Cultura

CASO MARIELLE FRANCO: "Deu ruim" para Anitta nas Redes Sociais

Cantora levou imagem da favela ao mundo com seu clipe Vai Malandra
Nara Franco , Rio de Janeiro | 22/03/2018 às 18:39
Anitta e o comentário sobre a morte de Marielle
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A atriz americana Viola Davis, ganhadora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante em 2017 e protagonista da série "How to get away with murder", fez no Instagram uma homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada na última semana no Rio de Janeiro. 

Disse ela no texto: "Acabo de ler sobre essa mulher corajosa #MarielleFranco, que lutou pelos direitos dos pobres nas favelas. Estou lutando com vocês Brasil!! Viva Marielle e Anderson!!!". 

Acho que nem a própria Marielle imaginava que sua morte fosse causar tamanha comoção no mundo. Eu não fazia ideia. Culpa das Redes Sociais? Sim. A velocidade com que podemos obter informação sobre uma pessoa é impressionante. Basta meia dúzia de cliques para sabermos quem Marielle foi, o que fez e o que representa. E não vamos esquecer que o Brasil esteve na "moda" até pouco tempo. Não é de estranhar que, quase dois anos após a realização dos Jogos Olímpicos, o olhos do mundo ainda estejam por aqui. 

A declaração é surpreendente e muito bem vinda. Porém, ampliou a "treta" que está comendo solta nas Redes: e o posicionamento da classe artística brasileira?

Mais especificamente, a cantora carioca Anitta. Ela tem enfrentado dias ruins. Por ter explorado a temática da favela em seu último clipe, vem sofrendo enorme pressão para dizer o que pensa sobre o ocorrido. E, apesar dos clipes maravilhosos, do figurino deslumbrante, das inúmeras jogadas de marketing, Anitta vem sendo pessimamente mal assessorada quando o assunto é gente.

Parto do princípio que ninguém é obrigado a nada. Se não quer falar, não fala. Porém, neste caso, há uma dose de verdade. Anitta, de fato, colocou a favela no centro do mundo pop após o lançamento de "Vai malandra". Ela tem se utilizado dessa estética para conquistar fãs. Por outro lado, nunca foi uma artista engajada em causas sociais. Um pronunciamento seu, de fato, poderia soar oportunista.

Mas diante da pressão dos fãs, Anitta cedeu. A emenda saiu pior que o soneto. Fez um texto genérico, evasivo, dizendo que só falaria três meses após o acontecido. Três meses??? Se é para falar em junho, melhor esquecer. Em seguida, apagou o post. Do ponto de vista da comunicação, um desastre. Muitas vezes o artista precisa falar o que seu público quer ouvir. Mesmo que Anitta não se veja como uma representante da favela, tudo indica que seus fãs a enxergam desse jeito, alguém pobre, que conseguiu o sucesso e que deve olhar com carinho para quem ainda sofre com a pobreza. 

Esse "ruído" deixou Anitta em maus lençóis. Seu assessor bateu boca no Instagram com fãs que pediam uma palavra sobre Marielle, a pressão a respeito de um posicionamento só aumentou e a "treta", pelos menos nas redes, manchou a reputação da cantora. O debate que fica é até que ponto artistas devem usar sua exposição e influência para defender determinados pontos de vista. Em tempos de polarização e empoderamento, o comportamento e discurso de quem estão sempre na mídia é analisado com lupa. Os fãs não querem apenas uma boa voz, a melhor coreografia ou o figurino mais deslumbrante. Querem conteúdo. E nem sempre o artista está preparado para isso.

Ivete Sangalo não falou. Marília Mendonça sim. Simone e Simaria não falaram. Zélia Duncan sim. Quem está certo ou errado? Sinceramente, não sei.