Política

COMO FUI 1º ASSESSOR DE IMPRENSA DE ROBERTO SANTOS NOMEADO GOVERNADOR

Memória do jornalismo da Bahia em texto do jornalista Tasso Franco
Tasso Franco , da redação em Salvador | 09/02/2021 às 20:17
Jornalista Tasso Franco, 75 anos, 53 de profissão
Foto: OG
    Fui o primeiro assessor de imprensa político do governador Roberto Santos indicado pela ditadura militar (1975/1979) nomeado pelo general Ernesto Geisel, em 1974. 

   Eu não o conhecia pessoalmente. Minha formação em jornalismo na UFBA foi entre 1968/1971 justamente quando Roberto foi reitor e implantou uma Reforma Universitária desentralizando cursos da Faculdade de Filosofia da UFBA, que era um foco de 'comunistas'. 

   O curso de jornalismo integrava essa FAFIUFBA (Nazaré) e mudou de 3 para 4 anos com a reforma passando a funcionar no Canela, integrado a Escola de Biblioteconomia (e Jornalismo) com a professora Stella Pita Leite, amiga de Roberto, diretora.

   Houve muitas reclamações dos estudantes, protestos, passeatas, invasões dos milicos na FAFIUFBA diante desta decisão de Roberto para atender os militares ele que era extremamente disciplinado.
  
   No período que estava nesta Escola (quase ao lado da reitoria) comecei a fazer uns trabalhos como estagiário da UFBA no Departamento de Documentação junto ao professor Valentin Calderon de La Vara, um espanhol amigo de Roberto. 

   Embora eu frequentasse esse departamento num subsolo da Reitora eu não tinha contato com Roberto. Foi ai que conheci Otto Jambeiro, jornalista, depois professor da UFBA, amigo de Roberto, e inicialmente cotado para ser o assessor de imprensa do governador nomeado. 

   A questão é que Otto estava sendo processado pela VI Região Militar (acompanhei uma das sessões de interrogatório de Otto cobrindo para a Tribuna da Bahia) e não podia ser o assessor de Roberto, um governador nomeado pelo tal do sistema militar.
   
   Foi ai que Otto me indicou para ser o assessor de Roberto no período de transição (entre a nomeação e a posse com uma eleição de senador e deputados no meio) e ao lado de Otto fui conhecer Roberto na 'Casa Amarela' (uma casa que ficava no corredor da Reitoria, no Canela, parte interna) e que serviu de base para os primeiros passos de Roberto na política. 
   
   O ex-reitor era extremamente discreto e não conhecia nada da 'velha política' baiana, praticamente comandada por Luis Viana Filho, primeiro governador da Bahia nomeado pela ditadutra, pelo marechal Castelo Branco, acadêmico, biógrafo de Castelo, chefe da Casa Civil. Substituiu Lomanto Jr. 

   Ou seja, um político experiente filho do ex-governador Luiz Vianna, final do século XIX. Nos bastidores da política do 'sistema militar' diz-se que a nomeação de Roberto deu-se graças a Luis Viana Filho, o qual se insurgiu contra as pretensões do então governador ACM, o segundo governador nomeado pela ditadura e que trabalhou para fazer seu sucessor.
   
   Roberto, no entanto, era uma unanimidade. Filho do ex-reitor Edgard Santos, integro, sem arestas políticas à direita e à esquerda, liso nas questões relacionadas a movimentos politizados de esquerda e dos comunistas, foi aceito e nomeado por Geisel. ACM teve que engolir a seco, mas operou muito depois para ser o sucessor de Roberto e conseguiu. 
   
   Meu trabalho era meticuloso, pisando em cristais, tudo certinho dentro do padrão de um governo militar. Roberto passou a dar algumas entrevistas políticas e eu ia dizendo a ele (com orientação também de Jambeiro, nos bastidores) o que deveria falar e não falar. 

   Estava novo no jornalismo. Formado em 1971 nunca tinha atuado nesse campo. Comecei no jornalismo de cidade (como a maioria dos repórteres daquela época) e depois promovido a chefe de reportagem da Tribuna. A Tribuna mudava muito seus quadros.
 
    Roberto era tão discreto que, quando desejava anunciar um novo secretário (ou secretários) me chamava e dizia: - Vá almoçar lá em casa que quero lhe contar uma coisa e preparar um curriculo para divulgação". 

   Roberto morava no Garcia numa ampla residência e lá eu ia comer o feijão do governador nomeado. Ele então me chamava num canto e dizia: - Aqui estão os dados de fulano de tal que vai ser o secretário de tal pasta. Ali tem uma máquina v prepara o curriculo e me entrega.
  
  Eu preparava o texto, dava um titulo e levava para o governador. Ele corrigia alguma coisa e aprovava. Aí eu convocava a imprensa e ele divulgava o nome.
  
   Na campanha para o Senado ele apoiando Luis Viana Filho percorremos uma boa parte do estado. Campanha chapa fria. Foi ai que Roberto foi teve contato com os políticos do interior, as velhas raposas, e foi se adaptando aos novos tempos (de reitor para governador).
   
   Quando chegou o momento de indicar o sub-secretário da Comunicação (ligado a Casa Civil) ele mandou Batista Neves (ex-diretor da FAFIUFBA), seu futuro chefe da Casa Civil, me avisar que o nome escolhido fora o de Isidro Otávio do Amaral Duarte.

   Eu achei normal porque não tinha experiência para assumir esse cargo. Quando ele assumiu o governo ainda fiquei seis meses na sub-secretaria e depois me afastei. Fui dirigir o Diário de Noticias - como editor chefe - numa aventura com David Raw, Isaias Raw e Carlos Alberto Simões (Beto). Mas essa é outra história. (TF)