A dialética erística é, na verdade, um acréscimo do sistema filosófico de Schopnehauer e em tese a arte de participar ou disputar (um debate) que se fique com a razão
Rosa de Lima , Salvador |
22/03/2025 às 10:30
Como vencer o debate sem precisa ter razão comum entre os progressistas atuais
Foto: BJÁ
A filosofia encanta – é o que dizem. E quando se trata de Arthur Schopenhauer, o filósofo do pessimismo encanta mais ainda. Esse alemão dizia que o corpo humano é o único objeto que o homem conhece verdadeiramente. Assim, o eu, o indivíduo interior não teria muito a ver com o psíquico inconsciente e se caracterizava pela vontade de viver.
É interessante observar que Schopenhauer (1788/1860) viveu antes do surgimento da psicologia como ciência e sua principal obra em livro é "O Mundo como Vontade e Representação" (1819), caracteriza o mundo fenomenal como o produto de uma cega, insaciável e maligna vontade metafísica.
Schopenhauer desenvolveu um sistema metafísico ateu e ético que tem sido descrito como uma manifestação exemplar de pessimismo filosófico. E há muitos seguidores dessa filosofia como inúmeros estudos e análises interpretativas não só no campo acadêmico em tese e graduações; como no campo literário.
Misantropo, pessimista, solitário, individualista e crítico ferrenho da sociedade, Schopenhauer considerava o amor apenas como vontade cega e irracional que todos os seres têm de se reproduzir, dando assim continuidade à vida. Estamos falando de uma época da Alemanha imperial. Foi o filósofo que introduziu o pensamento indiano e alguns dos conceitos budistas na metafísica alemã influenciado pela leitura dos Upanishads.
Vamos comentar o livro Arthur Schopenhauer “Como Vencer um Debate sem Precisar ter Razão” – em 38 estratagemas (Dialética Erística) introdução notas e comentários Olavo de Carvalho (Editora Topbooks, 252 páginas, tradução de Daniela Caldas e Olavo de Carvalho, 2003, Estante Virtual R$30,00) uma espécie de manual (o autor deixou a obra inconclusa e foi publicação póstuma de Julis Frauenstädt)) em que analisa os esquemas de argumentação muito usados na dialética, especialmente nos dias atuais, com argumentos falsos ou disfarçados dos verdadeiros, que muitos debatedores querem inculcar na cabeça das pessoas como os ideais ou únicos aceitáveis.
A dialética erística é, na verdade, um acréscimo do sistema filosófico de Schopnehauer e em tese a arte de participar ou disputar (um debate) que se fique com a razão com argumentos que contestam o alheio, o individuo sempre parecendo estar certo.
Então, para o leitor apreciar esse livro é preciso, antes de qualquer coisa, ter alguns conhecimentos do pensamento do autor, uma vez que a dialética erística (a dissimulação) só passou a ser objeto de contestações e debates, no século XX, quando Schopenhauer já tinha falecido. O tema é intricado,
Os estratagemas são descritos pelo filosofo são os seguintes para produzir a dissimulação e vencer um debate qualquer que seja: ampliação indevidas ou expansão, hormínimia sutil, mudança de modo, pré-silogismos, uso intencional de premissas falsas, petição de principio oculta, perguntas em desordem, encolerizar o adversário, perguntas em ordem alterada, pista falsa, salto indutivo, manipulação semântica, alternativa forçada, falsa proclamação de vitória, anulação do paradoxo, várias modalidades do argumento, distinção de emergência.
Uso intencional da mutatio, fuga do específico para o universal, uso da premissa falsa, preferir o argumento sofistico, falsas alegações de petitio principii, impelir o adversário ao exagero, falsas reductio ad absurdum, falsas instâncias, usar a raiva, desvio, incompetência irônica, rótulos odiosos, negação da teoria na prática, resposta ao meneio de esquiva, persuasão pela vontade, discurso incompreensível, tomar a prova pela tese, ofensas pessoas – 38 estratagemas.
O que o autor quis dizer com isso é que se um cidadão participar de um debate e utilizar esses estratagemas consegue vencê-lo sem, com isso ter razão. Esse é o titulo do livro e o âmago da questão. E o que se tem observado na contemporaneidade a Ocidente, nas universidades e nos círculos culturais mais proeminentes autointitulados de progressistas é que essa erística é utilizada com vigor e tenta-se impor pensamentos e ideias que são consideradas as politicamente corretas. E as demais são classificadas com conservadoras, atrasadas, fora do esquadro da modernidade e quanto não, no mínimo, fascistas.
Deixa-se os argumentos consciente e consequente de lado e prega-se uma vitória, difunde-se, semeia-se, quando muitas vezes (ou na maioria das vezes) é falsa.
Olavo de Carvalho sustenta na introdução que a “dialética erística é a arte de discutir, mais precisamente discutir a arte de venda, isto é: “per faz et per nefas” (por meios lícitos ou ilícitos).
E, na maioria das pessoas, à vaidade inata associa-se a verborragia e a uma inata deslealdade () o verdadeiro tem que parecer falso e o falso, verdadeiro”.
Segundo o filósofo brasileiro (Olavo faleceu, recentemente) “em regra geral aquele que entabula uma discussão não se bate pela verdade, mas por sua própria tese ‘pro aras et focis’ (no interesse próprio) e procede ‘per faz et per nefas’ e, não poderia fazê-lo de outra maneira”.
Schopenhauer analisa Aristóteles – um dos pais da dialética em conceitos – na perspectiva de seus próprios objetivos uma vez que a dialética aristotélica é, ao mesmo tempo, e inseparavelmente, exercício pedagógico, técnica da discussão e arte da investigação.
“Nesta última função, é, como disseram os escolásticos ‘logica inventionis’ (lógica da descoberta), ao passo que a analítica é a lógica da prova (daquilo que já foi descoberto () E precisamente por sua função investigativa que a dialética tem a dignidade de uma técnica filosófica e não se confunde com a erística a arte de vencer a discussão por meios lícitos ou ilícitos”, observa Olavo de Carvalho.
Carvalho faz, em seguida, a uma análise dos estratagemas dialéticos de Schopenhauer começando pela “ampliação indevida” o que significa levar a afirmação do adversário para além dos seus limites naturais, interpretá-lo de modo mais geral possível () pois quanto mais geral uma afirmação se torna, tanto mais ataques se pode dirigir a ela. Já em relação a homonímia sutil usa-se a técnica de torna a afirmação apresenta extensiva também àquilo que, fora a identidade do nome, pouco ou nada tem em comum com a coisa de que se trata, depois refutar com ênfase essa afirmação e dar a impressão de refutado a primeira.
Em resumo: a erística de Schopenhauer é um jogo de saberes e proposições bem articuladas, sempre dissimuladas com armadilhas com o objetivo central de vencer o debate sem precisar ter razão ou reduzir a dialética a um campo restrito de entendimento único, quando a dialética é uma argumentação que consiste em confrontar ideias opostas com o objetivo de encontrar (ou se aproximar) do verdadeiro, mas isso não significa que a outra parte foi vencida.