Cultura

ESTILO MANUELINO É GRANDE DESTAQUE DA ARQUITETURA PORTUGUESA (TF)

Acompanhe as crônicas de TF no livro Lisboa como você nunca viu, a Pensão do Amor, no aplicativo literário wattpad
Tasso Franco , da redação em Salvador | 08/07/2020 às 07:48
Jerónimos
Foto: BJÁ
O jornalista Tasso Franco publicou nesta quarta-feira, 8, sua 31ª crônica no livro TF Lisboa como você nunca viu, a Pensão do Amor, no wattpad, sobre a arquiteutra manuelina. Veja abaixo a crônica e todas as demais no wattpad.

ESTILO MANUELINO É GRANDE DESTAQUE DA ARQUITETURA PORTUESA

 
Alguns leitores me perguntam o que significa estilo manuelino, provavelmente, o mais destacado da arquitetura portuguesa. E eu que moro na Bahia e estou acostumado a ver o prédio do Gabinete Português de Leitura na cidade do Salvador, Praça da Piedade, nesse modelo escultórico, também tinha curiosidade em saber um pouco mais sobre ele. 

Salvador da Bahia a primeira capital portuguesa no Brasil nunca se destacou por sua arquitetura colonial. Diferente da espanhola com seus balcões e salões, a portuguesa é acanhada, retilínea, e quem quiser só precisa ir ao bairro do Pelourinho para ver. 

 Depois que conheci o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém, em Lisboa, nos idos dos anos 1980, entendi um pouco mais o que significa estilo manuelino e passo isso aos meus leitores. Por esses sítios e outros voltei a andar em Lisboa, janeiro de 2020.

 Data do século XV, antes do rei Dom Dom Manuel I, donde vem o nome cunhado por Francisco Adolfo Varnhagem, em "Notícia Histórica e Descriptiva do Mosteiro de Belém, no século XIX, e ganhou repercussão na Europa quando dom Manuel decidiu erguer o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém, o primeiro um templo religioso; o outro uma edificação militar, uma olhando para a outra porque está às margens do Tejo, no Restelo, isso em 1502, após o retorno de Vasco da Gama, da Índia. As burras de Portugal se encheram de dinheiro e Dom Manuel não economizou em Jerónimos. É uma obra monumental que durou mais de 50 anos para ser concluída e hoje é o monumento mais visitado em Lisboa, por portugueses e estrangeiros.

A ascensão de Dom Manuel à condição de rei é curiosa. Diz-se que alguns governantes chegam ao topo do poder pelo acaso da vida e por sorte.

Teria sido o caso do duque de Beja, Manuel, primo e cunhado do rei Dom João II (1481/1495), chamado o príncipe "Perfeito", valente, audacioso, grande impulsionador das viagens marítimas pós seu avô Dom Henrique, o "Infante", nascido no Paço das Alcácovas (Castelo de São Jorge, 1481), lisboeta, pois, e que tinha como herdeiro seu filho Afonso.

Em 1491, Afonso caiu de um cavalo e morreu. O rei ficou possesso. Poderia ter sido um atentado. O rei tinha muitos inimigos, entre eles, provavelmente o mais perigoso, Dom Diogo, irmão de Dom Manuel, organizou um atentado para matá- lo à punhaladas durante uma visita a Setúbal..

O rei foi avisado e mudou de rota. Denunciaram Dom Diogo como articulador do plano. O rei então mandou chamá-lo a palácio para uma conversa amistosa e o matou a punhal. O próprio rei sacou um punha e matou o duque. Depois, avisou a sua esposa, Leonor de Avis, que era irmã do duque, haver mandado seu inimigo para o além. E mandou despachar para os Anéis de Saturno todos os outros conspiradores.

Sem herdeiro direto consaguíneo Dom João II ainda tentou fazer um filho bastardo rei. As cortes reagiram e antes de morrer ele indicou para sucedê-lo Dom Manuel. Sortudo.

Mais curiosidade: a descoberta do Congo, 1484, por Diogo Cão foi façanha registrada no governo de Dom João II; a ultrapassagem do Cabo da Boa Esperança, 1488, por Bartolomeu Dias; a organização da viagem do pai de Vasco da Gama, Estevão da Grama, a Índia, 1495, tudo dá-se no governo de Dom João II. A assinatura do Tratado de Tordesilhas, 1494, idem. Mas, o rei morreu, Estevão também morreu e Dom Manuel deu sequência as viagens marítimas, Vasco da Gama substitui o pai e chega à India.

Pelo menos aos olhos do mundo atual quem ficou com a fama de todo esse caldo de cultura foi Dom Manuel (o "Venturoso") que começou a governar 1495 e ficou até 1521, época do descobrimento do Brasil, sendo substituído pelo filho Dom João III, rei que mandou construir Salvador da Bahia.

Além de Jerónimos e de Belém (originalmente, Fortaleza de São Vicente) há, em Lisboa, obras grandiosas neste estilo manuelino no Convento da Madre de Deus, no Portal da Igreja Madalena, na Capela em Jeónimos (igreja de N.S. de Belém), no Hospital Real de Todos os Santos (destruído pelo terremoto de 1755). Há, ainda, vários outros templos e fortes em várias cidades de Portugal, no Marrocos, em Goa (India), Moçambique, México, Brasil e colônias outras.

O estilo manuelino é um gótico (final de safra na Europa) chamado de flamejante (flamboyant, em francês, decoração com labaredas de fogo) e escultural com ornatos mudejar (mistura do europeu com árabe) integrado nas correntes europeias. Ou seja, os arquitetos (Diogo de Boitaca, João de Castilho e outras) se espelharam do que já havia no gótico europeu (templo com cúpulas e naves altas que pareciam alcançar o céu) com esse toque escultórico que levou o nome de manuelino.

O gótico nasceu na França em meados do século XII para substituir o estilo dos templos romanos com grossas colunas, pesados, por uma arquitetura mais solta, arcos ogivais, luzes, vitrais, e que tinha uma relação com a igreja católica na construção de catedrais para atender uma fase religiosa pós-mosteiros com o crescimento das cidades.

Ou seja, a igreja expandia sua religião para grandes templos, da igreja triunfante, aproveitando o bom momento em que vivia a nobreza na Europa, a grande patrocinadora com seus mecenatos que surgiram no século XI, tirando a exclusividade dos monastérios e levando os cultos para lugares públicos.

Esse gótico teve três momentos: o primitivo (1130), o alto gótico (1200), o gótico pleno (1350) e o tardio (a partir de 1450). Com a chegada do renascimento italiano o gótico decai, mas, ressurge como neogótico, no século XVIII.

Por isso que o estilo manuelino se chama gótico tardio (depois de 1450), flamejante (chamas), mudejar (influência mourisca e elementos alusivos às navegações, ao mar, conchas, correntes, etc, e que, como aconteceu em outros lugares da Europa ultrapassou as catedrais. Jerónimos é um misto de mosteiro e catedral. São dois monumentos geminados, o mosteiro, o claustro, e igreja de Nossa Senhora de Belém com seus vitrais bem no estilo de alcançar os céus. Já a Torre de Belém é uma fortificação militar. 

O Convento da Madre Deus pertenceu a Ordem de Santa Clara e, hoje, abriga Museu Nacional da Azulejaria. Vide neste livro crônica específica sobre este museu. Foi mandado construir por Dona Leonor, a esposa de Dom João II, em 1509. Em 1550, Dom João III, mandou erguer a igreja da Madre Deus, conjunto integrado do atual Museu da Azulejaria. Quem visita o museu percorre essas duas áreas. As expos permanentes e temporárias e um local de restauro fica na parte do antigo mosteiro.

O Portal da Igreja Madalena na freguesia de Santa Maria Maior é da época do pai da Pátria, Afonso Henriques, de 1150/1164, tem uma longa história e sofreu alterações até chegar ao manuelino. O Hospital Geral de Todos os Santos conhecido como Hospital dos Pobres, erguido entre 1492/1504 (olha Dom João II ai) foi destruído completamente pelo terremoto de 1755. Hoje, no seu local, é a Praça da Figueira.

Evidente que todos têm importância. No entanto, Jerónimos, por sua grandiosidade, splendor, majestoso, monumental; e a Torre de Belém, por estar praticamente dentro d'água do Tejo são os mais representativos.