Colunistas / Crônicas
Jolivaldo Freitas

Médicos do Brasil: acabaram o charme e afeto

Um bom médico não deve se deixar pressionar para fazer as coisas pela metade. Médico não é Deus. Mas é proteção, confiança e solução.
03/05/2014 às 12:29
Vários amigos meus médicos vêm há alguns anos chamando minha atenção para alguns fatos na área da Medicina, episódios que os incomodam e que gostariam de verem resolvidos. 

A princípio eles se ressentem da quebra de confiança na relação paciente e médico, o que vem revelando o distanciamento da Medicina para com os seus doentes. Mas, na realidade, tudo não passa de consequência do estresse que a área da Medicina vem passando, sofrendo pressões de todos os lados. Dizem que a especialização tirou o charme e acabou com o afeto. Não tem mais a mão do médico para reconfortar. 

Os resultados impressos nos exames, nas ressonâncias, nas tomografias e no frios números dos laboratórios servem para ampliar o distanciamento. Médico virou empresário e paciente freguês. Embora existam ainda aguerridos médicos de família. Profissionais que fazem até a vezes de psicólogo, pai, mãe, irmão mais velho. Mas, isto tudo é considerado romantismo.

Aos médicos lhes foi dado a capacidade de curar, não de administrar. Em uma escola de administração quase nenhum administrador quer ser empresário, mas quase todos os médicos assim que finalizam a sua graduação tornam-se empresários. O médico sempre foi o único profissional que pode despir uma rainha ou colocar um rei de quatro para um exame, sem o risco de ir para a guilhotina.

Talvez por isso é que Deus sabe que não é médico, mas boa parte dos médicos pensa que é Deus: é ciumento, orgulhoso e autossuficiente. Com isso se prejudicam na hora de buscarem juntar esforços. Falta a consciência coorporativa e esquecem que perante a Receita Federal, são todos iguais.

Para ser um bom médico é preciso gostar de gente, gostar de trabalhar e gostar de estudar, e para exercer uma boa medicina é preciso saber colher uma boa história clínica, saber fazer um bom exame físico e saber interpretar os exames solicitados e pertinentes às queixas do paciente. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), para cada atendimento, o médico deve gerar em média três procedimentos, a exemplo é um “queimor” epigástrico com empachamento pós-prandial: exames de laboratório, uma ultrassonografia de abdome superior e uma endoscopia deveriam ser realizados, obviamente respaldado nos critérios clínicos.

Com o advento da informática há aproximadamente 30 anos, todo o mundo se transformou, porem o estilo de pensar do médico continua o mesmo. Os próprios médicos reconhecem que as entidades de classe, se transformaram em meros trampolins sócio-políticos para alguns que lá se instalam e tornam-se vitalícios até por omissão dos outros. As entidades de classe são casas dos médicos.

A classe médica vive um momento único. Quem da classe médica conhece algum colega desempregado? Existem, sim, subempregados e alguns que se deixam explorar. A maioria acha que tem de dar um basta nos que os exploram. 
Os médicos têm a plena consciência de que são poucos em relação a nossa população e que precisam de melhores condições de trabalho. Querem capacitação. A saúde deste pais, depende deles. Sabendo interpretar um ECG, um Rx do torax, exames de laboratório, realizar um parto e sabendo fazer pequenos e médios procedimentos cirúrgicos, assim o médico realizará um bom serviço e se dará bem em qualquer parte do território nacional. 

Os médicos terão que se desapegar da síndrome da Gabriela:"Eu nasci assim, me criei assim, eu sou mesmo assim....!” Tem de evoluir. Tem de agregar para lutar contra os males que afligem a classe. Meus amigos médicos que são conscientes se mostram preocupados com a máxima atual: Individualizar, estratificar e tratar o paciente e não a doença.

Um bom médico não deve se deixar pressionar para fazer as coisas pela metade. Médico não é Deus. Mas é proteção, confiança e solução.