Antonio Martins é consultor empresarial
                            
                              
                                Antonio Martins                                , Salvador                                |
                                11/10/2019 às 10:45
                                
                             
              
                            
                               
                                Óleo da irmã Dulce no acervo do Memorial, Largo de Roma
                                Foto: BJÁ
                             
                  
                                "Um olhar de Santa". Trabalhei como estagiário na primeira expansão do hospital Santo Antônio, no Largo de Roma. Quem fez a obra foi a Odebrecht e eu trabalhava na ETCO Engenhara. 
   Foi uma obra impar porque o doutor Norberto (assim o chamávamos) ia quase que diariamente com seu Corcel I, ele próprio dirigindo, ver o andamento. 
   Quando ele chegava, todos ficavam tensos pelo que ele representava na engenharia. Ela, a nossa Santinha, ir todo dia pela manhã, e ai era um drama de tensão, não entendia porque e não tenho compreensão até hoje do que acontecia. 
   Ela, sempre de passos curtos, andava de cabeça baixa pela obra. Aquela corpo franzino, toda de branco, perambulando. Quando levantava e nos dirigia seu olhar ficávamos sem jeito, e ela, desde aquela época uma santa, baixava novamente seu olhar, calmamente, porque sabia o que ele causava. 
   Era brilho demais para nossa visão. Eu cheguei a chorar muitas vezes. Eu, na época, era do grupo de jovens da igreja da Graça que toda sexta distribuia sopa na Av. Sete e onde conheci Eliane, com quem me casei. 
   Lembro-me que só continuava fazendo nas sextas ou "perdendo minhas sextas" como me diziam alguns, por causa dela, a 'santinha' que tanto me inspirou. A obra acabou mas nunca mais fui o mesmo.  
   Não tive a oportunidade de vê-la pessoalmente novamente mas toda vez que lembro dela me vem lágrimas nos olhos porque relembro daquela luz dos seus olhos, que penetra e me faz pensar sobre como devo levar minha vida. 
   Nunca fui de ter uma devoção por santo, embora meu nome seja de um. Agora, a santinha baiana me faz rever minha própria história, não por moda mas pelo momento, porque eu vi, bem de perto, o próprio milagre que era ela. 
   Franzina, fraca, doente, de pouca conversa mas com seu olhar e sua luz construiu o improvável, uma obra gigante em tamanho pelos seus números mas muito mais pela devoção, pela fé, pela dedicação tão intensa que a energia gerada permite que sua obra viva até hoje e crescendo. 
   Esteja onde estiver, meu "muito obrigado" pelas lições que aprendi e outras que ainda nem cheguei a entender, pelo exemplo de tudo que falei pelas lições de empreendedorismo e de visão de futuro. O "lá vem ela", o meu desconforto, minha lágrimas e sobretudo sua luz, eu nunca esquecerei.