Cultura

CODORNAS FRITAS DO AREAL DE CIMA, MELHOR NÃO HÁ, DIZ DOM FRANQUITO

Um restaurante popular da vila gourmet do Largo 2 de Julho
Dom Franquito , Salvador | 24/03/2024 às 11:29
Codornas de cativeiro com salada e farofa
Foto: BJÁ
        Salvador está completando 475 anos de existência na sexta-feira da paixão de Cristo. Trata-se de uma data simbólica escolhida pelo IGHB e marca a chegada da esquadra de Thomé de Souza na enseada da Vila Velha do Pereira, atual Porto da Barra, em 29 de março de 1549.

     Óbvio que ainda não existia sequer a escolha do local onde seria fundada a fortaleza e Thomé de Souza, por sua vez e diante medida de segurança, só desembarcou da nau capitânea Nossa Senhora da Conceição, dia 31 de março, e a cidade só ganhou forma inicial com as primeiras edificações em 1º de novembro de 1549.

     Até hoje, a cidade tem algumas peculiaridades bem interessantes. O antigo Campo de São Pedro onde havia o Outeiro Grande oficialmente é o Largo 2 de Julho, mas, se popularizou como o Campo Grande. Já a Praça Inocêncio Galvão nas proximidades do antigo Caminho de Baixo da Vila Velha é o Largo 2 de Julho. Até os moradores do local falam assim: "Eu moro no 2 de Julho".

     E no entorno desse 2 de Julho tão popular onde se situa a Padaria Bola Verde, famosa por seus pães de coco, há uma espécie de vila gourmet no Mocaminho, Sodré, Forca, Areal de Cima, Areal de Baixo, Democrata e no largo que recebe, diariamente, centenas de clientes em seus bares e restaurantes populares.

     Então, se você passar pelo Beco do Mocambinho onde há uma feira livre e em tempos idos existiu a Boite Anjo Azul, e hoje, destaca-se o Restaurante Caxixi, não será surpresa se ver cervejeiros bebendo em pés de balcão e na rua. Faz parte da paisagem e bebe-se e saboreia-se tira-gostos ao lado de peixarias e armarinhos.

     E, eu, por conseguinte, desde que estreei no jornalismo profissional no final dos anos 1960 no Largo da Barroquinha e depois fui editor do DN onde hoje existe a sede da Caixa Cultural, na Gomes de Baixo, frequento esse circuito de longa data, em especial, o Porto Moreira, que fechou o ano passado. Mas, sigo indo em outros pontos e sou cliente da Bola Verde embora ainda não consegui ser cliente de caderneta, que paga no final do mês.

     Acredite: a Padaria Bola Verde ainda tem cliente de caderneta que compra pães fiado, a compra é anotada em livro, e só paga no final do mês.

     Ontem, flanando por esse território onde já moraram Rino Marconi e Mariluce Moura, esse italiano bom chef de cozinha e que preparava pratos deliciosos para nós, estive no "Point das Codornas", de Gilson Santos, o qual juntamente com a amiga e ex-Nilzete, há mais de dez anos servem o petisco que dá nome ao bar e restaurante cujo cardápido tem uma variedade enorme de pratos populares tipicos da Bahia, do mocotó a feijoada; do bife acebolado a galinha ao molho pardo, classificada como frango ao molho pardo.

     Gilson é incansável e funciona como RP, garçom, mediador de "conflitos" entre a cozinha e o balcão, organizador do salão e das mesas colocadas na rua, enfim, um faz de tudo para agradar os clientes. 

     Perguntei se ele, suado como estava, correndo de um lado para outro, ainda frequentava alguma academia de ginástica, e ele me disse que "há dois deixei, mas prometo voltar, mas aqui ando bastante".

     E, no balcão, intermediário entre a cozinha e o salão, cercads de quadros de São Jorge - Gilson é devoto do santo - fica dona Nilzete, a qual organiza as comandas, "parla" com os dois garçons e as cozinheiras, atua como meio de campo numa atividade frenética. 

     "Todo dia é essa a pisada" - diz Nilzete que tem um filho com Gilson - e são, hoje, amigos, "trabalhando de domingo a domingo, dia e noite, sem tempo para queixas".

     Pois é meus caros, o "Point das Codornas" que fica quase de testa com o São Vicente, também conhecido como Bar da Marli, Restaurante da Marli, tem dois ambientes, o primeiro no salão onde sobe-se uma escadinha e são acomodadas umas dez mesas, geladeiras, o balcão, a cozinha, sanitários e depósito de alimentos e bebidas; e o segundo na rua, no Areal de Cima. Não tem reserva: chegou sentou. Claro, se tiver lugar porque o "Point" anda sempre com bom público.

     E, em local popular, há de tudo, de torcedor do Vitória uniformizado a torcedor do Bahia, artistas de rua, atores e atrizes, jornalistas, advogados, comerciantes, gente do povo, senhores e senhoras apreciadoras da comida caseira, cervejeiros, jogadores de dominó, enfim, não é local intimista e sim agitado, pra causar.

     Agora, bom mesmo do "Point" são as comidas e os preços módicos. Onde você vai comer um figado ao molhor por R$25,00 e lamber os lábios de bom bebendo uma super gelada? E um mocotó pra 2 com pirão, livro e a zorra por R$69,00? E a feijoada para duas pessoas por R$65,00 fora o preço da pinga? 

     Como estava sem a presença da madame Bião de Jesus atarefada com afazeres do BahiaJá e no corre-corre da organização de papéis para declarações do Imposto de Renda, ela que é contabilista, solicitei o carro chefe da casa, as codornas fritas com farofa e salada vinagrete, bem passadas.

     Gilson avisou logo: - É uma excelente pedida as crocantes, cada qual com 200 gramas, e vão demorar um pouco devido a fila das comandas.

     Claro, se eu tivesse pedido uma feijoada ou o ensopado de boi, pratos que são feitos em maior escala, o serviço é quase imediado. As codornas demoraram algo em torno de 30 a 40 minutos para serem servidas e quando chegaram dei-me ao prazer de saborea-las como nos melhores salões da idade média, pegando-as com as mãos e retirando as partes com os dentes. 

     Vocês diriam que sou um bárbado da Hungria ou das terras geladas do Norte europeu. Nada. Bom baiano que come com as mãos e lança a farofa na boca com uma colher. Faz parte do show num restaurante popular.

     Assim é o "Point das Codorna" do Areal ou Bar do Gilson ou Restaurante de Dona Nilzete come-se à vontade, bebe-se à larga e ninguém reclama dos preços. 

     Há, uns chatos, que reclamam do pouco conforto, da falta de ar condicionado e de som ambiente. Mas, todo mundo sabe que, em restaurante popular, não tem nada disso, os quadros são naif de M Bastos, tem folhas de arruda num vaso, quadros de São Jorge, escudos do Vitória e ventiladores.

     O que vale é a muvuca, a comida, a prosa alta e as gargalhadas.
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     Point das Codornas
     Rua Areal de Cima, 227
     (Transversal do Largo 2 de Julho) 
     Salvador - Bahia
     Fone (71) 98175-6697
     Todos os dias da semana almoço e jantar
     Fica aberto até 23h
     Não faz delivery
     Estacionamento na rua e largo
     Codornas fritas (2)  R$40,00
     Não cobra 10%
     Classificação 2 DONS