Cultura

LIVRO E EXPOSIÇÃO comemoram 40 anos de fotografia de ARISTIDES ALVES

Galeria Darzé, dia 18
CP , Salvador | 11/04/2017 às 11:20
Aristides Alves
Foto: DIV
A fotografia roubava almas/almas eternizavam sonhos/sonhos enveredavam por portais em noites infinitas/à procura de palavras/palavras riscavam-se em céus/e penetravam a terra enraizando imagens/imagens contavam histórias/e inventavam sentidos.

Marcado por este texto de sua autoria, Aristides Alves faz 40 anos de fotografia. Para comemorar a data realiza lançamento do livro O Eixo de Oju, com cinco ensaios autorais que permearam a sua trajetória, sendo três inéditos, acompanhado de um prefácio de Diógenes Moura, escritor e curador de fotografia, e uma exposição com 40 trabalhos em p/b e cor, com dimensões variadas.

A abertura da exposição e o lançamento do livro será no dia 18 de abril, das 19 às 22 horas, permanecendo a mostra aberta ao público, até o dia 13 de maio, das 9 às 19 horas, na Paulo Darzé Galeria (Rua Chrysippo de Aguiar 8, Corredor da Vitória, CEP 40081.310 – Salvador – Bahia – Brasil, Tel.: (71) 3267.0930 Cel.: (71) 99918.6205–www.paulodarzegaleria.com.br    paulodarze@terra.com.br).

O livro

O primeiro dos ensaios é inspirado num conto Yorubá - uma ave desprezada por não possuir nenhum encantamento, encontra na floresta sagrada um velho abandonado e doente. Após sete dias alimentando e cuidando do ancião, ele se revela Obatalá, e, como agradecimento, pintando-a com Efun, transformando-a no animal mais importante do culto dos Orixás ETU, a galinha d’angola.

Com o título “Outros”, o segundo mostra as imagens realizadas no período entre 1994 a 2015, onde descontextualiza elementos e objetos do seu universo cultural associando-os ao corpo nu, criando uma nova estrutura visual - o corpo que se tem é a consistência da realidade. Este ensaio se revela um passeio pelo universo afro-baiano e influências adjacentes.

Ainda nos inéditos temos “Tríade”, seleção de fotografias realizadas nos últimos 10 anos, entre Belém do Pará e Sul da Bahia, o litoral e o sertão. Cada foto extrapola o contexto do ensaio de origem, ativa uma história e um espaço próprios que vão além do aparente. Cada conjunto propõe um patamar de reflexão.

Os outros dois ensaios apresentam um conjunto de imagens entre 1998 e 2016 influenciadas pela leitura do livro ‘A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen’, de Eugen Herrigel, e de uma oficina de fotografia feita com Paulo Leminski – ‘O Hai Kai e a Fotografia’. São pequenos recortes com as minúcias de luz/sombra, claro/escuro, figura/fundo, resultantes do trabalho na contemplação solitária de centros urbanos.

 
Apresentação: Diógenes Moura

OBATALÁ, EFUN, OSÙ E A GALINHA-D’ANGOLA. Um livro que começa com uma lenda. Um fotógrafo que olha para si mesmo quarenta anos depois da primeira imagem. Duas terras que se unem: Minas Gerais e Bahia. Uma onde ele nasceu; a outra onde vive quase desde sempre. Na de lá, as Gerais, montanhas como grandes bichos pré-históricos adormecidos ao pôr do sol, toda margem, ainda há. 

Na de cá, a Bahia de agora desde sempre, o Ojá do tempo sobre a cabeça. No livro o futuro do passado no presente contínuo. Aristides Alves vive assim, dentro de cada página, dos olhos para dentro. Como uma epígrafe, a galinha-d’angola vive para falar de coisas interiores, de florestas sagradas, do firmamento entre homens e animais. A lenda se repete em todas as esquinas, mesmo nas que são invisíveis, mesmo nos tempos do acaso. A lenda se repete, os homens e a natureza se repetem: estamos assim, todos à beira de um só euprecipício. O difícil é entender. O difícil é o retrato de cada um de nós. 

O fundo infinito, o livro aberto, o veredicto. O fotógrafo diante do “outro”: ou a verdade ou o suicídio. Pode ser um grito ou o extrato de um longo silêncio. Máscaras, peitos, penas, cona, estrela do mar, o andor na cabeça. Não se trata de apenas iluminar o outro com a luz perfeita. O verdadeiro retrato não deixa rastros nos transeuntes da cidade antes encantada cujas esquinas hoje gosmam. Nós estamos dentro. A bomba-relógio entre os dedos. Se barroco a greta sagrada: nem flora nem geme. Em Jesus Cristo, em Nossa Senhora, na mariposa, no couro emoldurado. Em cada símbolo o mesmo silêncio. 

O olhar se desloca no homem que passa, no manequim suspenso, na pintura que anoitece, mas não amanhece para conhecer o dia seguinte. E se não existisse a fotografia? E se não houvesse o barroco, as volutas descascadas, a retina dos Deuses? Mais adiante o mesmo percurso. O encontro com o “outro” homem que novamente somos nós. Ali com o seu tudo que é a riqueza da sua história. Idiotas são os que não veem. Nós somos assim, desse jeito: por trás daquela mulher, no chão daquele Rio Paraguaçu está assentado um fundamento. Isso basta. O rio é sagrado como a floresta é sagrada. Sim, as esquinas gosmam. A bomba-relógio vai explodir. Mas e daí? A galinha-d’angola continua diante de Obatalá.

Trajetória

         Aristides Alves nasceu em Belo Horizonte. Desde 1972 mora em Salvador, onde se formou em Jornalismo e Comunicação pela Universidade Federal da Bahia. Realizou a exposição coletiva Fotobahia (1978/1984); foi coordenador do Núcleo de Fotografia da Fundação Cultural do Estado da Bahia, produziu e editou o livro “A Fotografia na Bahia (1839/2006)”. Criou a primeira agência baiana de fotografia, a ASA, e foi correspondente da agência paulista de fotojornalismo F4. Ensina fotografia, trabalha com pesquisa, curadoria e montagem de exposições. Realizou diversas exposições individuais e participou de importantes coletivas no Brasil e no exterior. Tem 13 livros autorais publicados, dedicados à investigação da paisagem humana e natural do Brasil.

          O Eixo de Oju tem projeto editorial e fotografia: Aristides Alves; curadoria e texto: Diógenes Moura; projeto Gráfico e editoração: 2Designers; tratamento de imagens: Arte Digita; Revisão de texto: Dalila Pinheiro; e produção e coordenação: Asa Foto Ltda, com apoio da Fundação Cultural do Estado/Fundo de Cultura, Secretarias da Fazenda e de Cultura. .