Colunistas / Crônicas
Jolivaldo Freitas

Advogados do mensalão são uns anjos de bondade

Nunca em minha vida vi tantos bacharéis bonzinhos, dedicados, denodados e tão mãos abertas
13/05/2014 às 10:20
No filme Giovanni Improtta, a última película protagonizada por Zé Wilker, aparece um advogado tentando dar um golpe nos mafiosos bicheiros cariocas e é ameaçado. Ele diz não ter medo, porque – afirma peremptoriamente, que ”advogado é igual a bandido.

 Você mata um e aparecem outros piores”. Os contraventores caem na real e deixam o assunto seguir seu curso. Foi o que me lembrou reportagem publicada por um jornal paulistano, dando conta que os diretórios nacionais do PT e do PR contrataram com recursos públicos, provenientes do Fundo Partidário, os mesmos advogados que representam, na esfera privada, os condenados no julgamento do mensalão e réus acusados de corrupção após as investigações das operações Porto Seguro e Sanguessuga, da Polícia Federal.

Nem pisquei quando li o assunto, pois vindo desta galera mensaleira nada mais assusta, emociona ou é novidade. Acredite que, segundo a reportagem do Estadão, “os documentos das prestações de contas dos dois partidos em 2012 e 2013, apresentados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mostram repasses de até R$ 40 mil mensais para os escritórios, que atuam para clientes como ex-presidente do PT José Genoino e a ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo Rosemary Noronha. A Lei dos Partidos Políticos, que disciplina a aplicação dos recursos, não prevê a cobertura de gastos de natureza privada”.

Mas o interessante em tudo isso é a cara de pau dos advogados, que por suas condutas, podem até mesmo ter sido abduzidos pelos mensaleiros. Para mim eles incorporaram o espírito de corpo dos seus próprios clientes, que parecem mais serem seus mestres nas artes de tirar do público para colocar no privado.

Nunca vi advogado bonzinho (a não ser o meu, que todo dia digo que vou pagar os esparros em que o coloco e ele fica numa paciência sem limites, mas juro que um dia pago seus honorários). Os advogados mensaleiros – desculpem caros causídicos, quero dizer defensores dos mensaleiros petistas garantem, juram por Deus e pela mãe morta - explicam que foram remunerados pelo PT por serviços prestados exclusivamente ao partido. Sobre os serviços privados, dois disseram trabalhar de graça e um "a preços módicos" para os envolvidos nos processos. Advogados bonzinhos.

Diz a reportagem que no processo do PR, referente ao exercício de 2013, o jornal Estadão localizou três notas fiscais de R$ 42 mil cada, do escritório do criminalista Marcelo Luiz Ávila de Bessa - que defendeu o ex-presidente nacional da sigla Valdemar Costa Neto e o ex-deputado Carlos Alberto Rodrigues, o Bispo Rodrigues, no julgamento do mensalão. O PT 9ainda citando a matéria) admitiu que o dinheiro do Fundo Partidário foi usado para bancar as defesas de Valdemar e Bispo Rodrigues. Os dois estão presos em Brasília após serem condenados por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O ministro Marco Aurélio Mello diz que há no caso uma "impropriedade manifesta", pois recursos de origem pública não podem bancar despesas com honorários de processos criminais, de cunho "pessoal". A agdvogada de Genoíno disse que está dando cortesia. Advogado não dá boa tarde, imagine cortesia, diz meu amigo João nariz-de-quibe.
Segue a notícia dando conta que em 2013, o diretório nacional petista pagou ainda R$ 75 mil ao escritório de Márcio Luiz Silva, advogado de Brasília que atuou nas defesas dos ex-deputados Professor Luizinho e Paulo Rocha. O advogado disse que trabalhou para os dois políticos de graça. "Fiz isso em caráter de amizade, não teve cobrança", sustenta. Embora mantenha procuração nos autos do processo, observa o texto.

Nunca em minha vida vi tantos bacharéis bonzinhos, dedicados, denodados e tão mãos abertas. Santo Ivo, padroeiro dos advogados deve estar regozijando. E pasmo. Nunca que viu tantos anjos assim. Tão inocentes quanto seus clientes.