Cultura

FRENESI foi hino da Axé com Ademar e Furta Cor -III p MAURICIO MATOS

No segundo semestre de 1986, Ademar e a banda ‘Furta Cor’ gravariam a música ‘Frenesi’ para a coletânea ‘Bahia, Carnaval e Cerveja’.
Mauricio Matos , Salvador | 02/02/2017 às 13:51
Ademar e a banda Furta Cor
Foto:
demar e banda “Furta Cor”
deixaram a música baiana em frenesi 
 
No domingo seguinte ao Carnaval de 1984, Ademar e a banda ‘Furta Cor’ levaram mais de 100 mil pessoas à praça Castro Alves para o desfile do bloco ‘Papa-Léguas’, campeão da folia momesca daquele ano. A agremiação acabou também se beneficiando do sucesso da ‘Ave Maria’, de Gounod, executada pelo grupo na madrugada da Quarta-feira de Cinzas.
 
Depois daquele Carnaval, Ademar e a ‘Furta Cor’ continuaram a fazer bailes, só que em quantidade infinitamente maior, inclusive com shows fora do estado, uma novidade para a época. “Após o sucesso da ‘Ave Maria’, passamos a nos apresentar em Minas Gerais, Espírito Santo, Sergipe, Pernambuco e Ceará”, disse o músico.
 
Na verdade, tratava-se do talento de Ademar e da sua banda superando a lógica comercial e, mais uma vez, quebrando padrões. Imagine você, uma banda que até então não tocava músicas autorais, só sucessos de outros artistas, e ainda assim fazia shows fora da Bahia. “Foi uma época boa, a gente levava dois meses sem ir em casa. Era show de terça a domingo”, relembra Ademar.
 
O ano de 1985 foi fundamental para o que hoje chamamos de ‘Axé Music’. O cantor e compositor Luiz Caldas – que, em breve, terá espaço nessa coluna – emplacara o sucesso ‘Fricote’ (Nega do Cabelo Duro) nas rádios de Salvador, fenômeno que se alastrou por todo território brasileiro. Era a primeira vez que a Bahia tinha um artista que cantava um tipo de música criada pelos baianos e que se consagrou nacionalmente sem precisar morar no eixo Rio-São Paulo. Foi um marco para cultura de nossa terra.
 
“Depois do estouro de Luiz Caldas, em 1985, o volume de dinheiro que circulava no mercado da música baiana aumentou em 1.000%”, relata Ademar, acrescentando que “na época, apareceram diversos empresários e produtores de olho nessa grana. Só que eles não estavam atrás de artistas, queriam produtos. Uma pena”.
 
Depois de quatro carnavais seguidos, de 1983 a 1986, Ademar e a ‘Furta Cor’ deixaram o ‘Papa-Léguas’, para fundar o bloco ‘Frenesi’ (um dos primeiros a desfilar na Barra), juntamente com o empresário Kleber Ramos. Mais tarde, o tempo mostraria que a parceria entre donos de blocos e artistas seria nociva para a música baiana, mas isso é uma outra história.  
 
Além do talento artístico, Ademar mostrou também aptidão para o empreendedorismo. Em 1986, fundou um bar, com o mesmo nome do bloco, que virou point de artistas, intelectuais e jornalistas. Localizado no Porto da Barra, o espaço foi o primeiro da capital baiana a contar com um karaokê. “Os cantores que vinham fazer shows em Salvador também acabavam dando uma esticadinha até o ‘Frenesi’. Lembro de uma canja da banda ‘Rádio Táxi’, que fechou a rua Barão de Itapoan devido à quantidade de gente”, recorda.
 
Poucas pessoas sabem, mas o primeiro grupo a tocar no Carnaval a música ‘Eva’ – que muitos, erroneamente, atribuem a autoria ao bloco ‘Eva’ – foi Ademar, com sua banda ‘Furta Cor’. A canção é do cantor italiano Umberto Tozzi e a versão em português é do grupo ‘Rádio Táxi’, que fez a gravação na década de 1980. “Como nunca deixamos de ser uma banda-baile, tocávamos de tudo no Carnaval, como ‘Uma Noite e Meia’ (Marina Lima), ‘Feliz’ (Gonzaguinha) e ‘Cálice’ (Chico Buarque/Gilberto Gil), e todas as canções no formato original. A ‘Furta Cor’ sempre andou na contramão”, ressalta.
 
No segundo semestre de 1986, Ademar e a banda ‘Furta Cor’ gravariam a música ‘Frenesi’ para a coletânea ‘Bahia, Carnaval e Cerveja’. A canção, que viria a se tornar um dos hinos da ‘Axé Music’, contava com a participação de Ricardo Chaves, na época tão somente um desconhecido cantor que acabara de sair da banda ‘Pinel’.

 Mais uma vez, Ademar quebrava paradigmas ao convidar um artista, ainda em começo de carreira, para dividir com ele os vocais e as apresentações do Carnaval de 1987.
        
Na próxima semana, o capítulo final.