores detalhes sobre o homem que se tornou o santo dos santos e dividiu a história em antes e depois dele. 

   Não se trata de um livro religioso na acepção da palavra ainda que possa ser entendido assim. Alvarez relata-nos uma visão mais crítica sobre Jesus, o que não é exposto nos livros religiosos tradicionais.

   Faz um relato jornalístico desde os momentos de Jesus em batismo no Rio Jordão e suas pregações consideradas messiânicas nas montanhas da Galiléia até a sua crucificação por determinação de sacerdotes e ordem do Império Romano. 

   Alvarez pesquisou e viveu no ambiente em que Jesus habitou a terra e oferece aos leitores uma biografia a partir de fontes bibliográficas e arqueológicas mais atuais, "assim como as mais antigas que se tem notícia, com uma busca incessante pela informação em estado bruto, o mais livre possível dos interesses políticos e religiosos que manipularam a história em benefício dos vencedores".

   O que o autor quer expressar com esse enunciado é justamente mostrar que em "Jesus o homem mais amado da história" a narrativa é isenta dessas manipulações nem tem uma visão dogmática da Igreja Católica Apostólica Romana e o leitor é livre para fazer suas interpretações sem se apegar as "verdades" propagadas pela igreja de Roma. 

   Os fatos são apresentados com base nos documentos da história e Maria Madalena, por exemplo, é tratada como uma provável companheira de Jesus, depois de ter sido limpa de pecados.

   Segundo o autor, os evangelhos ainda farão uma ressalva triste dizendo que todas as mulheres que seguiram Jesus tinham, antes de encontrá-lo, alguma doença. Impuras? Entre elas, estará uma Susana de quem nunca mais ouviremos falar. Uma certa Joana, mulher de um funcionário público. E uma Maria que veio do vilarejo de Magdala, e que por isso é chamada de Madalena.

   Maria Madalena se tornou sua seguidora mais importante. Não fosse o machismo persistente seria merecedora do honrado título de apóstola, como de certa forma o fará o papa Francisco, ao reconhecê-la como apóstola dos apóstolos, diz o autor. 

   Mais tarde estudiosos defendem a tese de que Maria Madalena teria sido a mulher de Jesus inclusive beijando em sua boca e formando familia com ele. São esses detalhes que os leitores encontrarão no livro de Alvarez e que a igreja romana suprime de suas interpretações e textos.

   Naquela época e mundo palestino os adultos até mais jovens do que Jesus, que teria morrido aos 33 anos de idade ou aos 45 anos de idade, normalmente eram casados e/ou vivivam maritalmente com uma mulher e Jesus, antes de ser santo, título criado pela igreja depois de mais de 300 anos de sua morte e consolidação do cristianismo primitivo, foi homem como outro qualquer na Palestina.

   As impurezas das mulheres também eram uma situação normal da época pois a prostituição como forma de sobrevivência existiu em vários pontos da ocupação do Império Romando ou até mesmo antes dele. Com o IR isso foi ainda mais acentuado, assim como estupros e outros.

   O livro de Rodrigo Alvarez é emblemático e elucidativo para se entender um pouco mais sobre a vida de Jesus e os leitores são levados para o ambiente em que Jesus viveu, ainda que não se sabe quase nada sobre sua infância e inicio da juventude, toda narrativa com base em documentos. Excelente trabalho.