Colunistas / Crônicas de Copacabana
Nara Franco

ANGELA RORÔ E CHICO CHICO

Nara Franco é jornalista
17/09/2023 às 09:07
   Rio de Janeiro continua lindo. Inverno de 36 graus, sol a pino na segunda. Na terça, vendaval e na quarta, 25 graus com chuva. A rinite que lute. Enquanto isso, na aula de Pilates, vou me certificando das novidades do glorioso bairro de Copacabana. A média de idade dos alunos é praticamente 50+. 

Papo vai e papo vem, fico sabendo que musculação hoje é parte essencial da vida da terceira idade. Tudo é combinado pelo whatsapp ou zap. Que netos são os maiores causadores de dores musculares e de coluna . Até o dia 26 de agosto, Alok foi o tema das aulas. Quem ia, quem não ia, quem ia com medo de ser assaltado, quem não ia justamente porque estava com medo de ser assaltado. 

Alok não cativa esse público. Era muito medo junto de uma vez só: medo de arrastão, medo de assalto, medo da chuva, medo de multidão. Um show proibitivo para a terceira idade. Só eu fui e passei umas duas aulas contando como foi.

Foi bem diferente. Primeiro, choveu e no Rio, qualquer chuva vira motivo para ninguém sair de casa. Podem cair três pingos e automaticamente todos os casacos de moleton saltam dos armários. Eu costumo ir a todos esses shows. Afinal, de graça até injeção na testa (como diz o ditado). Fui ver Caetano Veloso, lotado, cheio até a tampa, e o público tinha de um tudo: velho, novo, muito velho, criança, hippie, moderno, adolescente e terceira idade. Caetano Veloso, né? Também tinha muito ladrão e ninguém ligou para isso.

Fui ver Iza. Já foi um show de público mais seletivo, com muitas meninas pretas (lindas), abalando no puro funk carioca. Fui ver Liniker. Público moderníssimo e a terceira idade sem entender se Lineker é ele, ela, elo, L, G, B, T ou Q. Normal. Ninguém entende mesmo. Só sei que Liniker é uma excelente cantora.

Enquanto houver música de graça, teremos público. Como ando bem eclética ultimamente, vi Alok. Gostei, mas de fato a chuva atrapalhou. Um daqueles raros dias de frio na cidade. Quanto a shows, meu repertório está indo de Angelo Rorô a Chico Chico (filho da saudosa Cássia Eller). 

Minha surpresa no show da Rorô foi  - na verdade, foram - duas: estava cheio! Vendo a cantora, me lembrei que meu pai me levou a um show da Rorô lá pelos idos dos anos 80. Só recordo que ela bebeu uma garrafa de whisky durante o show. Naquela época, eu ainda adolescente ou pré-adolescente, sei lá, não prestei atenção na performance. Muito anos depois, lá fui eu ver Rorô sóbria, cabelos brancos, com quase a mesma voz (ainda canta horrores) e cheia de histórias loucas para contar.

Na platéia, de um tudo: jovem, velho, moderno, careta, muito careta, amigas da terceira idade naqueles grupos de seis ou oito. O bom da arte é que ela reúne tudo. De 0 a 100, uma boa música sempre agrada.

E se você vem ao Rio de Janeiro por esses dias, um bom programa é curtir o Teatro Rival (onde vi Angela Rorô). Sob o comando das atrizes Ângela Leal e sua filha Leandra Leal, o Rival tem 90 anos e é um local histórico da cidade. Fica na Cinelândia, Centro do Rio, tem ingressos acessíveis e uma programação das mais ecléticas possíveis. De Ângela Rorô a Tia Surica da Portela.

Depois do espetáculo, curta um chope no tradicional bar Amarelinho, um dos mais antigos da cidade e aprecie o Theatro Municipal iluminado à noite, sempre um espetáculo à parte.